Uma geopolítica sob o controle do Deus de Israel

Uma geopolítica sob o controle do Deus de Israel


Como não provocar espanto o fato de que o curso das nações muda repentinamente, cada vez que Israel encontra-se sob ameaça de destruição por parte de seus inimigos? Os planos, mesmo bem elaborados, fortalecidos por alianças e adjetivados como infalíveis, caem um após outro diante de uma força maior que altera imprevisivelmente as circunstâncias. Qualquer que seja esse poder, ele não parece respeitar os tribunais humanos e suas determinações, e sequer considera os interesses daqueles que têm pretendido aniquilar a nação santa. Além disso, não apenas subjuga poderes humanos, mas controla as forças da criação, usando-as conforme Sua vontade.

Assistimos, nos últimos dias, ao enfraquecimento do eixo ideológico que unia o Irã à Síria e ao Líbano, com o desmantelamento da política iraniana, através da queda de uma ditadura existente há cinco décadas, sustentada pela Rússia, nutriz do exército e do armamento que permitiu à família Assad uma vida de opulência e de desmandos, além da postura desafiadora diante de Israel. Crueldade e injustiça são agora testemunhadas, diante dos olhos horrorizados de todo o mundo, através da abertura dos portões de Sednaya, prisão desumana onde o ditador mandou torturar e matar qualquer um que discordasse do regime.

As implicações dessa mudança são muitas. Para a Turquia, começou o trânsito de imigrantes sírios, retornando à sua pátria. Cerca de 15 mil por dia atravessam as fronteiras, esperançosos de um recomeço na terra natal. O governo turco, que absorveu a massa humana, com um altíssimo custo assistencial, agora sofre o revés da saída dessa mão de obra barata. Outros países receberam sírios em seus territórios, mas é inegável que o maior preço foi pago pela Turquia, quer pela proximidade geográfica, quer pela cultural. Para os curdos em seu território, no entanto, inicia-se uma página cinzenta, uma vez que Assad lhes garantia alguma estabilidade. Os curdos fiéis ao antigo mandatário esperam, agora, padecer as consequências de sua adesão. O Catar, por sua vez, apenas contabiliza vantagens com a mudança. Agora, o projeto de construção do gasoduto que permitirá levar seu enorme estoque de gás natural para o mercado europeu – com necessidade de atravessar a Síria – não enfrentará mais a oposição russa. Perde o Hezbollah e, por consequência, perde o que pode ter restado do Hamas, mas ascende ao poder um grupo jihadista, igualmente com raízes na Al-Kaeda. Segurança de tempos melhores não há. Mas há esperança, onde não há segurança. Para as vítimas da perseguição política, a mínima esperança já lhes alenta as almas e talvez lhes dê forças para lutar por um governo mais justo e por tempos de prosperidade para todos. Se o mesmo convencimento alcançar o coração do Líbano, a destruída nação haverá de se levantar para reconstruir suas terras, cujos moradores pagaram altíssimo preço por abrigarem o Hezbollah e outras militâncias terroristas. Para os beligerantes, o sonho de destruir Israel revelou-se em autodestruição. Diante deles, fica a oportunidade de um recomeço pacífico.

Com o desmantelamento do eixo ideológico no território próximo, outras forças e alianças vão se formando. O mega projeto chinês de restauração da antiga rota da seda seque seu curso, nas três principais frentes escolhidas. Isso porque se, no passado, a rota da seda era um caminho terrestre, hoje alcança as dimensões terrestre, marítima e virtual, pela instalação de uma rede de comunicação mundial com a pretensão de destituir os EUA em sua influência na área, desejo visto com desconfiança não apenas pelos americanos, mas por boa parte das nações europeias, pois não há segurança quanto ao uso ético das informações passadas por uma rede sob o domínio chinês. Por terra, o gigante vermelho tem procurado aproveitar das malhas ferroviárias já existentes nos países, oferecendo a infraestrutura necessária para interligar os polos, além de modernizá-los e adaptá-los (o que envolve uma logística bastante complexa, uma vez que a bitola dos trilhos das ferrovias não segue um padrão único, exigindo a construção dos chamados portos secos, estações onde ocorre a transferência das cargas transportadas de uns para outros trens). Países pouco desenvolvidos beneficiam-se, num primeiro momento, de toda a oferta chinesa, mas endividam-se nessa negociação cujos termos variam, segundo as políticas externas de cada país, mas deixam clara a necessidade de pagar, a médio e longo prazo, todo o custo do investimento feito em seu território. O avanço da nova rota da seda tem chegado ao Egito, em especial ao canal de Suez. Estamos tratando de um território muito próximo do pequenino Estado de Israel.

Enquanto a antiga rota da seda transforma-se em algo mais parecido com os tentáculos de um polvo, alguns alegram-se com a vitória de Trump, nos EUA, depositando nele esperanças de mudança nas decisões internacionais. Mas, por hora, seus projetos estão ocultos e sempre permanece um temor residual pela possibilidade de atitudes intempestivas que possam colocar em risco equilíbrios em construção como, por exemplo, a caminhada de Israel com a Arábia Saudita, com os Emirados Árabes e com a Jordânia. Abalos sutis em áreas aparentemente distantes podem derrubar anos de negociações e convivências delicadas.

No Brasil, precisaremos refazer os cacos daquilo que foi destruído nas Relações Internacionais, sobretudo quanto ao papel que historicamente ocupamos como amigos de Israel e do povo judeu. Por outro lado, uma revisão quanto ao projeto chinês parece já estar em curso, muito embora as inúmeras propostas prossigam, seja da parte de empresas, seja por parte do governo chinês propriamente dito. Mas, uma reflexão mais atenta quanto às consequências das alianças firmadas ousa nascer no horizonte. Mudanças políticas podem refletir sabedoria, temor ou mesmo pressão de algum agente externo, no caso, dos EUA, e não necessariamente refletem fraqueza ou perda de soberania, mas uma análise mais aprofundada de todas as variáveis envolvidas no empreendimento.

Dentro do costume de chamar o quadro geopolítico mundial de tabuleiro das nações, vivemos a sensação de que alguém sacudiu fortemente as peças, como se um vento forte houvesse soprado, alterando o quadro anterior, apresentando soluções antes impossíveis, oferecendo outras alternativas, sugerindo novos desafios e, sobretudo, fazendo conhecer, mais uma vez, a verdade de que a História não está, definitivamente, nas mãos dos homens. Nesse tempo de tantas mudanças, oremos para que, independentemente da distribuição das peças, o Evangelho prossiga sendo pregado, em autoridade e amor, por todas as nações.

por Sara Alice Cavalcanti

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