Supremacia de Cristo e mundo plural

Supremacia de Cristo e mundo plural


Vivemos em um mundo plural, repleto de diversas crenças e ideologias, onde a supremacia de Cristo é frequentemente desafiada, especialmente quando afirmamos a exclusividade da salvação em Jesus. Conscientes de que habitamos um mundo na qual as pessoas possuem liberdade de escolha, inclusive religiosa, é essencial que nosso testemunho e defesa da fé sejam marcados por uma apologética que combine firmeza na verdade com piedade e respeito, refletindo o amor e a graça de Cristo.

A doutrina da supremacia de Cristo afirma que Jesus Cristo é preeminente sobre toda a criação e tem autoridade absoluta sobre todas as coisas no céu e na terra. Ela destaca que Cristo não é apenas um ser elevado ou uma figura importante, mas que Ele é supremo em Sua divindade, Sua obra de redenção, e em Seu governo sobre todas as coisas. Jesus não é mais um no grande panteão de deuses criados pelo homem. Ele é o Filho Unigênito de Deus (João 3.16), o primogênito de toda Criação (Colossenses 1.15), o Caminho, a Verdade e a Vida (João 14.6), o único mediador entre Deus e o homem (1 Timóteo 2.5). Na epístola aos Hebreus, o escritor também evoca a superioridade de Cristo (Hebreus. 1.1-4). A supremacia de Cristo é tão evidente que no capítulo dois de Hebreus Ele é apontado como sendo superior aos anjos, no capítulo três é superior a Moisés e no capítulo cinco é superior aos sumos sacerdotes do antigo pacto.

Na Carta de Paulo aos Colossenses, primeiramente identificamos a supremacia de Cristo na criação (Colossenses 1.15-17). O Senhor Jesus é descrito como a imagem visível do Deus invisível, revelando plenamente o caráter e a natureza de Deus. O termo “primogênito de toda a criação” deve ser entendido teologicamente como uma referência à supremacia e preeminência de Cristo, e não como uma indicação de que Ele é um ser criado. Cristo é o Criador e Sustentador de todas as coisas; tudo foi criado por Ele e para Ele, colocando-O no centro e como propósito da criação. A passagem também evoca a Sua superioridade e exclusividade na Redenção (Colossenses 1.18-20). Cristo é a cabeça da Igreja, governando e guiando-a com autoridade. Ele é o “primogênito dentre os mortos,” o que indica Sua ressurreição definitiva e vitória sobre a morte e o pecado. A plenitude de Deus habita em Cristo, tornando-O completamente suficiente para a salvação. A obra de Cristo na cruz é suficiente para reconciliar todas as coisas (Colossenses 1.20).

Jesus tinha total convicção de Sua autoridade. Ele disse: “Eu e o Pai somos um” (João 10.30). E depois da Sua ressurreição dos mortos, afirmou: “É-me dado todo o poder no céu e na terra” (Mateus 28.18). Cristo não se considerava um simples sábio, um mero homem de moral elevada ou somente um profeta. Ele sabia que era o filho unigênito de Deus, enviado com o propósito de proporcionar redenção ao homem. A forma como Jesus se identificava serve como parâmetro fundamental no modo como as pessoas o veem. C. S. Lewis dizia que é uma tolice as pessoas afirmarem: “Estou disposto a aceitar Jesus como um grande mestre da moral, mas não aceito a sua afirmação de ser Deus”. Afinal, um homem que fosse um homem e dissesse as coisas que Jesus disse não seria um grande mestre da moral, mas sim um lunático ou coisa pior. Ou esse homem era, e é, o Filho de Deus, ou não passa de um louco, pois Ele nunca nos deixou a opção de considerá-lO como simples mestre humano. Lewis também observa que parece ser óbvio que Jesus não era lunático, muito menos um demônio. Por isso, precisamos reconhecer que Ele era, e é Deus.

Erwin Lutzer nos aconselha a esquadrinhar os horizontes religiosos, lendo a vida dos grandes mestres religiosos de todos os tempos; não apenas o que ensinaram, mas também o que disseram acerca deles mesmos. Ao buscar um Salvador qualificado e sem pecado você descobrirá que Cristo não tem rival: “Se houvesse outro que reivindicasse inculpabilidade, teríamos prazer em checar suas credenciais pra ver como elas se comparam com as de Cristo. Mencione a exigência de inocência e o campo religioso se define; só um homem permanece. Cristo vive de acordo com seu nome!”. (1)

Diante da crença na supremacia de Cristo, os cristãos são chamados a viver em um mundo diverso, onde múltiplas religiões e ideologias frequentemente contrastam com a fé cristã. A grande questão é: como viver de maneira fiel a Cristo em uma sociedade marcada por tais diferenças?

Geralmente, surgem duas posturas extremas em resposta a essa questão: a imposição do Evangelho e o relativismo. Ambos os extremos falham em refletir o equilíbrio bíblico e a essência do testemunho cristão. A postura impositiva ignora o chamado ao amor, ao respeito e à liberdade de escolha que Cristo mesmo demonstrou ao interagir com as pessoas de Seu tempo. A abordagem relativista, por sua vez, dilui a mensagem central do Evangelho e a necessidade de proclamar Cristo como o único caminho para a reconciliação com Deus. A resposta bíblica envolve uma via equilibrada, que se baseia na firmeza da fé acompanhada por uma humildade e respeito profundos pelos outros. Devemos saber viver em um mundo plural, reconhecendo a pluralidade, sem sucumbir ao pluralismo e sua base filosófica.

Segundo D. A. Carson, o pluralismo filosófico ou hermenêutico é uma postura decorrente do pós-modernismo e sua busca pela desconstrução e pelo relativismo. É esse tipo de pluralismo que tem desafiado o cristianismo e os cristãos nestes tempos contemporâneos, colocando em risco o próprio direito de evangelizar (2). Nas palavras de Carson: “Enfrentamos novos níveis de hostilidade, novos níveis de analfabetismo bíblico, novas formas de resistência, mesmo quando essa geração fala livremente e de forma um tanto petulante de ‘espiritualidade’” (3).

Os cristãos são chamados a afirmar a supremacia de Cristo de maneira piedosa e respeitosa, compartilhando a verdade do Evangelho com amor e graça. Isso implica defender a verdade (4) com convicção, mas sempre com uma atitude de serviço e compaixão, refletindo o caráter de Cristo em todas as interações. Isso implica em uma apologética pacífica, inteligente e dialógica. A apologética não é um recurso de embate e pura discussão arrogante, mas uma atitude de vida que serve para mostrar a razão da esperança, com mansidão e respeito (1 Pedro 3.15).

Dallas Willard captou isso ao dizer: “Quando praticamos a apologética, devemos agir como ele agiria. Isso significa, acima de tudo, que o fazemos para ajudar as pessoas, sobretudo aquelas que desejam ser ajudadas” (5). A apologética é um chamado para ser uma testemunha fiel em um mundo plural, vivendo a verdade de Cristo em palavras e ações, sem abrir mão do amor e do respeito pelo próximo.

Notas

(1) LUTZER, Erwin. Cristo entre outros deuses: uma defesa da fé cristã numa era de olerância. Rio de Janeiro: CPAD. 2000, p. 81.

(2) CARSON, D. A. O Deus Amordaçado: o cristianismo confronta o pluralismo. – São Paulo. Vida Nova, 2013, p. 484.

(3) Idem

(4) Ver: PEARCEY, Nancy: Verdade Absoluta. Rio de Janeiro: CPAD, 2006.

(5) WILLARD, Dallas. A gentileza que cativa: Defendendo a fé como Jesus faria. São Paulo: Mundo Cristão, 2018, p. 6

por Valmir Nascimento

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