De acordo com a Lista Mundial da Perseguição 2025 da agência Portas Abertas, um em cada sete cristãos no planeta se encontra nessa situação
Na segunda quinzena de janeiro, a agência cristã internacional Portas Abertas divulgou a sua Lista Mundial da Perseguição aos Cristãos (LMP) de 2025, com dados colhidos de 1 de outubro de 2023 até 30 de setembro de 2024. O levantamento aponta onde há mais pressão e violência contra os cristãos. Além do ranking de países por nível de perseguição, os dados ajudam a entender qual é o impacto da atual onda de violência contra os seguidores de Jesus e quais os destaques negativos e as tendências da perseguição para o ano de 2025.
De acordo com os dados da Lista Mundial da Perseguição de 2025,
mais de 380 milhões de cristãos no mundo enfrentam altos níveis de perseguição
e discriminação por causa da fé em Jesus. Isso significa que, em relação à
lista do ano passado, mais 15 milhões de cristãos passaram a enfrentar
perseguição no período de 1 de outubro de 2023 a 30 de setembro de 2024. O
número total de mais de 380 milhões significa que “um em cada sete cristãos
enfrenta perseguição extrema, severa ou alta”, conforme frisa o relatório.
Propósitos do relatório
A agência Portas Abertas salienta que criou a Lista Mundial da
Perseguição “para direcionar o trabalho de apoio aos cristãos perseguidos”. O
departamento de pesquisa da entidade foi criado em 1991, mas a o ranking só começou
a ser divulgado em 1993. Segundo a entidade, “em 2012, os questionários
enviados para os cristãos e líderes de igrejas tornaram-se mais detalhados e a
metodologia tornou-se mais transparente. Essas mudanças tornaram a pesquisa
oficial. E em 2014, a pesquisa da LMP passou a ser auditada pelo Instituto Internacional
pela Liberdade Religiosa (International Institute for Religious Freedom –
IIRF). Essa organização foi fundada em 2007 com a missão de promover a
liberdade religiosa para todas as crenças com uma perspectiva acadêmica”,
informa a agência.
Como explica a entidade, “a partir dos dados da Lista
Mundial da Perseguição, a agência Portas Abertas identifica as necessidades dos
cristãos perseguidos e desenvolve um trabalho para o fortalecimento dos
seguidores de Jesus mais necessitados. Os projetos de apoio aos cristãos perseguidos
envolvem distribuição de Bíblias e literatura cristã, treinamento bíblico,
ajuda socioeconômica e ações institucionais” – neste último caso, “assistência
jurídica, presença e pesquisa”. Para alcançar seus objetivos, a agência Portas
Abertas conta com a generosidade de outros seguidores de Jesus ao redor do
mundo. A seguir, vejamos os principais destaques da LMP 2025.
Coreia do Norte ainda em primeiro na lista
Mais uma vez, a Coreia do Norte está em 1º lugar na Lista Mundial
da Perseguição, com aumento na pontuação de violência. “Lá há uma ênfase ainda maior
na pureza ideológica”, afirma o relatório. “Além disso, a China tem aumentado
seus esforços para prender e repatriar norte-coreanos, que são considerados
imigrantes ilegais. Quando norte-coreanos são repatriados, sempre são questionados
– principalmente se encontraram algum cristão ou leram a Bíblia. Se responderem
que sim a qualquer uma dessas perguntas, sua punição será ainda mais severa”,
frisa o levantamento.
Portas Abertas lembra que “os norte-coreanos estão sob constante
vigilância e controle de oficiais, informantes, vizinhos e familiares e recebem
apenas informações controladas pelo governo. Além disso, não têm permissão para
sair do país ou se locomover internamente. O governo também controla a distribuição
de comida, porém, há uma escassez crônica, sendo a condição atual muito severa.
Eles também estão sujeitos a doutrinação ideológica desde muito cedo. Devido a
esse controle, a igreja na Coreia do Norte não pode se reunir, adorar
abertamente ou ler a Bíblia sem se arriscar. Seguir a Jesus no país exige uma dedicação
completa e constante, pois sempre há riscos envolvidos. Os seguidores de Jesus
precisam se dedicar 100% para viver o Cristianismo de forma prática sem serem
descobertos”.
O testemunho a seguir, publicado por Portas Abertas, ilustra
muito bem as dificuldades e como, mesmo assim, Deus tem alcançado os
norte-coreanos apesar da intensa perseguição:“Joo Min [nomo fictício para preservar
a identidade por segurança] fugiu da Coreia do Norte para ajudar sua família a
sobreviver. Ao chegar na China, encontrou um colaborador da Portas Abertas que
a levou para uma casa segura, onde recebeu comida e assistência médica. Lá, também
conseguiu trabalho para ajudar sua família na Coreia do Norte. Mas isso não foi
tudo. ‘Enquanto estava na casa segura, ouvi o evangelho pela primeira vez’,
relembra. Diferentemente do que tinha aprendido sobre acerca dos missionários
quando estava na Coreia do Norte, as pessoas que encontrou eram bondosas, amorosas
e a ajudaram sem exigir nada em troca. ‘Apesar do que aprendi na Coreia do
Norte, aceitei a Jesus como meu salvador e participava de estudos bíblicos e
treinamentos semanalmente’, explica. Após entender o chamado de Deus, ela
voltou para a Coreia do Norte para fortalecer os cristãos no país. [...] Portas
Abertas treina muitos cristãos norte-coreanos que retornam para sua terra natal
para discipular a igreja secreta local”.
Mudanças no Top 10
Iêmen e Sudão foram os países com maiores mudanças no “Top
10” da Lista Mundial da Perseguição. “No Iêmen, cada vez mais partes do país
são perigosas para os cristãos. Por causa disso, mesmo pequenas igrejas domésticas,
que se encontram secretamente, não conseguem se reunir. No Sudão, a guerra
civil tem levado a ataques direcionados a cristãos e ao fechamento de locais de
adoração. Além disso, o caos da guerra civil encobre grupos extremistas que tornam
cristãos seu alvo”, declara o relatório.
Acusações de violações graves dos direitos humanos no Sudão
aumentaram nos últimos meses. Tanto o exército quanto o grupo paramilitar
Forças de Apoio Rápido (RSF, da sigla em inglês) foram responsáveis por abusos
e estão sendo convocados a uma negociação de acordo de paz para controlar a
crise que atinge o país, especialmente desde 2023, quando a guerra civil se intensificou.
“Os cristãos são particularmente vulneráveis pois o epicentro do conflito no
Sudão é a capital, Cartum, onde muitos seguidores de Jesus moram”, lembra a
agência Portas Abertas. De acordo com o relatório da organização Human Rights
Watch, “o grupo Forças de Apoio Rápido cometeu inúmeros abusos sexuais
individuais e coletivos, forçou mulheres e meninas a se casarem com os
militantes em Cartum e dominou a cidade a ponto de bloquear a entrada de ajuda
emergencial. Além do RSF, o próprio exército do Sudão atacou trabalhadores da
área da saúde, clínicas e socorristas, o que é considerado crime de guerra”.
Ásia Central e os países em guerra civil
Além do Quirguistão, país que mais subiu posições no
ranking, o Cazaquistão e o Tajiquistão também aumentaram sua pontuação de
violência. “O aumento da violência é devido a invasões a igrejas que ocorreram
com mais frequência e há relatos de cristãos que enfrentaram tratamentos violentos
de forma individual”, frisa o levantamento.
Em relação aos países em guerra civil, casos de países como Mianmar,
Iêmen e Sudão, essas violentas guerras têm se tornado solo fértil para ataques
contra cristãos. “Em outros lugares, como República Centro-Africana, República
Democrática do Congo, Mali, Burkina Faso e Níger, insurreições islâmicas
criaram ambientes onde cristãos podem se tornar alvos e militantes podem atacar
e perseguir comunidades cristãs impunemente”, explica o relatório. “Em Mianmar,
algumas milícias que atuam contra a junta militar que governa o país são
compostas principalmente por grupos étnicos de maioria cristã. Isso significa
que quando a junta militar ataca esses grupos, atinge especificamente comunidades
cristãs, destruindo suas casas e igrejas”, explica a agência Portas Abertas.
África Subsaariana
Segundo o relatório, “diversos países na África Subsaariana
lutam contra um tipo diferente de instabilidade. Apesar da situação não ser
clara como uma guerra civil, especialmente porque há muitos grupos que lutam
pelo controle, isso cria um ambiente onde cristãos se tornam alvo e militantes
islâmicos usam o caos como disfarce para seus ataques a cristãos. Embora menos
cristãos tenham sido mortos por sua fé na Nigéria, diversos países na região
viram um aumento na violência contra cristãos. Atualmente, oito dos dez países
com mais mortes de cristãos estão na África Subsaariana e todos – exceto a
Nigéria – tiveram mais mortes por causa da fé em Cristo do que no ano
anterior”.
Oriente Médio
Mesmo antes da queda do governo Bashar al-Assad em 8 de
dezembro de 2024, a Síria já estava em crise. “Após mais de uma década que
inclui guerra civil, Estado Islâmico, um terremoto massivo, colapso econômico,
aumento da criminalidade, corrupção, discriminação religiosa e instabilidade política,
tudo isso contribuiu para a difícil realidade de que a igreja na Síria está
mudando”, aponta o relatório. A mudança, no caso, se deve à imigração decorrente
dessa onda de convulsões sociais sucessivas. “A imigração está mudando o perfil
da igreja síria – de uma igreja milenar e com grande população minoritária a
uma igreja muito menor e que corre mais riscos”, declara a agência cristã.
O relatório indica ainda, em relação à guerra entre Israel e
os grupos terroristas Hamas e Hezbollah, que durou mais de um ano, que, “embora
não esteja relacionado à perseguição, a guerra em Gaza e no Líbano tem levado a
comunidade cristã a fugir em grandes grupos. A igreja em Gaza está à beira da extinção
e a da Cisjordânia está sob enorme pressão – uma triste realidade para um grupo
de cristãos que pode acompanhar sua linhagem até os primeiros dias do
ministério dos discípulos”.
Países com mais fechamento e controle de igrejas
No que tange ao fechamento e controle de igrejas, o LMP 2025
destaca os casos mais prementes da Argélia, da Líbia e da China. “Na Argélia,
as últimas quatro igrejas protestantes que continuavam abertas foram obrigadas a
fechar ou parar de funcionar. Não há nenhuma igreja que possa ser alvo de
fechamento – um fato que, ironicamente, significa que a pontuação de violência
no país diminuiu. Na Líbia, a aplicação de medidas duras em março de 2023 levou
a igreja a ficar ainda mais secreta. Na China, as coisas continuam piorando.
Igrejas sem registro estão na mira das autoridades ou são obrigadas a se registrar.
As igrejas registradas enfrentam cada vez mais pressão e monitoramento do
governo. Pastores são obrigados a participar de sessões de doutrinação, e
menores de 18 anos não podem receber ensino religioso. Além disso, as
congregações menores são forçadas a se unir a maiores para facilitar o
controle”, detalha o relatório.
Países com perseguição extrema aos cristãos
Segundo o relatório, “a perseguição extrema atinge 13
países, assim como na LMP 2024”, mas com duas diferenças: Mianmar (13º) atingiu
a perseguição extrema, enquanto a Síria (18º) passou a ter perseguição severa. Os
demais países com perseguição extrema continuam os mesmos, apenas alterando sua
posição na classificação: Coreia do Norte (1º), Somália (2º), Iêmen (3º), Líbia
(4º), Sudão (5º), Eritreia (6º), Nigéria (7º), Paquistão (8º), Irã (9º),
Afeganistão (10º), Índia (11º) e Arábia Saudita (12º).
Os novos países na lista e os que mais subiram
Na edição de 2025 da LMP, há dois novos países entre os 50 listados:
Quirguistão e Chade. Com isso, Indonésia e Malásia deixam de estar no “Top 50”
da Lista Mundial da Perseguição.
Nenhum país teve maior aumento na pontuação do que o Quirguistão,
passando de 61º para 47º. Essa é a primeira aparição do país no “Top 50” desde
2013, lembra a pesquisa. O Cazaquistão, que subiu do 47º para o 38º lugar,
“teve esse aumento na pontuação devido à violência”, explica o relatório, que
ressalta que “esse foi o mesmo motivo para a alteração do Tajiquistão, além das
imposições do governo sobre as atividades da igreja, o que o fez passar de 46º
para 39º”.
De acordo com o levantamento, no caso do Chade, “a mudança
foi um reflexo da influência do radicalismo islâmico e das ameaças de grupos
radicais islâmicos”. Já na República Democrática do Congo, “houve um aumento
nos ataques de grupos militantes islâmicos a cristãos, fazendo o país subir
para a 35ª colocação”.
O sexto país onde a perseguição mais aumentou foi o México.
“O aumento da pontuação do México ocorreu devido ao controle social imposto pelo
crime organizado em todo país, principalmente no período eleitoral, o que fez o
país sair da 37ª posição para a 31ª”, explica o relatório.
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