Trump surpreende com nova política para Gaza e – talvez – Cisjordânia
Na tarde de 4 de fevereiro, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em coletiva na Casa Branca ao lado do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, surpreendeu o mundo anunciando uma nova política para a Faixa de Gaza e talvez também para a Cisjordânia, pondo fim à solução de dois estados, defendida há cerca de 80 anos. A proposta foi melhor esclarecida no dia seguinte, pela porta-voz do governo Trump, Karoline Leavitt, em coletiva de imprensa na Casa Branca.
A proposta norte-americana consiste em retirar totalmente os
moradores da Faixa de Gaza, transferindo-os temporariamente para territórios no
Egito e na Jordânia, para, em seguida, colocar abaixo todas as estruturas
daquele lugar, nivelar todo o terreno e reconstruir tudo do zero. Hoje, mais de
60% de todas as edificações em Gaza estão destruídas por causa da guerra e a
maioria do restante está muito danificada, sem falar que falta água e luz
elétrica na região. “Não há como viver ali hoje”, frisou Trump, que disse que a
ideia é “transformar Gaza em uma Riviera”, onde não apenas os palestinos
morariam, mas poderão morar também pessoas de todo o mundo, além do que o
turismo se tornaria a grande força da economia local, segundo a visão de Trump.
O presidente norte-americano também disse que os palestinos não governariam mais
a região, mas que os EUA estariam tomando conta do local e que a nova Gaza
seria construída em parceria com outros países e empresas interessadas.
Sobre a Cisjordânia, Trump anunciou que estava estudando ainda
a proposta de anexação da Cisjordânia ao estado de Israel e que, em até 4
semanas (ou seja, até este mês de março), daria sua resposta. Ora, se pela
proposta norte-americana apoiada por Israel a região de Gaza não será mais controlada
pelos palestinos e se a Cisjordânia for mesmo anexada ao estado de Israel, isso
significa dizer que a solução de dois estados – até então uma ortodoxia da
diplomacia internacional – estaria morta, o que causou reações contrárias de líderes
de várias nações e de boa parte da imprensa internacional.
Netanyahu a Trump: “Isso é pensar fora da caixa”
O argumento da Casa Branca é que todas as alternativas já
foram tentadas nos últimos 80 anos objetivando viabilizar a solução de dois estados,
mas nenhuma delas deu certo e que insistir nessa solução é, nas palavras de
Trump, fazer “essa guerra durar mais 100 anos”. Em entrevista à Fox News, canal
de notícias de maior audiência nos EUA, o célebre advogado judeu norte-americano
dedicado à luta pelos direitos civis, Alan Dershowitz, 86 anos, concordou.
“Hoje foi um grande dia para paz”, disse.
O também judeu, advogado e analista político norte-americano
Ben Shapiro, 41 anos, autor best-seller e dono do popular canal de streaming e
mídia alternativa Daily Wire, declarou também apoio à proposta. Em seu
concorrido programa, argumentou: “Se você é contrário à proposta de Trump, então
me diga: qual é a sua proposta? Sinto dizer que todas as propostas que você
sugerir já foram tentadas nos últimos 80 anos e não deram certo. Por que
insistir, então, em algo que não funciona?”.
Em seu discurso na Casa Branca, Netanyahu disse a Trump
sobre a proposta: “Em Gaza, Israel tem três objetivos: destruir as capacidades
militares e governamentais do Hamas, garantir a libertação de todos os nossos
reféns e garantir que Gaza nunca mais represente uma ameaça a Israel. Acredito,
senhor presidente, que sua disposição de destruir o pensamento convencional –
pensamento que falhou inúmeras vezes –, sua disposição de pensar fora da caixa com
ideias novas, nos ajudará a atingir essas metas. E eu já vi você fazer isso
muitas vezes. Você vai direto ao ponto, vê coisas que os outros se recusam a
ver, diz coisas que os outros se recusam a dizer e, depois que os queixos caem,
as pessoas coçam a cabeça e dizem: ‘Sabe, ele está certo’. Esse é o tipo de
pensamento que nos permitiu trazer os Acordos de Abraão, moldar o Oriente Médio
e trazer a paz”.
Shapiro acrescentou ainda que todas as pesquisas já feitas
com a população palestina durante os anos mostram que a maioria da população
palestina sempre foi contra a solução de dois estados, defendendo a posição do
Hamas de um estado único, e este palestino. Essa informação, porém, estando absolutamente
certa, nos leva à seguinte pergunta: como, então, a proposta de Trump daria
certo, uma vez que a população palestina que será retirada de Gaza voltaria depois
para lá e, provavelmente, mantendo essa mentalidade? Para Shapiro, ela não
deveria voltar, mas ficar no Egito e na Jordânia de vez, o que terminantemente
esses dois países não aceitam – muito mais pelos governos do Egito e da Jordânia
temeram o radicalismo palestino do que por uma idealista simpatia à ideia de
dois estados. O Egito é um país com 110 milhões de pessoas vivendo em apenas 12%
do território, de maneira que ainda que todos os palestinos de Gaza fossem
morar lá, ocupariam um espaço irrisório do terreno e representariam pouco mais
de 1% da população do país.
Na primeira fala de Trump sobre a proposta em 4 de
fevereiro, não ficou claro se os palestinos de Gaza seriam retirados de forma definitiva
ou temporária, o que causou reações muito acaloradas entre os defensores da
proposta de dois estados, pois ficou parecendo que seria uma saída definitiva.
Só no dia seguinte é que a porta-voz da Casa Branca deixou claro que seria uma
retirada temporária, ressaltando que Trump não usara a palavra
“definitivamente”. Ao que parece, porém, na volta da população de Gaza, haveria
uma triagem para definir quem voltaria ou não dentre os 1,8 milhão de palestinos
que seriam realocados.
Parte dos discordantes da proposta de Trump na mídia chegou
a chamar a ideia de “limpeza étnica”, mas o termo é absolutamente impróprio, já
que os governos dos EUA e de Israel não propõem o extermínio do povo palestino
e nem deixá-lo sem terras e sem casas para morar. Além disso, há milhares de
palestinos que se integraram ao estado de Israel e são cidadãos israelenses e
até políticos em Israel; e Israel sempre defendeu a solução de dois estados, mudando
sua posição só agora, após o massacre de 7 de outubro de 2023. Em suma, pode-se
não gostar da proposta, mas a questão não tem nada a ver com etnicidade.
EUA e Israel propõem dar terras e construir casas para todos
esses palestinos, diferentemente do que os egípcios fizeram com os 25 mil judeus
expulsos do país em 1956: na época, foram-lhes concedidas apenas poucas horas
para sair e uma limitada quantidade de dinheiro no bolso. Eles foram expulsos
de um país onde suas famílias viviam havia mais de 2 mil anos, seus bens foram
tomados sem indenização e cada pessoa teve que se virar para reconstruir sua
vida.
Saídas de EUA e Israel do Conselho de Direitos Humanos
Na mesma semana do anúncio de Trump, os governos dos EUA e Israel
anunciaram oficialmente a saída dos dois países do Conselho de Direitos Humanos
da Organização das Nações Unidas (ONU), órgão que, segundo denunciam, tem sido nas
últimas décadas instrumentalizado por países inimigos de Israel e dos EUA e que
são notórios descumpridores dos direitos humanos. Os EUA também anunciaram saída
da Organização Mundial de Saúde (OMS), afirmando ter sido nos últimos anos
dominada pela China. O governo Trump também assinou sanções contra juízes e funcionários
do Tribunal Penal Internacional (TPI) por condenarem injustamente o governo de
Israel por “crime de genocídio” na guerra contra o Hamas em Gaza. EUA e Israel
reforçam que nunca foram signatários do TPI, logo não estão sob jurisdicação do
órgão.
Além de Egito e Jordânia
Outras opções do governo norte-americano para envio dos palestinos,
segundo os jornais israelenses N12 e The Jerusalem Post, estão na África: “O
governo Trump está considerando três áreas potenciais para a absorção de refugiados
de Gaza. [...] De acordo com o relatório, as áreas consideradas são Marrocos,
Puntlândia e Somalilândia. O relatório observou que o que esses três países têm
em comum é uma forte necessidade de apoio dos EUA, já que Somalilândia e
Puntlândia buscam reconhecimento internacional, e Marrocos tem disputa
territorial em andamento sobre o Saara Ocidental”. Não sabemos se a proposta de
Trump vingará ou não. Só Deus sabe. O tempo mostrará. Só temos certeza daquilo
que as Escrituras vaticinam sobre Israel no fim dos tempos. Mas que a
iniciativa é uma reviravolta completa para política no Oriente Médio, isso, sem
dúvida, é inegável. Acompanhemos o desenrolar dos próximos capítulos e
continuemos orando pela paz em Israel e no Oriente Médio.
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