Haverá alguma tristeza no Céu?

Haverá alguma tristeza no Céu?


No final do ano passado, viralizou nas redes sociais um vídeo pelo qual certo pregador afirma que haverá tristeza dos salvos no momento em que chegarmos ao Céu, por ocasião do Tribunal de Cristo. Os crentes arrebatados sentiriam tristeza ante o fato de que podiam ter feito mais e melhor para Deus na Terra. Tal afirmação gerou, inicialmente, uma reação irônica por parte de outro pregador, o que desencadeou um debate entre eles, motivando, por fim, grande discussão na Internet. Afinal, haverá tristeza no Céu ou no Tribunal de Cristo? Sentimentos humanos, como a tristeza, permanecerão logo após o Arrebatamento da Igreja? Alguns teólogos afirmam que só ficaríamos livres de sentimentos negativos quando estivermos na morada eterna, após o Trono Branco, quando Deus limpará dos olhos toda lágrima (cf. Apocalipse 21.1–22.5). Entretanto, quando, de fato, começa o estado eterno? Se provarmos, biblicamente, que este já começa por ocasião do Arrebatamento, a tese de que sentiremos tristeza no Tribunal de Cristo se torna nula, pois, se o crente já estiver glorificado ao ingressar no Céu — o que implica ausência do pecado —, por que haveria espaço para sentimentos negativos, como a tristeza associada a erros cometidos no passado?

Alega-se, à luz de Apocalipse 21.4, que a tristeza dos salvos só cessará na morada eterna. Entretanto, ignora-se que esse mesmo texto se refere à aniquilação da morte: “E Deus limpará de seus olhos toda a lágrima; e não haverá mais morte”. Ora, conforme 1 Coríntios 15.50-55 e seus correlatos (1 Tessalonicenses 4.13-18; Filipenses 3.13-21), os salvos já subirão glorificados ao encontro do Senhor nos ares, já que os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro e de modo incorruptível, enquanto os vivos salvos serão igualmente transformados, isto é, revestidos de imortalidade e incorruptibilidade. Por conseguinte, o estado eterno não começa somente após o Trono Branco, quando todos os salvos — incluindo-se os do período tribulacional e do Milênio — estiverem glorificados. O estado eterno, para os arrebatados, começa no exato momento em que ouvirem o som da última trombeta (1 Coríntios 15.52). Como o Tribunal de Cristo ocorre logo após o Arrebatamento da Igreja (cf. Apolipse 22.12), os salvos já chegarão diante do Justo Juiz glorificados, não havendo qual quer possibilidade de sentirem tristeza por causa de possíveis erros do passado. Afinal, veremos o Senhor como Ele é (1 João 3.1-3) e, mais que isso, nosso corpo não será mais um corpo abatido, mas, sim, conforme o corpo glorioso do Cristo ressurreto (Filipenses 3.20,21).

Segundo o Novo Testamento, há cinco julgamentos escatológicos, os quais se diferenciam por causa de aspectos como: público-alvo, local do julgamento, critérios e resultado. Comparemos dois deles: o Tribunal de Cristo e o Trono Branco. Este, um tribunal forense, conhecido como o Juízo Final, destina-se aos réus do Inferno, cujos nomes não constam do Livro da Vida (Apocalipse 20.11-15). No caso do primeiro, o público-alvo são os salvos — que não comparecem diante do Justo Juiz na qualidade de réus —, e sim para receber uma premiação (Apocalipse 2.10; 3.10,11; 2 Timóteo 4.7,8; 1 Pedro 5.4). Que tipo de tristeza poderia haver nesse Tribunal (gr. bema), que visa a premiar diferentes tipos de vencedores (cf. Apocalipse 2–3)? Alguns teólogos alegam que haverá tristeza ali, visto que até o Espírito Santo se entristece. Contudo, essa tristeza de Deus decorre dos nossos pecados (Efésios 4.22-30; Isaías 63.10), os quais já estarão ausentes após a glorificação do nosso corpo.

A Palavra de Deus garante que nenhum salvo “entrará em juízo” (João 5.24, ARA), pois “nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus” (Romanos 8.1). Tanto o termo “juízo” (gr. krísis), usado por Jesus, como o termo “condenação” (gr. katákrima), empregado pelo apóstolo Paulo, são forenses. Em outras palavras, nenhum salvo será réu diante do Justo Juiz! Considerando que não cabe sentença condenatória para o crente arrebatado — e a maior, dentre todas, seria a da perdição eterna —, por que teríamos de sofrer uma reprovação secundária quanto a nossas más obras? A frase “nenhuma condenação há” é suficiente para demonstrar que a alegria da salvação perfectiva (glorificação) anula qualquer sentimento negativo (cf. Lucas 10.20; 17.10; 15.10). Nada, por conseguinte, poderá tirar a alegria dos salvos arrebatados no dia do encontro com o Senhor (João 16.20-22; Romanos 8.18; 2 Coríntios 4.16,17). Por isso, Paulo diz: “consolai-vos uns aos outros com estas palavras” (1 Tessalonicenses 4.18; cf. 2 Tessalonicenses 1.6-10).

Como, pois, podemos entender os textos bíblicos que mencionam a necessidade de comparecermos ante o Tribunal de Cristo, já que estaremos glorificados? Em 1 Coríntios 3.11-15, menciona-se que “ninguém pode pôr outro fundamento além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo”. Em seguida, afirma-se que as obras dos salvos — comparadas a ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno e palha —, postas sobre esse fundamento, serão provadas pelo fogo da presença do Senhor. Ou seja, não há um grupo de crentes que pratica somente obras premiáveis, e outro que pratica obras indignas de galardão. Todos nós, hoje, temos realizado obras que resistem ou não ao fogo da presença do Justo Juiz (cf. Hebreus 12.28,29), e naquele dia seremos premiados de acordo com a qualidade dessas obras. Paulo é claro, ao dizer, que a “obra de cada um se manifestará; na verdade o dia a declarará, porque pelo fogo será descoberta; e o fogo provará qual seja a obra de cada um. Se a obra que alguém edificou nessa parte permanecer, esse receberá galardão” (ACF). A frase “Se a obra de alguém se queimar, sofrerá detrimento; mas o tal será salvo, todavia como pelo fogo” tem sido atrelada à tristeza dos salvos. Entretanto, por meio dessa figuração de linguagem, a única mensagem transmitida é de que não haverá galardão para nossas obras comparadas a madeira, feno e palha.

Diante do exposto, não há dúvida de que, logo após o Arrebatamento da Igreja, haverá um bema não forense para os salvos, com diferentes premiações. Entretanto, os textos de Romanos 14.10-13 e 2 Coríntios 5.10 — embora deles advenha o termo técnico “o Tribunal de Cristo” (gr. to bémati tou Christou) — indicam que muitos que se dizem salvos, hoje, sequer serão arrebatados. Estes comparecerão ante o mesmo Justo Juiz (cf. 2 Timóteo 4.1) num Tribunal forense, para

efeito de condenação, o Trono Branco (cf. Mateus 7.21-23; 1 João 2.28; Hebreus 3.12-14). O Senhor Jesus, na parábola dos talentos, não trata apenas do Seu Tribunal para efeito de premiação, ao explicar que os fiéis receberão diferentes tipos de galardão (cf. 1 Coríntios 15.58). Ele também alerta que haverá apóstatas, os quais sequer participarão desse evento glorioso (Mateus 25.14-30). Aos vencedores o Justo Juiz dirá: “Bem está, bom e fiel servo. Sobre o pouco foste fiel, sobre muito te colocarei; entra no gozo do teu senhor”. Alguém poderá argumentar que o servo inútil sofreu detrimento, isto é, sentiu-se triste, pois não foi fiel. Entretanto, observe que este (representante dos apóstatas) sequer entrou no gozo do seu Senhor: “Lançai, pois, o servo inútil nas trevas exteriores; ali haverá pranto e ranger de dentes”. Finalmente, conquanto haja diferenciação de galardão por causa da qualidade das obras dos salvos, em momento algum o “detrimento” aludido por Paulo (cf.1 Coríntios 3.14,15) é comparado a tristeza ou a qualquer outro sentimento negativo. Ao fim e ao cabo, a partir do Arrebatamento, todos os salvos serão felizes para sempre!

por Ciro Sanches Zibordi

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