Quanto vale o seu e o meu trabalho para o Senhor nosso Deus?

Quanto vale o seu e o meu trabalho para o Senhor nosso Deus?


Minha avó costumava contar uma história magnífica, que a meu ver se trata de uma grande realidade na dimensão espiritual. “Certo líder espiritual”, dizia ela enquanto embalava-me na rede de dormir, “era conhecido e reverenciado por todos como grande diante de Deus e dos homens, por causa de suas eloquentes mensagens, imponentes construções e idealização de grandes obras sociais. Um belo dia, esse líder morreu e foi levado ao céu pelos anjos de Deus. Por coincidência, morreu também uma senhora muito idosa que costumava sentar-se no último banco da igreja, onde ficava a maior parte do culto com a cabeça baixa e as mãos sobre o rosto. O grande líder, então, foi conhecer o lugar onde estavam as coroas, reservadas aos santos do Senhor, conforme fala o apóstolo Paulo (2 Timóteo 4.8). Ele viu coroas de todo tipo: umas grandes, talhadas em ouro maciço, outras floridas com pétalas de diamantes, outras mais simples. Até que avistou ao longe uma coroa que excedia a todas as outras em beleza, tamanho, cor, enfim, não havia palavras que pudessem descrevê-la. Concluiu que aquela seria a sua, dada a importância de seu trabalho feito na terra. Para dirimir a curiosidade indagou ao anjo de quem seria aquela coroa tão linda. Grande foi a surpresa quando o santo anjo respondeu-lhe: ‘Esta coroa é daquela senhora (e lhe falou o nome) que fica sentada lá nos fundos da igreja’. Aborrecido e resmungando, o grande líder passou a expor detalhadamente suas grandes realizações na terra, ao que o anjo lhe respondeu que, enquanto ele preparava seus sermões baseados nas experiências de muitos escritores, aquela irmã limpava cada banco da igreja, em prantos e lágrimas, suplicando ao Pai sobre a pessoa que ali se assentasse, para que fosse tocada pelo Espírito Santo e viesse ao pleno conhecimento da verdade, aceitando Jesus como salvador. ‘Ela, sim, merecia aquela coroa’, finalizou o anjo, decisivamente”.

 “Tá vendo, meu filho?”, concluía minha avó, apontando o dedo em minha direção.

Não parece coerente compararmos essa história com a resposta de Jesus aos discípulos, citada em Mateus 19.27,29, diante da rejeição do jovem rico em segui-lo? Pedro, então, como porta-voz do grupo, entendeu que, inevitavelmente, haveria uma recompensa em seguir Jesus. Eis, então a pergunta de Pedro e a resposta de Jesus: “Eis que nós deixamos tudo e te seguimos; que receberemos?”

“E Jesus disse-lhes: Em verdade vos digo que vós, que me seguistes, quando, na regeneração, o Filho do Homem se assentar no trono da sua glória, também vos assentareis sobre doze tronos, para julgar as doze tribos de Israel. E todo aquele que tiver deixado casas, ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou mulher, ou filhos, ou terras, por amor do meu nome, receberá cem vezes tanto e herdará a vida eterna.”

Há, realmente, algum privilégio em seguir Jesus? Que receberemos?

Pode até passar de longe pela nossa mente que privilégios, aqui mencionados, podem ter alguma coisa a ver com a maldita conotação brasileira imposta por alguns maus políticos ou funcionários públicos que se beneficiavam financeiramente de suas posições, usando de desonestidade. Não. Não tem nada a ver. Pode até ser que a pergunta de Pedro tenha sido motivada pela ambição materialista dos demais discípulos. Não é de se estranhar que, até este ponto, os discípulos esperavam a instalação de um reino meramente político e, sem dúvida, as riquezas e privilégios financeiros seriam as recompensas.

Observe que o versículo 28, onde é tratada a questão do julgamento das doze tribos de Israel, aplica-se somente aos doze apóstolos em particular, enquanto o 29 inclui todos os crentes em todos os tempos. A resposta de Jesus referia-se a dois tipos de recompensas: a temporal e a eterna. Em Lucas 18.30, o texto enfatiza a recompensa ainda nesta vida: “E não haja de receber no presente muito mais neste mundo, e na idade vindoura a vida eterna”. Logo, fica claro na afirmação de Jesus que as recompensas são tanto para a eternidade como para a vida presente. Observe que Ele não fala em riquezas, mas, certamente, se referia ao bastante para suprir nosso trabalho e às necessidades dos nossos familiares.

Os discípulos, muito provavelmente, estavam mais preocupados com a recompensa temporal. Sofremos desse problema – o imediato, o agora. Por causa das nossas limitações e debilidades humanas, não é tarefa fácil vislumbrar a eternidade. Pensamos mais no gordo salário e na confortável aposentadoria, não é verdade? Mas, nosso trabalho vale para a eternidade. Ao falar de recompensas, o Mestre mostrava que o nosso trabalho, todos nossos atos e palavras, têm implicações para a eternidade. Elas não estão restritas somente ao rápido momento em que passamos aqui, nesta vida. Se vivermos 70 ou mais anos aqui, a eternidade será alguns milhares e milhares de anos.

Quando Pedro disse que (eles, os discípulos) deixaram tudo, certamente, referia-se aos poucos bens materiais que possuíam em comparação com as riquezas do jovem rico que não quis abrir mão de qualquer centavo para seguir a Cristo. Esse tudo, mesmo sendo pouco, representava muito para eles.

Deixar tudo por amor. Aqui está a palavra-chave – amor. Aqueles que deixam tudo por amor ao Senhor e por causa do Evangelho, para seguir a Cristo, podem esperar a recompensa que também vem por causa do amor de Deus. Esse amor é mais do que merecemos ou imaginamos! Dá para imaginar um Deus injusto, que não presenteia seus filhos com bons presentes, ainda que esses filhos não sejam tão bons? E aos filhos que renunciam bens materiais, vantagens ou benefícios de suas famílias não devem esperar bênçãos mais preciosas que muito mais valem que possessões terrenas?

Lembra da história da velhinha e do grande líder que minha avó contava? Pois bem, é por aí.

por Cyro Mello

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