Assembleiano conta como é um cristão viver no Oriente Médio em países compostos, em sua maioria esmagadora, de muçulmanos
No dia 18 de agosto, o brasileiro Dagnaldo Pinheiro Gomes, assembleiano natural de Uberlândia (MG), foi preso no Egito, país no qual residiu por nove anos, exercendo a profissão de guia turístico, atendendo a grupos de turistas em visita ao país. Em uma revista de rotina efetuada em seu carro pela polícia ao conduzir um grupo às pirâmides, o cartão postal da região, os policiais encontraram duas Bíblias e literatura evangélica. Foi o bastante para que os agentes lhe dessem voz de prisão. Ele foi conduzido à delegacia onde Dagnaldo foi mantido por nove dias, tempo em que no Brasil aconteceu uma verdadeira mobilização a fim de resgatá-lo com vida e desfazer o mal entendido junto às autoridades egípcias.
“A ocorrência causou-me assombro, porque eu estava próximo das
pirâmides no Cairo, que são consideradas o símbolo máximo daquele país. Naquele
instante, eu estava acompanhado por duas turistas brasileiras ao ser abordado pela
polícia para averiguação do veículo, que é algo rotineiro naquela área por
questões de segurança. Mas, no momento em que os policiais examinaram o porta-luvas,
e encontraram em uma sacola duas Bíblias e livretos cristãos na língua árabe,
isso fez com que os policiais alertassem outros departamentos e fosse detido por
eles. Fui levado a um local onde fui interrogado. As turistas também foram ouvidas
e logo liberadas, e eu conduzido a uma cela. Foram nove dias de total desespero,
porque fui abordado por muitas pessoas e ninguém mais falou nada comigo. Também
dificultaram o meu acesso à embaixada do Brasil. Seus representantes me procuravam,
mas a Polícia não prestava nenhuma informação a meu respeito e não me deixavam
informado sobre o mundo exterior”, lembra.
Segundo irmão Dagnaldo, a detenção obedeceu às normas impostas
pela legislação do país. “A minha prisão atendeu aos rigores da Constituição egípcia,
e eu acho interessante abordar esse assunto, porque, ao chegar ao Brasil,
descobri que as informações veiculadas por aqui davam conta de que o Egito é um
país muito tranquilo, e aberto para manifestações, inclusive na propagação de outra
fé.
Mas, eu convido a todos os que tiverem acesso a essa
entrevista que vão ao Egito e tentem fazer isso. Infelizmente, a informação não
procede, pois não existe liberdade de expressão e nem religiosa naquele país, como
a conhecemos em nosso país. Por exemplo, se alguém aqui desejar trocar a religião
ou mesmo se tornar ateu, o cidadão desfruta dessa liberdade, mas em países islâmicos
isso é impossível devido às leis que regem a nação, que impedem o cidadão deixar
de ser muçulmano”, explica.
Enquanto residiu no Egito, Dagnaldo recepcionou várias
caravanas formadas por japoneses, norte-americanos e brasileiros que residem na
Europa. Considerando que o turismo é a primeira fonte de renda no Egito, ele já
conduziu um grupo de uma agência de turismo formado por 10 mil pessoas. E como residiu
no Oriente Médio, o brasileiro pôde observar a “forma de vida” dos cidadãos e
conta-nos como ela transcorre.
“Os dois principais grupos religiosos, cristianismo e islamismo,
não se envolvem jamais. Os cristãos comparecem às suas reuniões nas igrejas e os
muçulmanos frequentam as mesquitas e praticam a sua liturgia; mas, o que não é permitido
por lei é a divulgação de uma religião concorrente ao islamismo, e esse foi o argumento
utilizado pelos policiais ao me prenderem. Ou seja, eu não poderia compartilhar
a minha ‘filosofia religiosa’ com mais ninguém”, conta Dagnaldo.
Após sua detenção, o brasileiro contabiliza os prejuízos que
teve por conta do embaraço causado por sua prisão no Egito. Ele lembra que os
grupos formados por turistas que estariam sob sua responsabilidade foram
cancelados por conta do ocorrido. Na época, ele estava em negociação com um
grupo de 600 pessoas.
Quando soube do ocorrido, o pastor Álvaro Alen Sanches, líder
da Assembleia de Deus em Uberlândia (MG), da qual Dagnaldo é membro, convocou a
igreja para interceder por sua liberdade. As imprensas nacional e internacional
foram mobilizadas e logo o caso do brasileiro preso por questões religiosas no
Oriente Médio foi destaque nos principais veículos de informação. O alarde foi tamanho
que logo o brasileiro foi localizado e o processo de sua deportação concluído.
Mas, ele afirma que jamais vai se esquecer das experiências no antigo país dos
faraós.
“As experiências que tive foram estranhas. Eu ouvi histórias
de pessoas que, ao manifestar o desejo de abandonar a sua religião, tiveram de enfrentar
retaliações da sociedade. Conheço a história de um rapaz que não quis mais ser muçulmano
e por isso foi perseguido por facções islâmicas e, segundo algumas fontes, até pelo
próprio governo egípcio. Esse caso foi noticiado pela mídia europeia. Para mim,
um homem ocidental, soou muito estranho. Portanto, fui pesquisar como vivem essas
pessoas com a seguinte questão em minha mente: ‘Por que não mudar a mentalidade?’.
Mas, meus entrevistados disseram ser isso impossível. É irônico que quando a pessoa
deseja abraçar o islamismo, ela não enfrenta nenhuma discriminação pela
sociedade local”.
Atualmente, Dagnaldo se prepara para casar-se com a jovem Mariângela
Pontes Vale e permanecer no Brasil por algum tempo. Mais tarde, porém, vai solicitar
ajuda à Abav (Associação Brasileira de Agências de Viagens) para interceder por
escrito à Embaixada do Egito e agendar o seu regresso ao país para continuar
seu trabalho como guia turístico.
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