É a esperança que nos move

É a esperança que nos move


Conta-se que o reverendo Thomas Dorsey viajava de Lousiana para Ciccinnati em 1939, quando o comboio que o seguia passou por um vale e o reverendo Dorsey notou como os animais que estavam pastando pareciam em paz. Aquele cenário bucólico e tranquilo o inspirou a escrever o célebre hino “Paz no Vale” (Peace in the Valley), que diz:Estou cansado e sem forças, mas eu tenho que avançar / Até que Deus me chame a seu lar / E ali tudo brilha e o cordeiro é a luz / Onde as noites são claras, são claras sem par.

Sei que algum dia no vale só haverá a paz / Só haverá paz no vale para mim, eu sei / Não haverá tristeza, nem perdas, nem lutas no vale / Só haverá paz no vale para mim, eu sei.

Lá o urso é manso e o lobo também / O cordeiro e o leão se dão bem / Crianças conduzem as feras com amor / Onde a terra se encherá oh sim dessa paz.

Sei que algum dia no vale só haverá a paz / Só haverá paz no vale para mim, eu sei / Não haverá tristeza, nem perdas, nem lutas no vale / Só haverá paz no vale para mim, eu sei.

Essa canção é um clássico da música evangélica mundial traduzida para mais de 100 idiomas A tradução acima tornou-se uma das mais conhecidas em português na voz do pastor Feliciano Amaral. Essa canção me faz muito bem. Ao ouvi-la, encho-me de esperança, mesmo que esteja cansado.

A esperança é irmã gêmea da fé. Pessoalmente, não consigo separá-las, pois a palavra esperança expressa a expectativa ou o ato de esperar, e “a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam e a prova das coisas que se não veem” (Hebreus 11.1). É impossível viver neste mundo sem esperança. A tristeza é que muitos já perderam as esperanças. Inclusive, crentes. Inclusive, alguns obreiros, pastores e missionários. Desculpe a sinceridade, mas não se pode tapar o sol com a peneira. Há pessoas que nos cercam que apenas vivem a vida ou pensam que vivem. Na verdade, são espectadores sem esperança.

Em muitos púlpitos, a esperança se resume às benesses desta vida temporal e fugaz. A esperança, para alguns, não se encontra mais no Reino eterno. Essas pessoas empobrecem o Evangelho porque o privam da sua soteriologia. Perde-se o sentido verdadeiro da missão. Nada contra uma vida agradável no aqui e agora, isso é bom, mas a minha mensagem e a missão da Igreja não estão baseadas aqui. Somos povo peregrino. Estamos aqui passando uma chuva.

A questão é que a correria da vida, as lutas diárias, as “armações” do mal, as ciladas do Diabo, buscam minar as nossas forças. Com isso, nós cansamos, nos entristecemos... Quem nunca se sentiu assim que atire a primeira pedra!

O problema não é se sentir cansado; o problema é perder a esperança, pois quem perde a esperança nunca vence; pois a vitória da esperança não é chegar em primeiro, mas não se cansar; pois só vence quem não se cansa.

Não existe cristianismo sem esperança. Na linguagem paulina, somos salvos na esperança, onde o que é corruptível de revestirá da incorruptibilidade, o que é mortal será absorvido pela vida (2 Coríntios 5.1-11). A esperança é escatológica.

Fiz a citação da canção “Paz no vale”, pois quando me sinto cansado e sem forças, me lembro que tenho que avançar. A esperança me faz caminhar. A esperança é a força motivadora da missão cristã.

Por toda a Bíblia, homens e mulheres se mantiveram de pé, seguiram adiante, porque possuíam esperança. A Igreja neotestamentária avançou porque possuía esperança, e nós precisamos da esperança para avançarmos na missão, pois Cristo Jesus é a nossa esperança.

A ideia da esperança como motivadora é totalmente bíblica. Oscar Cullmann diz que Cristo é considerado como o escatós, como agente da realização escatológica divina em processos diferenciados pela vontade do Pai. Ou seja, no Antigo Testamento, o sentido escatológico da esperança era ilustrado pelas alianças de Deus com Seu povo. Já no Novo Testamento, a escatologia divina é manifestada no Filho e executada pelo Espírito Santo; mas, no futuro, ela será consumada com a Volta de Jesus. Assim sendo, somos ensinados (e confortados) pelo Espírito nas questões que hão de vir.

A posição de Cullmann é pautada na pregação do Evangelho, uma vez que o aspecto kerigmático do cristianismo é essencialmente escatológico. Esta é uma interpretação lógica do “já e ainda não”. O “já” deve ser entendido como uma condição, ou seja, pregar o Evangelho. O “ainda não” é o resultado-consequência, isto é, a realização da esperança pela pregação. A igreja (como comunidade), que é condicionada à pregação, anuncia a realidade da esperança na vida cristã e, em consequência disso, a mesma comunidade goza dos resultados dessa pregação. Segundo o reverendo Ismar do Amaral, resta-nos apenas entender como fica a missão, uma vez que a compreensão da Grande Comissão (Mateus 18.18-20; Marcos 16.15-17; Lucas 24.47-49; João 20.19-23; Atos 1.6-11) é de caráter imperativo e não condicional. Daí entende-se que a esperança está em realização (o ainda não).

Ou seja, seguindo o raciocínio do reverendo Ismar do Amaral, quando a Igreja através do anúncio profético fala à humanidade sobre o Reino de Deus, ela motiva as pessoas à fé em Cristo, desperta a esperança. Assim sendo, falar do Reino de Deus é falar do propósito redentor de Deus para toda a criação e da vocação histórica que a Igreja tem em relação a esse objetivo no aqui e agora. É também falar de uma realidade escatológica que constitui simultaneamente o ponto de partida e a meta da Igreja. A missão da Igreja, consequentemente, só pode ser entendida à luz do Reino de Deus. E já que esse Reino foi inaugurado em Jesus Cristo, não é possível entender corretamente a missão da Igreja sem entendermos a própria missão de Jesus. É a manifestação, ainda que incompleta do Reino de Deus, tanto por meio da proclamação como por meio do ensino, comunhão e ação social. Dessa forma, a Igreja, como comunidade do Reino, produz sinais visíveis e estes devem ser direcionados aos cativos e perdidos. O viver da comunidade é antecipar a presença do Reino de Deus no meio do povo. Isso é esperança.

A despeito de todas as lutas e agruras diárias, a missão da Igreja deve continuar cheia de esperança. A mensagem não pode ser trocada pela moda do dia. A esperança faz você cantar: “Estou cansado e sem forças, mas eu tenho que avançar / Até que Deus me chame a seu lar / E ali tudo brilha e o cordeiro é a luz / Onde as noites são claras, são claras sem par / Sei que algum dia no vale só haverá a paz / Só haverá paz no vale para mim, eu sei”.

Cumpra a Missão. Viva uma vida cristã plena. Encha-se de esperança.

por Eduardo Leandro Alves

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