Uma guerra de inteligência e estratégia

Uma guerra de inteligência e estratégia


Recentemente, a coluna “Em dia com Israel” tem dado espaço para listar objetivos de orações pelo povo judeu, procurando destacar áreas sensíveis e necessitadas de fortalecimento ou transformação. Dessa feita, chegando à marca de um ano de uma guerra que, pareceu-nos, seria rápida, mas se prolonga dentro do intuito – compreensível, mas de consequências dolorosas – de desarticular os principais grupos terroristas responsáveis pelos ataques de outubro de 2023, uma prece talvez pudesse expressar o clamor dos intercessores, resumindo-se em: “Senhor, opera maravilhas no meio do Teu povo”.

Atos sobrenaturais de Deus recebem variados apelidos, incluindo: maravilhas, sinais, poderes, milagres e prodígios. Oferecem uma ruptura com a criação quanto à peculiaridade do ato, o poder envolvido nele ou a revelação da sabedoria expressa. São conhecidos, nos estudos teológicos, respectivamente como: sinais de natureza distintiva, poderosa ou significativa. Não é nosso objetivo abordar a sistematização das maravilhas divinas, antes ressaltar o costume de fazer recair a preferência e admiração por aquilo que nos é diferente (como a transformação da água em vinho) ou pelos atos portentosos de Deus (abertura do Mar Vermelho, lançamento de fogo contra os inimigos de Israel na batalha). Há, contudo, um relevante espaço, especialmente nesses dias, para os prodígios de sentido, para a sabedoria celestial, para – e é mister salientar o termo – estratégias que superam o entendimento humano, transtornam o conselho do mal e preservam a causa do Rei.

No segundo livro de Samuel (17.19), o Espírito Santo deixou registrado o gesto de uma mulher de Baurim, localidade benjamita próxima a Jerusalém, a leste do Monte das Oliveiras, portanto, na divisa entre os termos de Judá e Benjamim. Por aquele lugar passara Davi, debaixo da dor provocada pela traição de seu filho Absalão, acrescidos à dor os insultos, as pedras e o pó atirados por Simei, numa afronta a qual o rei suportou sem revidar. Naqueles dias difíceis, Absalão assumira o trono, tinha por conselheiro o astuto Aitofel e era ladeado por outros inimigos de seu pai. Infiltrados, permanecendo fieis a Davi, estavam Husai, os sacerdotes Zadoque e Abiatar, além de muitos outros. Jônatas, filho de Zadoque, e Aimaás, filho de Abiatar, faziam a comunicação entre Husai, no palácio, e o monarca humilhado.

Teve razão Davi ao clamar a Deus (15.31) para que transtornasse as orientações dadas por Aitofel. Suas palavras, apresentadas a Absalão, atingiriam desastrosamente o filho de Jessé. Somente a interferência de Husai, aconselhando o adiamento do ataque, ofereceu o escape necessário. Uma rede de inteligência e estratégia estava formada. Husai manda uma escrava que passe as informações de guerra para Jônatas e Aimaás. Estes, que permaneciam fora da cidade, “pois não podiam ser vistos”, partem apressadamente. São denunciados por um espia, que avisa a Absalão. Buscam refúgio na casa de um homem em Baurim. A mulher da casa oculta-os e engana os inimigos do rei, que partem, dando tempo aos dois homens para chegarem a Davi, anunciarem os projetos apresentados a Absalão e a apresentarem a sugestão final de Husai. Davi e todo o povo, bem aconselhados, passam o Jordão e, ao amanhecer, encontram-se a salvo na outra margem.

A estratégia de esconder Jônatas e Aimaás no poço apenas deu resultado porque, além de fazê-los descer, aquela mulher estendeu uma cobertura, um cortinado, e depositou sobre ele grãos de cevada descascados. Um pano, mesmo grosso, sobre a boca de um poço, pouco peso suportaria; conclui-se, então, que ela, primeiramente, tapou o poço (justificando as traduções que assim asseveram) para depois cobri-lo com o tecido. Transformado o poço e abastecido com grãos limpos e prontos para o uso, os perseguidores apenas viram uma ‘mesa’ posta, talvez na área externa da casa (havia poços internos também), como é comum nas casas com quintal, especialmente naquelas terras quentes e secas. Alguns grãos e pronto: um escape maravilhoso!

Alguém poderia argumentar que os prodígios do Senhor teriam de envolver fogo do céu, vento impetuoso ou transformações surpreendentes. O superlativo visível da ruptura com o natural, no entanto, pode estar na perfeição de um encadeamento de fatos que incluiu: a súplica de Davi, a obediência pronta de Husai em retornar a Absalão, a vigilância dos sacerdotes, o serviço da escrava, o risco corrido pelos filhos dos sacerdotes, a fidelidade de um homem de Baurim (teria ele assistido à humilhação sofrida por Davi?), a destreza de uma mulher, um poço, um forro e alguns grãos.

Recusemo-nos a menosprezar a sabedoria do alto, removendo-a da condição de maravilha. Um conselho em meio à luta, uma direção precisa, a revelação de algo que escapa ao conhecimento humano, somados à orientação do que e quando fazer, são, sim, manifestações do poder de Deus.

Hoje, querido intercessor, Israel precisa de sabedoria sobrenatural. Hoje, Israel precisa do esfacelamento da influência dos maus conselheiros. Hoje, Israel não pode prescindir de direção clara em todas as suas ações. Respeitando os governantes e a inteligência militar israelenses, oro pela direção precisa, que alcança seus objetivos, opera livramento, resgata os desvalidos, despista perseguidores, põe em fuga o adversário e dá vitória ao povo.

Que maravilha será, quando se contarem os feitos de direção e livramento do Senhor ao final da campanha! Documentários serão feitos, livros serão escritos, mas, sobretudo, haverá corações gratos ao Senhor pela conservação da vida e da integridade. Que maravilha será para todo aquele que confia na Palavra quando, por seu cumprimento, todo o povo alcançar a outra margem do Jordão, salvos e reunidos ao Rei! Então serão lembrados os feitos poderosos de Deus. Na ocasião, talvez nos lembremos das pequenas coisas que resultaram em grandes livramentos em nossa caminhada, mesmo que tenham sido: um poço, um pano e alguns grãos de cevada.

por Sara Alice Cavalcanti

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