As cenas são cruéis. Chile, Haiti, Angra dos Reis, São Paulo, Rio de Janeiro, Estados Unidos, Europa, Ásia, Pernambuco, Alagoas... Sobreviventes sob os escombros após vários dias sem água e comida. Outras imagens chocantes mostram os efeitos da chuva, do frio, do calor e de violências de todo o tipo. Quem analisa os fatos sob a perspectiva bíblica sabe tratar-se do cumprimento das profecias da Palavra de Deus. Mas, que ligação isso pode ter com relacionamentos e vida familiar?
Se me permitem fazer um paralelo, a família, como instituição,
tem enfrentado terremotos, vendavais e ataques terroristas, e muita gente está vivendo
sob escombros relacionais, na complexidade tumultuada da vida familiar.
Desde o Éden, o primeiro casal foi vítima das artimanhas do
inimigo. A instituição familiar é o alvo do Diabo, através de ataques diretos
e, principalmente, pela pressão exercida através dos valores distorcidos vividos
pela sociedade, onde o dinheiro, o sexo e o poder são o tripé que sustenta o
sistema mundano.
É um dilema ser um cidadão dos céus e viver diariamente com a
cultura de um povo que despreza os valores do Reino de Deus. O desafio é não
ser seduzido pelo brilho e o fascínio dos banquetes de sensualidade das fontes
poluídas de um pensamento secular, que se divorciou dos absolutos da Palavra de
Deus.
O perigo é quando nos amoldamos a uma cultura maligna, sem perceber
que estamos flertando com o conteúdo proposto pela maior parte da mídia, que
divulga, avaliza e incentiva o comportamento pecaminoso, inclusive nas nossas famílias.
Isso acontece de forma lenta, gradual, sutil, persistente e tremendamente dominadora.
Nada mais sedutor que aquilo que nos agrada aos olhos e mexe com os nossos
desejos mais íntimos.
Quem estabelece relacionamentos sob essas influências vive em
área de risco de tremores e desabamentos. E exatamente como acontece com os cidadãos
que vivem em locais perigosos, que oferecem resistência em aceitar as mudanças propostas
pela Defesa Civil, o paralelo espiritual é verdadeiro. Apesar de ver a família dividida
e desestruturada, muitos teimam em viver a penosa agonia da iminente destruição.
Não é por acaso que Deus afirma que “a terra se contaminou” (Levíticos
18.25) e determinou ao povo de Israel que não assumisse o jeito de viver dos povos
ao seu redor (Levíticos 18.25) nem absorvesse as práticas dos seus
contemporâneos. “Portanto, guardareis a obrigação que tendes para comigo, não praticando
nenhum dos costumes abomináveis que se praticaram antes de vós, e não vos contaminareis
com eles. Eu sou o Senhor, vosso Deus”, Levíticos 18.30.
Infelizmente, o que se vê hoje, inclusive nas igrejas, são jovens
e adolescentes que estão deixando de namorar para “ficar”. Isso significa dizer
que estão sendo apanhados pela lascívia e erotização que parece não ter limites.
Há ainda aqueles, de todas as idades, que passam horas assistindo a programas que
enaltecem o adultério, o homossexualismo, o ocultismo, a promiscuidade e todo
tipo de falcatrua. Não há como ficar exposto a tanto lixo e não ficar enlameado.
São bases de areia que, cedo ou tarde, não subsistirão às crises e aos temporais
que atingem a todos os seres humanos. Existem pessoas que foram seduzidas pelo
comodismo, pela frieza e a indiferença e se acostumaram, se integraram ao
cotidiano do grupo. Se deixam levar pela falsa ideia de que nada faz mal, tá
tudo certo, o tempo conserta tudo. Outros trocam de parceiro por motivos banais
e se cercam de argumentos filosóficos que amparem seu comportamento repreensível.
Muitas crianças inocentes estão sofrendo com a destruição dos seus lares. Pessoas
estão caindo na tentação da infidelidade conjugal, deixando um rastro de corações
partidos, esperanças e vidas despedaçadas.
Será possível manter bons relacionamentos mesmo sob os escombros
das famílias desajustadas e das nossas próprias ambiguidades?
O profeta Daniel foi desafiado a viver em uma cultura sedutora
sem ser seduzido por ela (Daniel 1). É a perspectiva cristã de ser sal no meio
da podridão moral: viver uma vida genuinamente revolucionária, como foi a de Jesus.
Certa vez, perguntei a um político se ele achava que se os policiais ganhassem mais
a corrupção diminuiria. A resposta foi surpreendente: “Não! Corrupção tem a ver
com caráter. Não importa o quanto se ganhe, se não for uma pessoa de caráter será
corrupta do mesmo jeito”. Esse pensamento está de acordo com os ensinamentos de
Jesus: quem é fiel no pouco é fiel no muito (Lucas 16.10). A oferta pode ser
tentadora, mas o nosso compromisso deve falar mais alto.
Nosso posicionamento diante do vendaval contra a família será
fruto da firmeza da nossa decisão. Daniel determinou em seu coração não se
contaminar (Daniel 1.8).
É momento de avaliar a condição dos fundamentos da própria casa.
É preciso ficar atento à postura de pensar que está tudo bem ou que não precisamos
de ajuda, ou imaginar que a nossa família está imune ao perigo. Quem enfrenta situações
de risco não pode ficar inerte, nem “jogar a toalha”, como se a vida relacional
já tivesse acabado debaixo dos escombros. É preciso dar sinal de vida, pedir ajuda,
gritar. Não é preciso simular uma situação de bonança, quando há temporal. Pode
ser que dê para sobreviver por um tempo, mas o oxigênio pode estar acabando, a
vitalidade pode estar no fim. É preciso que o socorro seja feito com urgência.
A boa notícia é que a providência está chegando. Deus afirma
“Clama a mim e responder-te-ei...”, Jeremias 33.3. Nos erros e acertos, Jesus está
conosco. Somos encontrados por Deus em nossos relacionamentos. Nas situações
mais improváveis é que o milagre surgirá. Por mais que a família esteja desajustada,
que haja sérias falhas de caráter, Deus continua acreditando e investindo em nós,
como fez com Jacó e a família da promessa, que diante de mentiras, traições, brigas
e mundanismo, teve a oportunidade de experimentar a restauração divina (Gênesis
32.28).
As histórias da Bíblia falam a nós em nosso tempo. O mesmo Deus
que prometeu a Abraão abençoar “todas as famílias da terra” (Gênesis 12.3) se associa
com pessoas muito imperfeitas para transformá-las. Essa revelação é uma chama
de esperança a quem tinha sido dado como morto. Os traços do caráter de Jacó
estão psicologicamente muito presentes em nós. Apresentamos as mesmas fraquezas,
anseios, ambiguidades, necessidades, desejos e, ao mesmo tempo, o potencial para
uma busca apaixonada pela sobrevivência, pela vitória, pela bênção, pela solução,
pela resposta, pelo resgate. É nessa busca, nessa fé, que vamos experimentar as
soluções do Criador para a recriação do que parecia sem chance alguma.
Que isso sirva de aviso ou chamada de atenção para a urgência
de buscar àqueles que estão minguando à nossa volta – debaixo de escombros relacionais.
por Jairo Ribeiro
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