A visão das montanhas da Judeia a partir de Shvil Hamaayamot é esplêndida. O popular caminho, comumente percorrido pelos judeus ortodoxos, especialmente durante os períodos de Tisha B’Av (12 a 13 de agosto) e até o início do mês de Elul (4 de setembro) oferta aos que se dispuserem a percorrer suas trilhas a possibilidade de apreciação da floresta, com seus animais e nascentes de água cristalina, além de incitar à lembrança das vidas de antigos rabinos, que por ali viveram e morreram, transformando a empreitada de um simples exercício físico a uma oportunidade de meditação e crescimento espiritual. A prática tornou necessário o alerta, feito pelas Forças de Defesa de Israel, pois as áreas percorridas pelos caminhantes ficam perigosamente fora do alcance das sirenes de alerta, tornando difícil ou quase impossível a informação de algum ataque. Os ‘telefones kosher’, usados pelos charedim (lê-se ‘rraredim’ – judeus ultraortodoxos) também são difíceis de contactar, devido à sua baixa capacidade de conexão. A orientação do governo é que sejam feitos planos detalhados para as caminhadas e que haja contato frequente com os centros de emergência, inclusive para o caso de serem encontrados quaisquer artefatos de guerra.
A invasão do Hamas no período de Simchat Torah (lê-se
‘simrrat-torá’) no ano judaico de 5784 tornou a data de 7 de outubro o novo
‘Shabat Negro’ de Israel, mas é Tisha B’Av que reserva a lembrança da
destruição do primeiro e segundo templos, com a dispersão das comunidades
judaicas em 586 a.C. e 70 d.C. David M. Weinberg, em artigo publicado em 12 de
agosto deste ano, convida a que esses dias de tristeza sejam transformados em
boas lembranças e reconhecimento pelo esforço de um povo em viver em paz e
construir um futuro de oportunidades a todos. Em suas palavras: “Que melhor
momento senão Tisha B’Av para lembrarmos as múltiplas boas obras realizadas por
israelenses de todos os matizes e classes? Estes são atos de amor e
generosidade ilimitada, que vão desde o cuidado cotidiano com crianças
portadoras de câncer até a grande filantropia para com as artes, o apoio aos
imigrantes, a assistência rodoviária a todos os que estão se deslocando, a
ajuda às viúvas e aos órfãos de guerra, alcançando o apoio aos deslocados do
Norte e do Sul de Israel. Há, ainda, enormes sacrifícios feitos pelos heróis,
os soldados das Forças de Defesa de Israel e de suas famílias, incluindo o esforço
feitos por milhares de homens e mulheres jovens que hoje se encontram feridos e
em recuperação”.
O tom positivo da nota de Weinberg quebra a verdadeira enxurrada
de críticas e de acusações ao governo de Israel e ao seu povo, mesmo diante da
já confirmada necessidade de defesa de uma nação duramente atacada pelos grupos
terroristas. Sem compreender as necessidades locais e as estratégias
desprovidas dos limites impostos pelas regras que definem os chamados crimes de
guerra, por parte dos terroristas, Israel há muito passou de agredido para
agressor por aqueles que apenas leem os fatos pelo filtro de comunicadores
contaminados pelo antissemitismo ou alimentados por recursos vindos dos
inimigos de Sião.
O recente episódio que resultou na morte do líder do Hamas,
dentro do objetivo de destruir os grupos terroristas envolvidos no ataque de 7
de outubro, provocou, como é do conhecimento de todos, uma onda de ameaças por
parte do Irã e um estado de vigilância constante por parte dos israelenses,
quer árabes, quer judeus. Já abordamos, nesta coluna, questões de ordem escatológica
relacionando a região da antiga Pérsia e a futura invasão detalhadamente
prevista nas Escrituras Sagradas, procurando discernir entre o tempo presente e
o quadro reservado, onde estarão em cena outras nações, em um contexto diverso.
O cuidado com que examinamos os fatos mais recentes tenta evitar uma certa
excitação em relacionarmos cada acontecimento no curso das nações a passagens
bíblicas específicas. O Irã, ora contido, guarda seu papel e importância para
um tempo oportuno.
A mais recente contenção ocorreu neste dia 14 de agosto. De
forma inesperada, uma pane nos sistemas de informática provocou forte impacto
nas estruturas financeiras iranianas, de tal maneira que os negócios tiveram
suas transações interrompidas, provocando um severo prejuízo aos cofres do
país. Novas guerras, novas armas, uma certeza – mesmo que o governo do Irã
venha tentando atribuir o ocorrido a uma ação norte-americana ou israelense, o
acontecimento apenas prova que Israel não está sozinho. A iminência de um
ataque a Israel foi prejudicada pela ação de ‘hackers’, e sem que se possa
comprovar (ao menos até o momento) qualquer relação entre eles e o governo
israelense. A Bíblia é rica em guerras travadas ou conquistas de terras efetuadas
de forma pouco convencional. Podemos citar Josué e a tomada de Jericó, podemos lembrar
os trezentos guerreiros de Gideão, com suas tochas, buzinas e vasos de barro e
não podemos esquecer a batalha feita sem a necessidade de uso das armas, mas
preenchida pelos louvores ao Deus que, por vezes, assume o comando das tropas e
dá descanso aos homens, guerreando, Ele mesmo, pelos seus, declarando apenas:
“nessa batalha, não tereis de pelejar”.
Melhor ainda ocorre quando a batalha não necessita ser travada,
havendo salvação para os povos sob ataque. Faço menção ao ataque empreendido
por Joabe contra a cidade de Abel Beit-Maaca, nos dias do rei Davi. Após a
derrota de Absalão e de sua morte, levantou-se um homem chamado Seba e uniu sob
seu comando todo o povo de Israel, exceção feita à tribo de Judá. Davi
compreende o perigo daquela rebelião e supõe que a nova face da revolta pode
trazer mais prejuízos do que o período anterior. Depois de enviar, sem sucesso,
seu sobrinho Amasa, o triste procrastinador, a destruição do rebelde é confiada
a Absai e, consequentemente, a Joabe. Parte o guerreiro, cerca a cidade e, conforme
o relato (2Sm 20), quando Abel está sob sítio, uma mulher sábia intercede,
argumentando com Joabe. O comandante das tropas não pretende cometer injustiça.
Apenas procura um homem, Seba. Se o inimigo for entregue, a cidade será salva –
é sua promessa. A mulher não se detém, mas arregimenta o povo da cidade,
identifica Seba, destrói o inimigo do rei e entrega a comprovação de sua morte
a Joabe. A cidade é salva.
A luta de Israel, hoje, não é contra o Líbano, contra a
Síria, contra o Irã, contra os Emirados, contra o Egito, ou mesmo contra a França,
a Rússia ou demais países, mas é, clara e frontalmente, contra os terroristas
que se infiltram nos países, escondem-se em escolas e abrigos de refugiados,
acolhem-se em organismos internacionais, buscando os sítios pacíficos, as ‘cidades’
acostumadas às conversações de justiça e de sabedoria, para onde se achegam
pela força da argumentação, pela sedução de narrativas não comprovadas e pelo
poder financeiro. Ocultos nas ‘cidades’, colocam-nas em risco, sem que isso
lhes pese a consciência. Advogam sua causa e capturam aliados sem lhes oferecer
compensação por suas vidas. As vidas daqueles que os acolhem não importam. Para
eles, vale apenas o confronto com o Rei.
As nações estão carentes de alguma sabedoria, que reconheça a
legitimidade das tropas, decidam descer do muro, investigar o interior de suas
próprias tropas e, sem titubear, retirar delas o Seba que as põem em risco.
Grupos terroristas infiltrados precisam ser identificados e punidos. A história
de Abel Beit-Maaca terminou de forma tranquila, tendo a vida de seus moradores
sido preservada. Mas, não duvidemos, Seba não agirá em benefício da população que
o acolhe. O inimigo do Rei é, consequentemente, inimigo do bem, da paz, das
famílias, inclusive das crianças, dos enfermos e dos idosos, pelos quais não
guarda compaixão alguma. Que o período seja marcado por reflexões que nos levem
a identificar o mal que reside em nós ou conosco, agindo com coragem de
guerreiros para apresentá-lo ao Rei e experimentarmos a paz em nossa caminhada.
por Sara Alice Cavalcanti
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