A Ética do Sermão do Monte

A Ética do Sermão do Monte


Jesus é o Rei dos reis e Senhor dos senhores. É “o Cristo, o Filho do Deus Vivo” (Mateus 16.16). Na Sua encarnação, “Deus habitou entre nós” e foi anunciado que o Reino de Deus está entre nós (Lucas 17.21, ARC). Todo aquele que decide entregar sua vida a este Rei é cidadão deste Reino e, como tal, deve obedecer às leis estabelecidas pelo governante. No caso do Reino de Deus, o governante é Jesus e Ele estabeleceu como deve ser o comportamento adotado pelos Seus súditos.

O Sermão do Monte (Mateus 5-7) é considerado por muitos estudiosos como o sermão mais importante da história da humanidade, por dois motivos. Primeiro, ele foi feito pelo próprio Cristo, “o autor e consumador da nossa fé” (Hebreus 12.2), e nele o Rei deixa claro como devem ser as atitudes diárias do cidadão de Seu Reino. Ele é a constituição que deve ser observada. Segundo, este sermão é o código de ética da vida cristã. Para entendermos o que isso significa, devemos entender o que é ética e como é diferente da moral.

Podemos afirmar de forma resumida que moral é o conjunto de costumes estabelecidos por uma sociedade e que devem ser observados pelos indivíduos que fazem parte dela. Se alguém observa esses costumes sociais, dizemos que essa pessoa tem moral. Se não observa, dizemos que essa pessoa é imoral. A ética vai analisar se esses costumes sociais estão realmente certos. Por exemplo, em Mateus 6.16-18, Jesus ensina como o cidadão do Reino deveria jejuar. Se naquela sociedade era honroso demonstrar que estava jejuando, a ética do Sermão do Monte afirma que este costume é errado. Em Mateus 5.38-42, fica entendido que a vingança era um costume comum naquela sociedade. Era “olho por olho, dente por dente”. Mas a ética do Sermão nos diz que o cidadão do Reino deve ser manso e pacífico. No capítulo 5 de Mateus, em cinco momentos Jesus diz a seguinte expressão: “ouvistes o que foi dito”. Ele apresenta um costume daquela sociedade e depois inicia um novo ensinamento com a expressão “eu, porém, vos digo”. Em outras passagens desse sermão, o Rei orienta Seus discípulos para que a justiça deles “exceda a dos escribas e fariseus” (Mateus 5.20). Através desse sermão, o Mestre nos ensina como deve ser o relacionamento do homem com Deus, com ele mesmo e com a sociedade.

Em Mateus 6.25-34, Jesus nos ensina que não devemos andar ansiosos com o que havemos de comer ou vestir, nos orientando como deve ser o nosso relacionamento com os bens materiais. Mas será que é errado se preocupar com a provisão diária, com o que haveremos de comer ou o que haveremos de vestir? Mesmo em tempos de crise econômica ou recessão? A ética do Sermão do Monte afirma que sim.

O verso 25 inicia com a expressão “por isso”, indicando uma consequência do que havia sido dito anteriormente. Nos versos anteriores, Jesus está ensinando sobre o desejo de acumular bens materiais e que isso faz com que o ganancioso e avarento sirva às riquezas e não a Deus. Para Jesus, não é só este tipo de pessoa que serve a Mamom, mas também aquele que, mesmo que involuntariamente, se valoriza demais bens materiais. Por qual motivo? Porque essa ansiedade faz com que o homem se afaste do objetivo de Deus ao criar a humanidade. Deus criou o homem para o louvor da Sua Glória (Efésios 1.11,12) e para que o homem tivesse um íntimo relacionamento com Ele (Salmos 73.23), um relacionamento que envolve proximidade e adoração. Quando a preocupação e a ansiedade invadem o coração do homem, esse relacionamento fica prejudicado.

Jesus afirma que Deus cuida de nós e devemos confiar no Seu cuidado. E nos dá dois exemplos disso:

1) Deus cuida dos pássaros. Eles recebem do Criador um pouco de comida e água e isso é mais do que suficiente para que eles anunciem as maravilhas do Senhor que os criou (Salmos 19.1). O Mestre nos ensina a sermos como as aves, que são totalmente dependentes de Deus. Por isso nada lhes falta. Se o homem se colocasse nessa posição, seria mais feliz. Mas o homem já esteve nesta condição, como os pássaros, na total dependência de Deus. Quando? Antes da Queda. Qual era o bem material que Adão possuía antes de pecar? Nenhum! Nem roupa ele tinha. Mas possuía um perfeito relacionamento com seu Criador e Senhor. Deus cuidou de Adão da mesma forma que cuida de nós. Disse o salmista: “Fui moço e agora sou velho; mas nunca vi desamparado o justo, nem a sua descendência a mendigar o pão” (Salmos 37.25). Deus é o nosso Pai Celestial (Mateus 6.26). Essa descrição de Deus demonstra a garantia do Seu cuidado por nossas vidas. Aqueles que creram em Jesus e por isso são chamados de filhos de Deus sabem que têm a atenção paterna sobre si. Deus se alegra em cuidar de nós. Jesus está nos ensinando que a preocupação não produz nenhum benefício.

2) Deus veste os lírios. A riqueza de Salomão deixava a reis e rainhas boquiabertos (1 Reis 10.1-13), contudo suas roupas eram trapos comparadas aos lírios vestidos por Deus. O Mestre afirma que assim como o Pai alimenta os pássaros e veste os lírios, fará com Seus filhos. Mas os que mesmo assim se preocupam são chamados de “homens de pequena fé” (Mateus 6.30). Essa pequena fé faz com que aquele que se preocupa aja como se Deus não se importasse com ele ou fosse incapaz de lhe sustentar. Jesus está combatendo um tipo de preocupação que surge da falta de fé e é exibido em um estilo de vida obcecado em provisões. Não é errado juntar uma reserva para o dia mal, mas temos que saber que quando esse dia chegar, não é a reserva que vai nos sustentar, mas o Senhor.

Em Mateus 6.31, 32, Jesus proíbe uma vida de angústia pelos bens materiais, pois este é um estilo de vida dos que não têm um relacionamento com Deus. Os filhos têm suas necessidades conhecidas pelo Pai Celestial. Mas, se o cidadão do Reino de Deus não deve se preocupar com a provisão diária, qual deve ser sua prioridade? Eis a resposta: “Mas buscai primeiro o Reino de Deus, e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão acrescentadas” (Mateus 6.33). Deus acrescenta a provisão diária na vida daqueles que têm o Seu Reino como prioridade. O cidadão do Reino não deve ansiar possuir bens materiais, mas ser santo. A falta destes bens não deve causar angústia, mas, sim, a falta de intimidade com Deus. Em Mateus 6.34, Cristo afirma que não devemos ficar inquietos com o dia de amanhã. Como? “Lançando sobre ele toda a vossa ansiedade, por que ele tem cuidado vós” (1 Pedro 5.7). “Basta a cada dia o seu próprio mal”. Devemos pôr em prática aquilo que aprendemos na oração do Pai Nosso: “O pão nosso de cada dia nos dai hoje”. Deus cuida diariamente de nós.

por Sérgio de Moura Sodré

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