Os que não ouviram o Evangelho serão salvos por sua conduta?

Os que não ouviram o Evangelho serão salvos por sua conduta?


O apóstolo Paulo justifica em Romanos 2.14,15 que aqueles que não ouviram o Evangelho serão salvos por sua conduta? Qual a correta compreensão do texto?

Aos Romanos, Paulo propõe uma reflexão acerca da nossa consciência. Segundo o pastor Antonio Gilberto, a consciência é uma competência que Deus colocou no homem para que ele atente para as leis morais em seu interior. O texto bíblico acima referenciado é dirigido aos judeus que, imersos em suas observâncias da lei, acreditavam ser alvo de privilégios e agraciados com uma atenuação das consequências dos seus pecados.

Muitos acreditam na defesa paulina de que os gentios podem ser salvos, mesmo não tendo recebido a Lei, ou ainda, justamente por isso. No entanto, essa linha de pensamento não se sustenta. De acordo com o Comentário Bíblico Beacon, quando os gentios fazem naturalmente as coisas que são da Lei, mesmo não a possuindo, fazem pela consciência disponibilizada ao ser humano por Deus no momento da criação. Nesse entendimento, são também pecadores e estão aptos ao julgamento. O fato de “para si mesmos serem lei” não implica o homem ser autossuficiente em sua própria lei, mas, sim, o contrário: por terem consciência moral, estão dotados também da culpa universal da humanidade e também necessitam da justiça divina.

Para Paulo, tanto os judeus quanto os gentios são pecadores e, diante de Deus, terão as devidas penas pelo seu pecado e o julgamento se valerá da lei sob a qual cada um tem vivido. Os gentios serão também julgados mediante a “lei” que trazem no coração e, tendo pecado, perecerão. Como frisa o pastor José Gonçalves, todo homem traz em si a imagem de Deus e, sendo assim, são dotados de uma inclinação inata a perceber que existem ações boas e ações más. Segundo Matthew Henry, os gentios traziam dentro de si a percepção do que deveriam fazer segundo a luz da natureza e de sua consciência. Dessa forma, ninguém pode valer-se da ignorância da Lei para praticar o mal e omitir-se do bem.

No contexto bíblico da escrita da Carta aos Romanos, os judeus estavam reivindicando para si privilégios especiais, pois se valiam da posse da Lei para se vangloriar sobre os gentios. Como destaca o pastor Elienai Cabral, a Lei não fazia os judeus superiores, mas, sim, lhes mostrava o quanto estavam distantes das diretrizes divinas. Judeus e gentios tinham nas obras a possibilidade de demonstrar os valores que traziam consigo: os judeus, os valores da Lei, os gentios, os valores da consciência inata. No entanto, devemos destacar que o homem jamais será salvo em decorrência de suas obras ou por merecimento de qualquer natureza.

Ao contrário do que afirmam muitos, Paulo jamais ensinou que os gentios bondosos seriam justificados por suas obras. O que o apóstolo reforça nesse fragmento da Carta aos Romanos é que tanto a lei quando a boa conduta pela consciência humana é desejável, porém não determinam a justiça divina.

Referências:

Bíblia com comentários de Antonio Gilberto. Rio de Janeiro: CPAD, 2021. p.1615.

CABRAL, Elienai. Romanos: o evangelho da justiça de Deus. Rio de Janeiro: CPAD, 2017. p.39-42.

Comentário Bíblico Beacon. Vol.8. Rio de Janeiro: CPAD, 2006. p.54-55.

GONÇALVES, José. Maravilhosa Graça: o evangelho de Jesus Cristo revelado na Carta aos Romanos. Rio de Janeiro: CPAD, 2016. p.25-26.

HENRY, Matthew. Comentário Bíblico de Matthew Henry. Rio de Janeiro: CPAD, 2002. p.926.

por Marcos Tedesco

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