Em um contexto de estagnação econômica, onde o desemprego assola as famílias, as empresas vivem momentos de baixa produtividade e em todos os níveis de governo se observa que o dinheiro não está dando para pagar as contas, falar de estabelecimento e controle de mesada para os filhos pode parecer algo fora de propósito. Mas ao contrário, este tema se reveste de vital importância para a educação dos nossos filhos e o futuro deles.
Muito do que vemos acontecer na economia dos dias atuais é
fruto do despreparo financeiro do brasileiro. E isso acontece porque as pessoas
simplesmente não sabem lidar com o dinheiro. Não foram ensinadas, desde cedo,
nos princípios básicos de uso adequado dos recursos financeiros. Essa lacuna
resulta em sofrimento pessoal, dos familiares e, em uma visão mais ampla, de todo
o país, pois é visível o total despreparo dos nossos líderes em lidar com o
dinheiro arrecadado por meio dos impostos.
Aqui se encaixa, plenamente, o conselho do sábio: “Instrui o
menino no caminho em que deve andar, e, até quando envelhecer, não se desviará
dele” (Provérbios 22.6).
Estabelecer e controlar mesada para os filhos é a melhor
forma de educá-los financeiramente, ou seja, de ensiná-los os fundamentos do uso
adequado do dinheiro. Assim que os filhos já tiverem conhecimentos sobre o que
é o dinheiro, conhecerem as notas, saber que precisa do dinheiro para comprar e
tiverem condições de sozinhos comprarem algo, aí deve começar a educação
financeira deles.
Dar e controlar a mesada com certeza é uma ferramenta
poderosa de educação financeira. Alguns pontos, entretanto, precisam ser cuidadosamente
observados e que resumidamente tratamos nesse artigo.
Estabelecer e controlar a mesada precisa ter como pano de
fundo a intenção em educar financeiramente, senão, a mesada sem controle ou com
controle excessivo passa a ser uma fonte de problemas para as famílias.
Explico: a ausência de condições para o recebimento e uso do dinheiro, em pouco
tempo se reverterá em reclamações para receberem valores cada vez maiores,
passando a ser tratado como “dinheiro fácil”. Ou então passa a ser uma “fonte
de opressão” onde os pais passam a impor incontáveis exigências que não terão
relação direta com a educação, mas com a manutenção do poder. Assim, como em
tudo, equilíbrio é o segredo.
Hoje, para termos dinheiro, ou empreendemos ou trabalhamos como
empregado. Nos dois casos nossos esforços resultam em ganhar dinheiro. Dizendo
de outro modo, para ter dinheiro precisamos dar algo em troca. Nada é grátis. A
mesada deve passar por esse mesmo princípio, ou seja, o recebimento da mesada
deve passar por alguma retribuição do seu filho. Ajudar nas tarefas de casa é
um bom caminho. A mesada deve ter origem na contribuição de manter a casa em ordem,
como por exemplo: deixar o quarto limpo, a cama arrumada, levar o lixo para
fora, ajudar com a louça, etc. Mas, cuidado, não coloque nesta lista algo que
seja obrigação natural dele, como por exemplo: tirar boas notas, fazer os
trabalhos e deveres de casa impostos pela escola, ir à igreja, cantar no grupo
de adolescentes, etc. Obrigação natural remunerada subverte as coisas e
confunde a criança ou adolescente. Diferenciar colaboração de obrigação exigirá
dos pais muita sabedoria e firmeza no propósito. O objetivo é de dar a seu
filho a melhor educação financeira possível e remunerar obrigação natural não é
um caminho saudável. Por fim, controle as tarefas e estabeleça um justo
desconto por cada tarefa que não for cumprida (observando que a soma do valor
das tarefas tem que ser igual ao valor da mesada).
Uma boa comunicação das condições de recebimento da mesada é
fundamental. Seu filho precisa entender exatamente tudo. Uma dica: despois de
explicar tudo, peça para ele mesmo explicar para vocês o que ficou acordado.
Isso ajudará vocês a checarem o entendimento dele e a corrigir eventual
problema já no início do processo.
Estabelecido o valor da mesada e as condições para
recebimento e o que acontecerá no caso de não cumprimento do acordado, chega o momento
de ensiná-los ao melhor uso do dinheiro. Um fiel dizimista e um bom ofertante
surgem nesse momento. Desde o primeiro recebimento, ensine seu filho que
devolver ao Senhor o dízimo é a obrigação de todo cristão. Se desde a sua primeira
mesada ele já aprender esse princípio, quando ficar idoso não deixará de
fazê-lo. Um bom poupador também pode surgir nesse momento. Ensine-o a guardar
uma parcela da sua mesada, algo entre quinze e vinte por cento dela, para que
no futuro ele possa comprar algo que não teria condições com a sua mesada
mensal. Essa disciplina em guardar dinheiro tem um valor inestimável para o futuro
dele. Poupar significará não pagar juros, estar preparado para alguma
adversidade, etc. Ensine-o o valor desse princípio.
Por fim, ensine-o, também, a utilizar o restante do dinheiro
dando dicas sobre o que comprar, a estabelecer prioridades de compra, a separar
as coisas interessantes daquilo que é importante e enfim, dicas de como você
usaria o dinheiro. Aqui há muita coisa para ser ensinada, inclusive como ele vai
lidar com a frustração quando descobrir que o dinheiro é mais curto do que ele
imagina. Dadas as dicas de uso, deixe-o decidir o que vai comprar e
experimentar o que valeu a pena e o que foi uma compra desnecessária ou, ainda,
ter pago um preço muito caro por não ter pesquisado direito e depois descobrir
o mesmo produto mais barato e que com a diferença ele poderia ter poupado ou
comprado mais alguma coisa. Essas frustações são importantes para ele aprender
a comprar certo. Não o acuse de ter sido precipitado ou qualquer outra crítica.
Entenda que ele está aprendendo e cabe a você dar a ele suporte para essas descobertas
e orientar o melhor caminho a seguir. É melhor ele errar em pequenas coisas,
mas aprender os melhores princípios do uso adequado do dinheiro, do que ser
totalmente tutoreado por você e acabar sendo um indeciso.
Estabelecimento e controle da mesada precisam ser vistos
como um dos importantes legados que os pais podem dar a seus filhos. Educação
financeira se ensina em casa e valerá para o resto da vida deles.
por Ariel da Silveira
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