Como interpretar de forma correta e paralelamente os textos de Mateus 27.5 e 1 Coríntios 15.5?
Em se tratando de textos que estão conectados pelo mesmo assunto, é imprescindível analisar hermeneuticamente esse link entre as passagens bíblicas com os “óculos” dos seus respectivos contextos para não fazermos interpretações equivocadas na junção dos textos. O texto de Mateus fora escrito entre 60-65 da era cristã. A primeira carta de Paulo aos Coríntios, um pouco antes, entre 50-55 d.C. Mateus objetivava comprovar para os judeus, de acordo com as Escrituras veterotestamentárias, que Jesus era o Messias prometido pela Torá, Profetas e Escritos. Já Paulo escreve a Primeira Carta aos Coríntios para resolver problemas de desvios doutrinários relacionados à prática cristã, dentre eles sobre a ressurreição.
Judas, de acordo com o relato bíblico, não se arrependeu,
mas decidiu tirar a própria vida. Lemos assim em Mateus 27.5: “E ele, atirando para
o templo as moedas de prata, retirou-se e foi-se enforcar”. Ao fazê-lo, acabou
caindo e se ferindo gravemente, a ponto das suas vísceras serem expostas. “Ora,
este adquiriu um campo com o galardão da iniquidade; e, precipitando-se, rebentou
pelo meio, e todas as suas entranhas se derramaram” (Atos 1.18). A morte de
Judas deixou uma lacuna no colégio apostólico, por isso Pedro, em Atos 1,
entende que essa vaga deveria ser preenchida, e estabelece critérios para essa escolha
(Atos 1.21,22). Diante desses pré-requisitos, se apresentaram dois candidatos,
“José, chamado Barsabás, que tinha por sobrenome o Justo, e Matias” (Atos
1.23). Matias é escolhido por meio de um sorteio. Precisamos entender que a
forma como a escolha procedeu se deu nos moldes da velha aliança em função de
os apóstolos estarem no início da transição entre a Lei e a Graça.
Dito isso, concluímos que quando Paulo diz “e que foi visto
por Cefas, e depois pelos doze” (1 Coríntios 15.5), é uma referência ao quadro
completo dos apóstolos. Embora, no momento em que Jesus ressuscitou, Judas já estava
morto e Matias não havia sido eleito como substituto, esse último era um dos
quinhentos irmãos que foram testemunhas oculares da ressurreição de Cristo (1 Coríntios
15.6), haja vista que esse era um dos critérios para ser candidato a substituto
de Judas. “É necessário, pois, que, dos varões que conviveram conosco todo o
tempo em que o Senhor Jesus entrou e saiu dentre nós, começando desde o batismo
de João até ao dia em que dentre nós foi recebido em cima, um deles se faça
conosco testemunha da sua ressurreição” (Atos 1.21, 22). Portanto, a menção de
Paulo “pelos doze” faz a alusão ao efetivo apostólico integral, incluindo
Matias, que mesmo não sendo um dos “doze” na ocasião da ressurreição de Cristo,
viria a ser posteriormente.
Referências bibliográficas
Bíblia de Estudo Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD,
2002.
WIERSBE, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo.
Santo André, SP: Geográfica Editora, 2006.
por Geovane Leite
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