A mulher pode falar e ensinar na igreja?

A mulher pode falar e ensinar na igreja?


Qual a correta interpretação de 1 Timóteo 2.11,12, que diz: “A mulher aprenda em silêncio [...] A mulher não poderá ensinar nem dominar o homem”.

O ensino bíblico é contrário à participação feminina na Obra do Senhor? No propósito de responder esta questão, observadas as regras gramaticais e o contexto histórico e literário, apresentamos a interpretação pentecostal a respeito do tema. No século I, as mulheres não tinham permissão para estudar, exceto as que pertenciam à aristocracia. As mulheres judias não podiam nem ensinar os filhos homens com idade superior a cinco anos.(1) Desse modo, a carta de Paulo a Timóteo quebrava paradigmas culturais de seu tempo: não ao afirmar que as mulheres deveriam aprender em silêncio, mas no fato de incentivá-las a aprender.(2)

Aprender em “silêncio” é tradução do grego hesychia, empregado quatro vezes no Novo Testamento (Atos 22.2; 2 Tessalonicenses 3.12; 1 Timóteo 2.11; 2.12). A expressão indica uma atitude receptiva.(3) Portanto, não deve ser interpretada como proibição de a mulher fazer comentários na igreja.(4) Aqui, a exortação difere sutilmente daquela à igreja em Corinto: “As mulheres estejam caladas nas igrejas” (1 Coríntios 14.34).

A restrição às mulheres em Corinto foi ocasionada por atitudes irreverentes no culto público.(5) Recém-convertidas do paganismo, elas não conheciam os limites da liberdade em Cristo, portanto deveriam aprender em casa com seus pais ou maridos. No culto, deviam manter silêncio e não perturbar a boa ordem da adoração (1 Coríntios 14.35). No contexto de Timóteo, falsos mestres do sexo masculino tinham surgido na igreja (1 Timóteo 1.20; 2 Timóteo 2.17). Eles estavam ensinando fábulas contrárias à sã doutrina (1 Timóteo 1.4-7; 6.3-5). As mulheres eram um alvo vulnerável, os falsos mestres atuavam por meio de uma rede de acesso às suas casas (1 Timóteo 5.13; 2 Timóteo 3.6,7). Tal predileção ocorria pela condição cultural de pouca instrução, que tornava as mulheres suscetíveis ao erro.6 Elas estavam sendo enganadas tal como sucedera com Eva no Éden (1 Timóteo 2.14).

Nessa perspectiva, os termos gregos didaskõ (ensinar) e authenteõ (dominar), interpretados juntos, indicam a proibição das mulheres de ensinar de modo a dominar. Se traduzirmos authenteõ como “ter autoridade”, então as mulheres estão excluídas de qualquer atividade de liderança na igreja. Porém, se o termo for traduzido por “um ensino com autoridade”, então o significado é outro. Implica dizer que as mulheres não estão impedidas de participar das atividades da igreja, mas, sim, o de exercer “um papel que envolva o ensino com autoridade apostólica que a igreja deve ter”.(7) Corrobora com esta interpretação o fato de Paulo aprovar que as mulheres orem e profetizem no culto público (1 Coríntios 11.4,5). Aos Romanos, ele faz referência a um número de cerca de duas vezes mais homens do que de mulheres, porém elogia um número cerca de duas vezes maior de mulheres do que homens (Romanos 16.3-16).8 Entre as mulheres, destaca-se Priscila, que ensinou a Apolo (Atos 18.24-26; Romanos 16.3); Febe, que trabalhava na igreja (Romanos 16.1); Maria, Trifena e Trifosa, cooperadoras na Obra (Romanos 16.6,12); e Evódia e Síntique, muito ativas na Seara do Senhor (Filipenses 4.2). Desse modo, o contexto histórico esclarece que as orientações em Coríntios e em Éfeso não eram para as mulheres em geral. Não significa que as mulheres nunca deveriam ensinar na igreja. As mulheres são membros do corpo de Cristo e compartilham dos mesmos dons espirituais (1 Coríntios 12.11; Gálatas 3.26-28). Portanto, o versículo em apreço deve ser considerado como uma ordem imposta na igreja em Éfeso e que “nenhum ensino universal que prenderia a igreja de todas as épocas, pode ser fundamentado corretamente neste texto”.(9) Ou seja, ensinar na igreja não é proibido às mulheres.

Notas bibliográficas

1 RIBAS, Degmar (Trad.). Comentário do Novo Testamento: Aplicação Pessoal. Vol. 2. Rio de Janeiro: CPAD, 2009, p. 490.

2 KEENER, Craig. Comentário Histórico-Cultural da Bíblia: Novo Testamento. São Paulo: Edições Vida Nova, 2017, p. 720.

3 RIBAS, 2009, p. 490.

4 RICHARDS, Lawrence. Comentário Histórico-Cultural do Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2008, p. 470.

5 HARPER, A. F. (Ed.). Comentário Bíblico Beacon. Vol. 9. Rio de Janeiro: CPAD, 2005, p. 466.

6 REID, Daniel G (Org.). Dicionário de Paulo e suas cartas. São Paulo: Vida Nova, 2017, p. 645.

7 RICHARDS, 2008, p. 470.

8 REID, 2017, p. 643.

9 HARPER, 2005, p. 466.

por Douglas Baptista

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