A graça salvadora de Deus – parte 2

A graça salvadora de Deus – parte 2


A relação da graça e do amor de Deus no conhecido texto de João 3.16 fala do propósito divino de garantir a salvação. A referência joanina traz a conjunção grega hina (“para que”) e o verbo grego no subjuntivo eche (“tenha”), e gramaticalmente, quando essa conjunção e esse verbo se encontram na mesma oração, indica propósito. O objetivo da entrega de Jesus para ser morto não é alguém alcançar bens materiais, mas, sim, ter a vida eterna com Deus. O texto também deixa implícito que o amor de Deus inerente à Sua graça, exposto no sacrifício do Filho, livrará as pessoas do inferno.

O apóstolo Paulo, do mesmo modo, relaciona a graça com o amor de Deus (Romanos 5.8). No texto paulino, o verbo “provar” é a palavra grega sunistesin, que se encontra no presente do indicativo. O tempo presente indica uma ação inacabada. Deus demonstrou o Seu amor entregando o Seu Filho uma única vez, no entanto essa ação inacabada implica um valor eterno desse amor.

Para as pessoas glorificarem o Senhor em relação à Sua graça, devem iniciar por onde a Bíblia começa: pela compreensão da doutrina do pecado. Os homens precisam entender acerca do pecado, não exatamente um entendimento lexicográfico do termo, que significa “errar o alvo”, mas uma compreensão acercado dos seus efeitos na vida do homem e no restante da criação de Deus. Só se sabe o quanto brilha uma estrela quando ela é posta em um céu negro. Semelhantemente, para se saber o quanto a graça de Deus é especial, se faz necessário situá-la dentro do entendimento da negridão do pecado.

A queda de Adão resultou na desconstrução do caráter moral de Deus na natureza humana, feita à Sua imagem, que foi acompanhada simultaneamente por males físicos e espirituais. O pecado é universal, uma vez que todos pecaram (Romanos 3.23). O homem já nasce com o pecado herdado de Adão (Salmos 51.5). O pecado é irracional: os homens dominados por ele fazem coisas sem pensar. O pecado afeta os sentimentos: Deus disse para Noé que o coração do homem é continuamente mau (Gênesis 6.5). O pecado afetou a mente: o apóstolo Paulo disse que o Diabo, o deus deste século, cegou o entendimento dos incrédulos para impedir a luz do Evangelho revelar a glória de Deus em Cristo (2 Coríntios 4.4). O pecado dá uma falsa impressão de que o ser humano é bom, um jeito perigoso de elevar a justiça humana, justiça esta que é considerada na Bíblia como trapo de imundícia (Isaías 64.6).

Devido à impossibilidade de o homem compreender a forma como o pecado prejudicou a sua vida espiritual, Deus usa todas as mazelas no mundo, como doenças, terremotos, tsunamis, guerras etc., como reflexos para a humanidade contemplar e perceber o quanto o pecado ofendeu o mundo espiritual. A morte física é a reprodução da morte espiritual e da morte eterna como pagamento do pecado (Romanos 6.23). Em outras palavras, as misérias manifestadas no mundo físico seriam o grito de Deus dizendo: “Olha como/o quanto o pecado afrontou a minha santidade e causou turbulências na vida espiritual dos homens”. A ideia de o pecado afrontar a Deus quer dizer que o homem manifesta um grande desrespeito contra o Senhor que o criou para refletir a Sua imagem. Por conta disso, o Criador estabeleceu um propósito para punir o pecado no pecador.

O pecado aconteceu na esfera física e ao mesmo tempo na esfera espiritual. Trouxe consequências físicas e danos eternos. Logo, a solução para o pecado, para resolver os males espirituais, deveria ser realizada no corpo. Isso só seria possível se o espiritual se revestisse do físico; a eternidade, da temporariedade; e o divino, do humano. Pela graça de Deus, esse feito aconteceu quando o Espírito se fez carne, o Eterno rompeu o tempo, o Altíssimo rompeu a barreira do pecado a partir do momento que andou, comeu, bebeu e conversou com pecadores. A sentença do pecado por intermédio de Deus se revestindo de carne humana tinha o propósito de trazer tudo a como era no princípio – o físico se revestir do espiritual e a mortalidade da imortalidade (1 Coríntios 15.53).            

Referências

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LEITER, Charles. Justificação e Regeneração. São José dos Campos, SP: Fiel, 2015.

por Natanael Diogo Santos

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