Líder do Conselho de Educação e Cultura da CGADB sinaliza pontos no documento que contrariam as Escrituras, preocupando famílias e igrejas
Um assunto que aqueceu os debates políticos dos últimos anos está de volta ao cenário nacional brasileiro: o Plano Nacional de Educação (PNE). Críticas e alertas têm sido feitos por lideranças eclesiásticas e políticos evangélicos às propostas a serem implementadas no decênio 2024-2034, constantes no documento norteador do PNE. Os principais problemas apontados são a falta de ampla publicidade e o forte viés ideológico progressista presente nas estratégias educacionais a serem adotadas.
Ainda a ser aprovado pelo Congresso Nacional, o PNE está dividido
em sete eixos temáticos, nos quais, segundo o pastor Douglas Roberto de Almeida
Baptista, presidente do Conselho de Educação e Cultura da Convenção Geral dos
Ministros das Igrejas Evangélicas Assembleias de Deus do Brasil (CEC/CGADB) e
comentarista da revista Lições Bíblicas Adultos de Escola Dominical da Casa
Publicadora das Assembleias de Deus (CPAD), “as estratégias fazem apologia aos
cultos afros, à erotização das crianças e à prática da homossexualidade”.
Pastor Douglas Baptista apresenta alguns destaques extraídos
do documento do governo federal, para que, como ele diz, “os progressistas de
plantão e adeptos da teologia liberal não venham nos acusar de desinformação”.
No eixo de número um, que trata do Sistema Nacional de Educação (SNE), o
documento faz apologia à história afro-brasileira como manifestação da cultura
popular (Estratégia 374), propondo a oferta, por meio das universidades
públicas, de cursos de extensão, especialização, mestrado e doutorado sobre
cultura afro-brasileira e africana (Estratégia 676.1.17). “Isso significa”, diz
o pastor Douglas, “que os livros didáticos da educação básica e as instituições
de ensino superior vão ensinar os rituais das religiões de matriz africana,
como o candomblé e da umbanda, sob o pretexto de ser cultura e não religião.
Tais estratégias privilegiam uma manifestação religiosa em detrimento de outras
e ferem o modelo de estado laico”.
No eixo de número três, que trata dos Direitos Humanos, o documento
prevê inserir, na política de valorização de profissionais da educação, a discussão
de gênero e diversidade sexual (Estratégia 701.2.6), e implementar políticas de ações afirmativas para a inclusão
de LGBTQIPAN+ nos cursos de graduação, pós-graduação lato e stricto sensu
e nos concursos públicos (Estratégia 704.2.9), além de apoiar financeiramente pesquisas sobre gênero,
orientação sexual e identidade de gênero (Estratégia 706.2.11); desenvolver programas de
formação inicial e continuada em sexualidade e diversidade (Estratégia 712.2.17); promover junto a Capes e ao
CNPq, políticas de pesquisa voltadas para as temáticas de gênero e orientação
sexual (Estratégia 725.2.30); e
garantir acesso a estudantes da comunidade LGBTQIAPN+ à universidade pública e
gratuita (Estratégia 733.2.38).
“Assim, sob o argumento de superar preconceitos, discriminação
e violência sexista no ambiente escolar, o verdadeiro propósito da inserção
destas temáticas no PNE são a apologia à ideologia de gênero e a efetivação de
uma educação LGBTQIAPN+, inclusive com a possibilidade de criação de cotas
especiais de acesso ao emprego, à educação superior e a financiamento público
de pesquisas stricto sensu para pessoas homossexuais, privilegiando
cidadãos por sua orientação sexual”, comenta pastor Douglas Baptista.
Outro ponto destacado pelo presidente do Conselho de Educação
e Cultura da CGADB é que “o documento é politicamente partidário de viés
esquerdista. Para citar apenas uma aberração, o texto classifica em quatro ocasiões
o impeachment de Dilma Rousseff (PT) ocorrido em 2026, de forma
democrática, conforme a legislação, como sendo um golpe de Estado (pp. 12, 13, 16
e 104). Apesar disso, não há nenhuma manifestação do STF ou da mídia que
classifique o documento como antidemocrático”.
No arremate de seus comentários, pastor Douglas Baptista diz
estar acompanhando com enorme preocupação esta tentativa de imposição na educação
dos brasileiros dos dogmas de uma manifestação religiosa, da erotização de
nossas crianças e da apologia à homossexualidade, além e convida os cristãos à
oração e à ação. “Precisamos alertar os congressistas conservadores a não
permitirem a aprovação desse documento, pois fere o princípio de laicidade e
desrespeita a pluralidade religiosa do Brasil”, conclui.
Há cerca de dez anos, quando se discutia o Plano Nacional de
Educação do decênio 2014-2024, a Frente Parlamentar Evangélica e a Bancada da
Assembleia de Deus tiveram importante papel na supressão de propostas progressistas
da lei. Em 22 de abril de 2014, após
forte pressão dos referidos
grupos de parlamentares, por15 votos contra 11, foi derrotada na Comissão do
PNE a proposta de incluir no texto a igualdade de gênero e a orientação sexual
nas escolas.
Como publicado em matéria na edição de junho de 2014 do jornal
Mensageiro da Paz, “desde o projeto de Lei
̈8035/2010, havia tentativa de inserir no PNE a ideologia de gênero. Por
sua vez, o Senado havia aprovado, em dezembro de 2013, uma nova proposta (PLC 103/2012)
que retirava a linguagem ideológica e acrescentava como diretriz do Plano a
‘formação para o trabalho e a cidadania, com ênfase nos valores morais e éticos
em que se fundamenta a sociedade’ (Art. 2º, V). O projeto voltou para a Câmara
e se tornou então objeto de discussão dos deputados filiados ao PT e seus
aliados, que almejavam retirar os ‘valores éticos e morais’ e reintroduzir o
‘gênero’ no PNE”. Membro da Comissão à época, o pastor assembleiano e deputado
federal Paulo Freire, então presidente da Frente Parlamentar Evangélica, ressaltou
na ocasião que “essa corrente ideológica busca afirmar que as diferenças entre
homem e mulher, além das evidentes implicações anatômicas, não correspondem a
uma natureza fixa, mas são produtos da cultura de um país e de uma época. Assim,
insistem na necessidade de ‘desconstruir’ a família, o matrimônio e a
maternidade como algo natural, e fomentam um estilo de vida que incentiva a homossexualidade,
o lesbianismo e todas as demais formas de sexualidade fora do matrimônio”.
Após a pressão dos parlamentares evangélicos, o documento foi
aprovado com alterações. A Lei nº 13.005, de 25 de junho de 2014, foi decretada
pelo Congresso Nacional e sancionada pela presidência da República, aprovando o
Plano Nacional de Educação, com vigência para 10 anos. Em seu Artigo 2º, entre
as diretrizes do PNE, estavam: I - erradicação do analfabetismo; II -
universalização do atendimento escolar; III – superação das desigualdades
educacionais, com ênfase na promoção da cidadania e na erradicação de todas as
formas de discriminação; IV - melhoria da qualidade da educação; V - formação
para o trabalho e para a cidadania, com ênfase nos valores morais e éticos em
que se fundamenta a sociedade; VI - promoção do princípio da gestão democrática
da educação pública; VII - promoção humanística, científica, cultural e
tecnológica do País; VIII - estabelecimento de meta de aplicação de recursos
públicos em educação como proporção do Produto Interno Bruto - PIB, que
assegure atendimento às necessidades de expansão, com padrão de qualidade e
equidade; IX - valorização dos (as) profissionais da educação; X - promoção dos
princípios do respeito aos direitos humanos, à diversidade e à sustentabilidade
socioambiental.
No Artigo 12 da referida lei aprovada há dez anos, é dito
que “até o final do primeiro semestre do nono ano de vigência deste PNE [ou
seja, até o final de junho de 2023], o Poder Executivo encaminhará ao Congresso
Nacional, sem prejuízo das prerrogativas deste Poder, o projeto de lei
referente ao Plano Nacional de Educação a vigorar no período subsequente, que
incluirá diagnóstico, diretrizes, metas e estratégias para o próximo decênio”.
Apesar da legislação em vigor determinar que a proposta deveria ser encaminhada
ao Congresso Nacional em junho 2023, o que foi informado, segundo o deputado
federal Olival Marques (MDB/PA), membro titular da Comissão de Educação da Câmara
dos Deputados, é que “o Ministério da Educação (MEC) encaminhará o projeto de
Lei do novo PNE 2024-2034 no primeiro semestre deste ano [2024]”. O parlamentar assembleiano informou
à nossa reportagem que “a pasta, contudo, disse não considerar que o trâmite
está em atraso e que a intenção [de estender o prazo] foi de debater as novas
metas com a sociedade, nas conferências municipais, realizadas em outubro [de 2023]
e nas conferências estaduais e na conferência nacional de educação, que
aconteceram na sequência”.
Embora o PNE 2024-2034 ainda não tenha sido encaminhado ao Congresso
Nacional, a Câmara dos Deputados realizou, ao longo de 2023, diversos eventos
em forma de audiências públicas para debater a questão. O deputado Olival
Marques destaca a audiência pública ocorrida no dia 11 de julho de 2023, na
qual se debateu acerca dos nove anos do PNE instituído pela Lei 13.005/2014.
Na referida audiência, o senhor Heleno Araújo, presidente da
Confederação Nacional de Trabalhadores em Educação (CNTE) e coordenador do
Fórum Nacional de Educação (FNDE), falou sobre o futuro decreto do governo federal
anunciando a realização da Conferência Nacional Extraordinária de Educação, o
que aconteceu em 11 de setembro de 20223, publicado sob o número 11.697. O coordenador do FNDE destacou
em sua fala: “Vamos ter as etapas municipais acontecendo de forma simultânea
nos dias 28 e 29 de outubro de 2023, sábado e domingo. As etapas estaduais e
distrital serão na primeira quinzena de novembro de 2023. E a etapa nacional, por
questões de espaço aqui em Brasília — nós conseguimos reservar o Centro de
Convenções Ulysses Guimarães —, será nos dias 28 e 30 de janeiro de 2024”.
Sobre o documento referência, Heleno Araújo disse na ocasião
que ele estava sendo elaborado pela Comissão Especial de Monitoramento e
Sistematização do Fórum Nacional de Educação, coordenada pela Associação
Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (Anped) e pela Secretaria de
Articulação Intersetorial e com os Sistemas de Ensino (Sase/MEC). Segundo ele,
“esse documento-referência receberá emendas nas etapas municipais, estaduais e
distrital. Após o recebimento dessas emendas, esse documento se tornará o
documento-base, que é a junção do documento inicial com as emendas
apresentadas. Esse documento-base será apreciado na conferência nacional, em
janeiro, para se produzir o documento final que indique princípios, objetivos, diretrizes,
metas e estratégias para o novo Plano Nacional de Educação 2024-2034”.
Próximo ao final de sua fala na audiência pública, disse o senhor
Heleno Araújo: “Quero também reafirmar a necessidade de nós, mais uma vez, de
forma participativa, retirarmos todo o entulho golpista e negacionista colocado
nas leis educacionais do nosso país”. Por sua vez, também na audiência pública
do dia 11 de julho de 2023, o senhor Gustavo Henrique Moraes, representando o
presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio
Teixeira (INEP), senhor Manuel Palacios, disse que “o novo Plano Nacional de Educação
não deve mais responder a uma realidade de 2024, pois não estamos mais em 2014.
Realidades que já apontavam em 2014 agora se tornam ainda mais evidentes. O
país precisa de um novo Plano Nacional de Educação que combata todas as formas
de desigualdade, todas as formas de discriminação e todas as formas de
violência, que faça uma repactuação com a democracia brasileira”.
O deputado federal Olival Marques ressalta que, apesar de
ainda não ter o texto legal apresentado, a Câmara dos Deputados recebeu,
somente no ano de 2023, mais de 20 projetos de lei para tratar acerca do tema, dentre
os quais se debatem os mais diversos assuntos relacionados à educação no
Brasil.
“Desta forma, como parlamentar evangélico e membro titular
da Comissão da Educação da Câmara dos Deputados, posso dizer que estou ansioso para
analisar o texto que será apresentado pelo MEC. Não posso deixar de ressaltar
que a nossa sociedade mudou ao longo desses dez anos, mas embora vivamos em um
mundo ‘moderno’, princípios cristãos não poderão ser deixados de lado. Creio
que a Comissão da Educação fará um debate acirrado acerca das questões que
serão trazidas no PNE 2024-2034, e nós
cristãos deveremos nos
posicionar em face ao que acreditamos e sabemos que é o melhor para os nossos jovens”,
comenta o deputado Olival Marques.
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