O combate ao mal e o limite da tolerância

O combate ao mal e o limite da tolerância


Iniciando uma breve ex-posição sobre o tema supracitado, precisamos, a priori, entender a definição do que é o mal. Ele é a carência da perfeição no sujeito em que o mal se dá; portanto, é a falta da perfeição, da virtude na natureza do ser. Enfim, é a privação do bem que o sujeito deveria possuir, do qual se encontra carente. O mal é aquilo que não é de boa qualidade, que é nocivo e prejudicial. O grande pai da igreja norte-africana, Agostinho, dizia que o mal é uma privação, uma falta, uma ausência do bem.

Observemos também que o ser humano, corrompido pela Queda, não tem condições de definir o que é bom por si mesmo; só o santo e perfeito Deus o pode revelar-nos, por isso o profeta Miqueias diz-nos: “Ele te declarou, ó homem, o que é bom” (Miqueias 6.8). Deste modo, quando uma sociedade se afasta de Deus e da revelação do que é bom em Sua Palavra, o mal prevalece.

Atualmente, preparando o caminho para o governo mundial do Anticristo, os líderes mundiais têm criado leis para barrar o anúncio do evangelho, do que é bom, e quem combate o mal é tachado de “intolerante”. Nas linhas abaixo, procuraremos, nas Sagradas Escrituras, o melhor modo de combater o mal e o erro sendo tolerantes com os “ignorantes e errados” (Hebreus 5.2) e, ao mesmo tempo, sem transigir com o mal e o erro.

A dificuldade de entender o método “intolerante” do Antigo Testamento

Muitas pessoas desprezam as Escrituras por entenderem que o Antigo Testamento é caracterizado por violência e intolerância. Para entendermos o modus operandi divino daquela época, necessário se faz saber o contexto histórico e a pedagogia de Deus naquele tempo. Em primeiro lugar, aquele povo rude, como os demais povos circunvizinhos, não entendiam outra linguagem senão a da força, semelhantes aos povos bárbaros que invadiram o Império Romano no final da Idade Antiga e início da Idade Média. Para infundir o bem nas mentes onde o mal estava incrustado, somente o aconselhamento, o ensino e a admoestação não seriam suficientes. Em segundo lugar, o próprio Novo Testamento nos revela que os fatos do Antigo Testamento serviram de “aio”, ou seja, de condutor de uma criança, para levar a humanidade a Cristo (Gálatas 3.22-25). Com o advento de Cristo neste mundo, os princípios eternos divinos da lei permaneceram, mas o modus operandi mudou. Cumpre-se agora a profecia de Zacarias: “Não por força, nem por violência, mas pelo meu Espírito, diz o Senhor dos exércitos” (Zacarias 4.2).

Deste modo, entendemos por que as ordens divinas no Antigo Testamento para a destruição de objetos de cultos pagãos e a eliminação de transgressores impenitentes etc. O aio (Lei), tinha que agir severamente com a “criança” rebelde, senão tudo estaria perdido.

Como dissemos acima, a Nova Aliança não veio para ab-rogar princípios divinos eternos, mas para cumpri-los, conforme nosso Senhor esclareceu em Mateus 5.17. O antigo Israel foi uma teocracia, mas o Evangelho é para todas as nações, e o Reino de Deus preconizado por Cristo não deve ser uma imposição aos cidadãos de um país, mas, sim, a lei de Deus reinando nos corações: “O Reino de Deus não vem com aparência exterior, nem dirão ei-lo aqui, ou ei-lo ali, porque o Reino de Deus está dentro de vós” (Lucas 17.20, 21). Assim sendo, pela proclamação do Santo Evangelho e do ensino da doutrina cristã, os valores do Reino de Deus são implantados no coração das pessoas, sem que seja necessária a violência e a intolerância.

O modus operandi de Cristo na tolerância quanto ao pecador, mas na reprovação ao mal e ao erro

O Senhor Jesus é o exemplo maior de como termos tolerância com o pecador e ao mesmo tempo combater o mal. O seu trato com a mulher samaritana nos mostra como devemos evangelizar nesta época em que estão procurando “cabelo em ovo” para acusar os cristãos de intolerância. Aprendemos que Jesus conquistou o coração daquela pecadora envolvida com todo tipo de males morais e doutrinários pela tolerância para com a pessoa dela. O Senhor a tratou com um respeito e afeto que nenhum dos seus concidadãos fizeram; conversou com ela, humilhou-se pedindo água, suportou seus desabafos etc. Depois de demonstrar tolerância para com a pessoa dela, mostrou-lhe incisivamente sua vida errada, quando disse: “tiveste cinco maridos e o que tens agora não é teu” (João 4.18). Também o Senhor, com muita maestria, mostrou-lhe que as crenças religiosas dela estavam equivocadas, quando disse: “Vós adorais o que não sabes” (João 4.22). Jesus falou-lhe a verdade sobre o mal de sua vida moral e sobre o mal de suas crenças religiosas contrárias à verdade divina. Observamos assim que se a pessoa se sentir amada, será capaz de ouvir com menos resistência o Evangelho de Cristo. O mesmo aconteceu com a mulher adúltera. Os intolerantes fariseus a queriam apedrejar. O Senhor, porém, tolerou-a com afeto e afugentou os seus algozes, fazendo-a sentir-se amada. Depois disto, apresentou-lhe a verdade divina repreendendo a sua má vida quando disse: “Vai-te e não peques mais” (João 8.11). Hoje, muitas igrejas há que se intitulam de “inclusivas”, pois acolhem o pecador junto com o pecado e o erro. Todavia, como vemos acima, não foi isso que o Senhor fez nem ensinou. São sábias as palavras do bispo de Hipona: “Ama e faze o que quiseres: se calares, calarás com amor; se gritares, gritarás com amor; se perdoares, perdoarás com amor. Se tiveres amor enraizado em ti, nenhuma coisa, senão o amor, serão os teus frutos”. Foi assim que nosso Senhor fez no Seu ministério e deu certo, e se o fizermos continuará dando certo.

Paulo, sua tolerância com as pessoas e a intolerância com o mal e o erro

Apesar do temperamento aparentemente forte e intransigente, o Apóstolo dos Gentios era de uma tolerância incrível para com as pessoas erradas. Ele nos ensina: “Falando a verdade, com o espírito de amor” (Efésios 4.15 – NTLH). Mais adiante, instruindo o recém-ordenado pastor Timóteo, seu filho ministerial, o adverte a como tratar os de vida errada: “Instruindo com mansidão os que resistem, a ver se, porventura, Deus lhes dará arrependimento para conhecerem a verdade e tornarem a despertar, desprendendo-se dos laços do diabo, em cuja vontade estão presos” (2 Timóteo 2.25, 26). Percebemos assim que Paulo está muito além do seu tempo, e suas orientações servem perfeitamente para a igreja hodierna, que vive debaixo dos olhos de uma sociedade que não quer que o mal seja coibido e fica procurando um meio de acusar os ministros da religião cristã de intolerantes.

Vale salientar que o apóstolo, ao chegar à idólatra Atenas, não chutou os muitos ídolos ali existentes, nem falou mal; antes, elogiou a intensa religiosidade daquele povo e, aproveitando-se de um dos seus muitos altares, anunciou-lhes a verdade do Evangelho e com muita prudência combateu o mal do paganismo (Atos 17.16-34).

Conclusão

A igreja destes últimos dias não pode renunciar às verdades eternas que nos foram outorgadas pelo próprio Deus para aparecer “bonita na fita” perante uma sociedade neopagã e ímpia, filha da pós-modernidade, modernidade líquida ou ultramodernidade, como já está sendo classificada. O inspirado sábio de Israel, pelo Espírito Santo, nos adverte: “Adquire (a todo custo) a verdade e não a vendas, nem a sabedoria, nem a doutrina, nem a inteligência” (Provérbios 23.23 – Vulgata Latina). Com muita precisão, a NVI nos diz: “Compre a verdade e não abra mão dela”.

Um comerciante de Lião, na França, em plena Idade Média, descobriu a verdade do Evangelho, começou a pregá-la e foi proibido pelos bispos da época. Continuou pregando e quando abordado por qual motivo estava desobedecendo às autoridades eclesiásticas, respondeu as palavras de Pedro aos principais dos sacerdotes: “Não podemos deixar de falar do que temos visto e ouvido [...] Mais importa obedecer a Deus do que os homens” (Atos 4.20; 5.29). Até então seu nome era simplesmente Valdo, depois disso passou para a história como Pedro Valdo. Façamos como as Escrituras nos ensinam e encomendemos nossas vidas nas mãos de Deus (1 Pedro 4.19).

por José Orisvaldo Nunes de Lima

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