Ecumenismo na Casa da Família Abraâmica e em declarações do Vaticano
A pluralidade religiosa humana é apontada pelos defensores do ecumenismo como um dos principais motivos geradores de conflitos na sociedade. Em suas mais de nove décadas de existência, o jornal Mensageiro da Paz tem trazido aos seus leitores matérias jornalísticas e artigos apologéticos abordando o tema, sempre apontando para as Escrituras e fazendo um paralelo com profecias bíblicas relacionadas ao fim dos tempos que sugerem que durante o estabelecimento do governo do Anticristo haverá a fomentação de uma única religião mundial (2 Tessalonicenses 2.1-12; 1 João 2.18-26; 1 João 4.1-6; 2 João 1.7; Apocalipse 13 e 19).
Em 2013, publicamos (edição 1.533, de fevereiro daquele ano,
página 13), a fundação do Centro Internacional para o Diálogo Inter-religioso e
Intercultural Rei Abdullah Bin Abdulaziz em Viena, capital da Áustria, Viena.
Os incentivadores do projeto disseram na época que o objetivo era a ampliação
do diálogo entre as diferentes religiões a fim de alcançar a paz mundo afora.
Mais tarde, em fevereiro de 2020, divulgamos (na edição
1.617, p. 13) o propósito do governo dos Emirados Árabes Unidos em inaugurar o primeiro
complexo inter-religioso a fim de promover o “chrislam”, levando alguns
muçulmanos a acreditar na possibilidade de os cristãos abraçarem a fé islâmica.
O ousado projeto arquitetônico, imaginado por muita gente como um
empreendimento de difícil concretização, foi inaugurado em 16 de fevereiro
deste ano como “Casa da Família Abraâmica” e aberto aos visitantes em 1º de
março.
Interpretado por seus idealizadores como um novo centro de aprendizado,
diálogo e prática da fé em uma tentativa de conjugar em um único local o
serviço religioso e diálogo aos fiéis das três principais religiões do planeta
(Judaísmo, Cristianismo e Islamismo), o complexo está localizado no Distrito Cultural
Saadiyat em Abu Dhabi, capital dos Emirados Árabes Unidos, e abrange três casas
de culto separadas – uma mesquita, uma igreja e uma sinagoga – além de espaços
compartilhados de encontro e diálogo. A inauguração foi realizada oficialmente
pelo tenente-general Saif bin Zayed Al Nahyan, vice-primeiro-ministro e
ministro do Interior; e Nahyan bin Mubarak Al Nahyan, ministro da Tolerância e Coexistência.
As três casas de culto foram projetadas pelo arquiteto britânico Sir David
Adjaye, da Adjaye Associates, com igual estatura e compartilhamento de
dimensões externas. O projeto foi inspirado nos princípios do Documento sobre Fraternidade
Humana, assinado pelo Papa Francisco e o Imã Ahmed El-Tayeb em Abu Dhabi, em
2019. Antes, porém, em junho de 2019, o Aeroporto Internacional da capital emiradense
havia inaugurado a sua primeira sala de oração inter-religiosa para os
passageiros de todas as regiões do mundo. Em 2018, foi inaugurada a primeira
sinagoga pela comunidade judaica de Dubai.
“O centro será uma plataforma de aprendizado e diálogo, um
modelo de coexistência que tem como pano de fundo o multiculturalismo e a
diversidade de nossa nação, onde mais de 200 nacionalidades vivem pacificamente
lado a lado. Esperamos que a Casa da Família Abraâmica inspire a juventude em todos
os lugares, enquanto destacamos nossa humanidade comum e trabalhamos para a
criação de um mundo mais pacífico para as gerações vindouras”, disse Mohamed Khalifa
Al Mubarak, presidente da Casa da Família Abraâmica.
O cardeal Miguel Ángel Ayuso Guixot, presidente do
Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-Religioso do Vaticano, argumentou que o
local estimula a volta do “amor ao próximo” que deve ser cultivado entre
pessoas de diferentes religiões, culturas, tradições e crenças. “Este será um
lugar que promove o diálogo e o respeito mútuo, e atua a serviço da
fraternidade humana enquanto percorremos juntos os caminhos da paz”, afirmou.
Por sua vez, o rabino chefe das Congregações Hebraicas Unidas da Commonwealth,
Sir Ephraim Mirvis, qualificou como histórico o dia da inauguração do complexo
religioso. “Nos reunimos para celebrar este notável monumento à bondade amorosa
– a Casa da Família Abraâmica. A partir de hoje, vamos usar este extraordinário
local sagrado para promover a harmonia e a paz. Em um mundo no qual as
diferenças podem nos separar, digamos aqui que nossos valores compartilhados
existirão para o bem de nossas aspirações universais”.
Embora haja o interesse de autoridades civis e líderes de
variadas religiões na ampliação do diálogo inter-religioso, apologistas da fé cristã
apontam o risco da influência nociva desse tipo de movimentação, que pode levar
os incautos à leniência diante de doutrinas e ensinos heréticos sob o argumento
da fraternidade universal.
O pastor Abraão de Almeida, no livro Israel, Gogue e o
Anticristo (CPAD), comenta a agenda do Conselho Mundial de Igrejas (CMI), organização
ecumênica fundada em 1948, em Amsterdam, Holanda, hoje com sede em Genebra,
Suíça. Falando sobre o órgão, que pode ser considerado uma das primeiras tentativas
oficiais de ecumenismo, de unir “todas as crenças em conflito, para que o mundo
tenha uma religião”, ressalta pastor Abrrão que “numa só palavra, isso quer
dizer ‘sincretismo’. O argumento do CMI é todos no mesmo barco: catolicismo,
protestantismo, budismo, espiritismo, maometanismo etc.”.
Irmã Sara Alice Cavalcanti, colunista da seção Em Dia com
Israel, do jornal Mensageiro da Paz, frisa, porém, que, no caso específico do empreendimento
nos Emirados Árabes, o que se tem é mais uma propaganda do país do que uma intenção
concreta de criar uma religião única, embora eventualmente esse tipo de
aproximação dos árabes possa contribuir para o ecumenismo, mas seria muito cedo
para dizer se será assim.
“Apesar da propaganda posterior declarar o complexo
arquitetônico como ‘templo da religião única’, a expressão foge da intenção de
inter-religiosidade. A proposta dos Emirados Árabes não é ecumênica em sua
essência, mas serve a uma propaganda de aceitação de diferenças ou, segundo as
palavras de seu arquiteto, serve como uma ‘poderosa metáfora, com este espaço
seguro onde comunidade, conexão e civilidade se combinam’”, declara Sara.
Segundo irmã Sara, “se a iniciativa inter-religiosa é apenas
um passo rumo ao ecumenismo, é cedo para dizer. Até mesmo porque o ecumenismo
tem, em Roma, sua preeminência e não há diálogo para com os ‘dissidentes’”. O
pastor Abraão de Almeida também destaca a liderança do Vaticano nesse processo.
“Roma não mudou, e os que estudam de perto seus objetivos sabem muito bem que o
ecumenismo por ela pregado tem certa ligação, por enquanto ainda indireta, com
o CMI (Conselho Mundial de Igrejas). O clero romano, por força da sua exegética,
arroga para sua igreja o direito e o dever de um domínio político espiritual de
âmbito mundial, segundo as pretensões dos papas Gregório III, Inocêncio IV e
outros eclesiásticos dos séculos X e XII”.
“Diante dessa postura histórica do que seja o ecumenismo”, acrescenta
irmã Sara, “como uma única religião em sujeição a Roma, seria difícil, senão
impossível para o momento, uma aceitação por parte dos líderes islâmicos,
judaicos e boa parte da chamada cristandade”.
A atual conjuntura da Igreja Católica, sob o Papa Francisco,
porém, insiste nesse processo ecumênico. Talvez nunca essa ênfase ecumênica do
Vaticano tenha se tornado tão explícita como agora. Falando à TV portuguesa
sobre os objetivos da Jornada Mundial da Juventude, realizada pela Igreja
Católica em Portugal entre os dias 1 e 6 de agosto, o bispo auxiliar da diocese
de Lisboa, Dom Américo Aguiar, falou: “Vamos darmos as mãos e dizermos assim:
eu penso diferente, eu sinto diferente, eu organizo a minha vida de modo diferente,
mas nós somos irmãos e vamos juntos construir o futuro. Isto é a mensagem
principal deste encontro com o Cristo vivo que o papa quer proporcionar aos
jovens. Nós não queremos converter os jovens a Cristo, nem à Igreja Católica, nem
nada disso, absolutamente. Nós queremos é que seja normal que o jovem cristão
católico viva e testemunho que o é, que o jovem muçulmano, judeu ou de outra
religião também não tenha problemas em dizer que o é e testemunhar; aquele jovem
que não confessa religião nenhuma se sinta à vontade, não se sinta estranho,
porventura, porque é assim ou de outra maneira. E que todos entendamos que a
diferença é uma riqueza. E o mundo será, objetivamente, melhor se nós formos capazes
de colocar no coração de todos os jovens esta certeza da fratellitutti, de
todos os irmãos. O papa tem feito um esforço megalômano para fazer ecoar no
coração de todos. No nosso e no de todos”.
A pergunta que surge é: nesse diálogo inter-religioso, quem
vai ceder mais na manutenção dos aspectos ortodoxos de sua religião: Judaísmo, Cristianismo
ou Islamismo?
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