O valor de Mateus 7.12

O valor de Mateus 7.12


Portanto, tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós, porque esta é a lei e os profetas” (Mateus 7.12).

Regra de ouro: é assim que o mundo acadêmico denomina este texto bíblico. Em virtude das exigências ético-racionais que este texto propõe, ele é amplamente utilizado como exemplo maior de comprometimento com o desenvolvimento de um princípio norteador da ação humana manifesto no campo da religiosidade ainda no mundo antigo.

O fato é que este texto traz consigo um impulso, ainda que primitivamente inconsciente, de reconhecimento da intersubjetividade. Ou seja, o ideal jesuânico contido em Mateus 7.12 traz consigo uma inevitável valorização do “outro” como um caminho para a efetivação do “eu”.

É que, refletindo sobre as nuanças do texto, podemos perceber que este sintetiza elementos fundamentais para uma condição humana consciente de si, tais como alteridade, autonomia e liberdade. Se não, vejamos.

Não há felicidade que se individualize de tal maneira que não dependa dos outros para se efetivar. Desse modo, a maneira mais segura para a construção da felicidade pessoal é viver em colaboração para a felicidade coletiva. Há ações que os outros podem realizar que inevitavelmente influenciarão minha vida. A grande questão que se levanta então é: será possível evitar que ações negativas promovidas por um outro repercutam em minha história?

A resposta, infelizmente, é não. Algumas ações negativas promovidas pelos outros inevitavelmente terão alguma repercussão em nossas vidas.

O impacto das consequências advindas das atitudes tomadas por terceiros em nossa vida é incalculável. Se não, pensemos: que mal fez a mãe que teve a filha atropelada por um bêbado que voltava de uma festa? Qual o pecado daquela criança que, enquanto brincava com os irmãos no meio da rua, foi vítima de uma bala perdida?

Como explicar ao pai que teve a filha sequestrada, violentada e morta, após sair da escola, que o despautério de alguém destruiu, de uma só vez, vida e sonhos do objeto de seu amor?

Todavia, diante desta funesta possibilidade – destruir vidas alheias com nossas ações individuais – Cristo nos constrange a erigir um paradigma ético revolucionário: o que você deseja para si, realize primeiro na vida dos outros. “Tudo o que vós quereis que vos façam, fazei-lho também vós”.

Parece, portanto, haver, pelo menos, três premissas que podem derivar do princípio jesuânico. São elas:

1) Reconheça o diferente como um “outro” possuidor de um “eu”, assim como você.

Por esta premissa, de uma só vez, Jesus descontrói o “eu” egoísta e xenofóbico, e o “outro” desprezível e ontologicamente estrangeiro, para construir um “nós” que restaura o reconhecimento como categoria fundante da condição humana – condição esta que nos aponta que somos todos irmãos, filhos de Adão, adotados pelo Pai em Cristo Jesus.

2) Seja agente da história, nunca expectador passivo.

Diante da inatividade dos bons, o mau inevitavelmente imperará. Aquele que sabe que atitude tomar e permanece de braços cruzados ante a injustiça dos maus é seu comparsa mais sórdido. Não há o que esperar de uma sociedade na qual os mais “espertos” são ovacionados enquanto os honestos achincalhados. Não há em quem colocar as esperanças quando os modelos inspirativos da população tornaram suas vidas populares exatamente por meio de escândalos e falhas morais.

Eu, pessoa, esclarecida por Cristo, renascida das trevas e transportada para a luz, devo agir de tal forma que minhas atitudes construam um mundo melhor, tanto para mim, quanto para aqueles ao meu redor e, por fim, a todos quantos possam, de alguma forma, por minhas ações, serem atingidos.

3) Não reduza seu universo práxico aos padrões irracionais e animalescos de uma sociedade que anda às cegas.

A atitude mais infantil e anticristã que alguém pode tomar é assumir como princípio norteador de suas ações a retribuição, ou seja, “Assim como fizeram para comigo, eu farei para com eles!”. Esta opção ética – negada pelo Evangelho – nos reconduzirá, inevitavelmente, às formas mais baixas e primitivas da condição humana. Diante dos erros de um “outro”, devo reavaliar minha prática, reformular meus valores e agir de modo a ser melhor do que o instinto bestial que há em mim, como pecador que sou, portador de uma natureza pecaminosa.

Parece, assim, que construir um mundo melhor é possível, pois se eu em minhas relações passo a ser melhor, uma parte não desprezível da realidade já se transformou.

Viva a Cristo! Viva o Cristo! Vivo é Cristo!

por Thiago Brazil

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