Emocionalismo e as autênticas manifestações pentecostais

Emocionalismo e as autênticas manifestações pentecostais


As manifestações físicas em cultos pentecostais são frutos apenas de emoção?

A tradição pentecostal está cheia de histórias de manifestações físico-emocionais em seus cultos. No livro Diário do Pioneiro,(1) que nos relata a trajetória do missionário Gunnar Vingren, é descrito que o fundador das Assembleias de Deus no Brasil experimentou um riso espontâneo no momento de uma oração congregacional. Certa vez, em um culto de oração, o autor deste artigo ficou com o braço levantado em posição de louvor por mais de 25 minutos sem nenhum sinal de cansaço. Essas experiências ultrapassam qualquer explicação natural e fortalecem a fé de quem as experimentou. Mas, diferente do neopentecostalismo, o pentecostalismo clássico entende que essas vivências, por mais impactantes que sejam, não podem ser ensinadas e reproduzidas como obrigatórias para todos os cristãos e nem devem virar modismo no meio cristão. Gunnar Vingren nunca ensinou a necessidade de uma “unção do riso” ou algo do tipo. Apenas os carismas bíblicos (batismo no Espírito Santo e dons espirituais) são normativos para a igreja, nunca as particularidades espirituais de cada pessoa.

É verdade que Deus se comunica com a nossa razão. Deus nos convida a compreender, ponderar, julgar, avaliar. O Senhor diz a Israel: “Venham, vamos refletir juntos” (Isaías 1.18 – NVI). Tudo isso envolve raciocínio com base em dados e fatos. Não é à toa que Deus revelou o essencial para a nossa salvação por meio de um livro: as Sagradas Escrituras. Mas, cabe lembrar que a verdade não é meramente abstrata, a verdade é, também, uma pessoa, a saber, a pessoa de Jesus Cristo, que disse: “Eu sou [...] a verdade” (João 14.6). E não nos relacionamos com uma pessoa apenas com base em proposições racionais. O relacionamento pessoal envolve a emoção, a subjetividade e a interioridade. O homem é racional, mas também emocional. As emoções e a subjetividade são parte importante da constituição humana e da sua comunicação consigo mesmo, com Deus e com o mundo ao redor.

Muitas atividades em cultos pentecostais e carismáticos são frutos de um estado emocional. As emoções sempre envolvem um turbilhão de sentimentos (alegria, euforia, tristeza etc.). Sabe-se que Deus é um comunicador de graça e as nossas emoções, tocadas pelo Espírito, podem provocar reações físicas não convencionais. Mas vale lembrar que nem toda reação físico-emocional é derivada diretamente do toque do Espírito. A emoção pode ser apenas fruto do ambiente e de músicas que despertam sentimentos. A emoção pode ser também provocada pela manipulação de pregadores inescrupulosos e de um estado de histeria coletiva. Ainda há outro fator: a personalidade do indivíduo. Muitas pessoas nascem com uma propensão a serem mais emocionais do que a média e em tudo acabam agindo com certo exagero.

Embora Deus use nossas emoções, é sempre importante lembrar que a emoção aflorada não pode ser confundida com uma espiritualidade sadia. É sempre possível chorar ou pular com entusiasmo, mas, ao mesmo tempo, cultivar pecados não arrependidos. Outro ponto importante: nossas emoções não podem atrapalhar o culto (vide 1 Coríntios 14). O culto deve sempre edificar toda a congregação, não apenas uma ou duas pessoas. Quem se deixa extravasar pelo lado emocional sem se importar com a edificação coletiva do povo de Deus age como uma criança egoísta que se acha o centro das atenções. O culto congregacional é de toda a congregação, não apenas do irmão mais emocional. Paulo adverte aqueles que centralizam o culto em torno de si com a seguinte pergunta: “Porventura, saiu dentre vós a palavra de Deus? Ou veio ela somente para vós” (1 Coríntios 14.36).

(1) VINGREN, Ivan. Diário do Pioneiro. 5ª ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2000. p 73.

por Gutierres Fernandes Siqueira

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