100 anos do jornalismo pentecostal

100 anos do jornalismo pentecostal


Missionário Gunnar Vingren fundou primeiro órgão oficial da Assembleia de Deus há 100 anos, o qual foi substituído pelo Mensageiro da Paz há quase 90 anos

Dentre as variadas estratégias evangelísticas colocadas em prática ao longo dos séculos, as lideranças cristãs sabiam que podiam contar com a versatilidade da nova tecnologia que nascia no século 15: a imprensa. A novidade surgiu dos esforços do alemão Johannes Gutenberg e veio ajudar na popularização dos panfletos do também alemão Martinho Lutero em sua missão reformadora. Ela ofereceu também uma contribuição ainda maior: a impressão da Bíblia Sagrada, cujo processo de impressão da primeira tiragem se iniciou em cerca de ̄1450 e foi concluído em 1455.

Séculos depois, com a chegada dos missionários norte-americanos ao Brasil, a imprensa evangélica desembarcou com eles. Em 1865, o missionário presbiteriano Ashbel G. Simonton fundou o jornal semanal Imprensa Evangélica. Os metodistas, já no final do século 19, lançaram o Cathólico Metodista, que depois mudou o nome para O Expositor Cristão. Os historiadores informam que a distribuição de literatura evangélica entre os protestantes foi de tamanha intensidade no final do século ̄19 que circulavam aos montes nesse período no Brasil jornais presbiterianos, batistas, metodistas e de outros grupos religiosos. 

Já a imprensa pentecostal teve início com a fundação da Assembleia de Deus em solo nacional. Como registra o Dicionário do Movimento Pentecostal (CPAD), os assembleianos reconheceram a importância da página imprensa como poderoso veículo de informação, por este motivo, em novembro de 1917, os pioneiros pentecostais lançaram o primeiro jornal, intitulado Voz da Verdade, sob a coordenação dos pastores Almeida Sobrinho e João Trigueiro da Silva, na cidade de Belém (PA). O jornal, porém, circulou só por dois meses.

Mais tarde, em janeiro de 1919, se deu a primeira iniciativa consistente. O pioneiro sueco Gunnar Vingren fundou o jornal Boa Semente, que logo ganhou o status de órgão oficial das Assembleias de Deus. Na época, ele contou com a colaboração do missionário sueco Samuel Nyström, do pastor Plácido Aristóteles e outros expoentes da denominação pentecostal em suas origens. Ao vir morar no Rio de Janeiro, Vingren lançou em 1929 o Som Alegre ao compreender a necessidade de um jornal com perfil noticioso, mas, ao mesmo tempo, evangelístico. Os crentes muniam-se de exemplares e saíam para distribuí-lo pelas ruas e nas praças, e retornavam com resultados positivos. Finalmente, em 1930, durante a primeira edição da Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil, na cidade de Natal (RN), foi decidido unir os dois jornais que ainda circulavam em regiões diferentes do Brasil (um ao norte e o outro ao sul) e, dessa forma, foi criado o Mensageiro da Paz que passou a ser o órgão oficial da denominação, de modo que, no primeiro dia de dezembro daquele ano, circulou a primeira edição do periódico, tendo como diretores os missionários Vingren e Nyström. 

Em 1937, o missionário sueco Nils Kastberg, que então pastoreava a Assembleia de Deus em São Cristóvão (RJ), convidou o jornalista Emílio Conde para trabalhar em tempo integral na redação do jornal Mensageiro da Paz. A partir de então, Conde dedicaria o seu talento e vasta cultura por mais de 30 anos ao periódico.

Em 1940, os pastores e missionários suecos reuniram-se na cidade de Salvador (BA), em uma assembleia geral da CGADB, a fim de deliberar sobre o decreto expedido pelo então presidente da República, Getúlio Vargas, que determinava que todos os jornais do Brasil fossem registrados imediatamente no Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), e que somente entidades com personalidade jurídica poderiam possuir jornais. A exigência das autoridades levou os líderes assembleianos a criar a Casa Publicadora das Assembleias de Deus (CPAD), que passou a atender aos anseios de pastores e líderes denominacionais na área de literatura evangélica em geral.

A década de 1950 foi caracterizada por muitas dificuldades, entretanto o compromisso da igreja em difundir o Evangelho, inclusive por meio da imprensa, subsistiu e, em setembro de 1956, foi lançada a revista A Seara, que, além de incentivar a cultura bíblica e em geral, noticiava acontecimentos sociais e culturais dentro das igrejas que serviam de estímulo para seus leitores. Através desse periódico, os crentes eram estimulados a serem o “sal da terra”, a influenciar a sociedade. Ao longo de sua trajetória, nomes de peso na literatura evangélica contribuíram para a consolidação da editora e também para a educação teológica de gerações de assembleianos: Emílio Conde, Joanyr de Oliveira, Orlando Boyer, Antonio Gilberto, Abraão de Almeida, Lawrence Olson, Armando Chaves Cohen, Elienai Cabral, Esequias Soares, Claudionor de Andrade e Nemuel Kessler, dentre tantos outros que poderiam ser mencionados. Todos eles abrilhantaram ou ainda abrilhantam as páginas dos jornais e revistas publicados pela CPAD através de artigos teológicos e devocionais sobre os mais variados temas de interesse do público assembleiano e evangélico de forma geral.

O tempo passou e, em 27 de setembro de 1970, o então gerente da CPAD, o pastor e empresário Altomires Sotero da Cunha, inaugurou as instalações da editora na Estrada Vicente de Carvalho, número 1.038, onde a CPAD funcionou por 22 anos. Desta vez, a empresa podia contar com parque gráfico moderno e equipado com máquinas que podiam imprimir até 20 mil Lições Bíblicas por hora ou 10 mil jornais Mensageiro da Paz por hora. Em outubro de 1977, foi lançado o primeiro número da revista Obreiro, e a juventude assembleiana ganhou a Jovem Cristão em outubro de 1978, primeiro periódico em cores lançado pela editora. Ela foi substituída depois pela revista GeraçãoJC. 

Em 2006 a editora já imprimia mais de 60 mil livros por mês, sem contar com as obras publicadas em espanhol, visando ao mercado latino-americano e hispano. Neste ano, os periódicos publicados pela CPAD, além do jornal Mensageiro da Paz, eram as revistas Obreiro, Geração JC, Resposta Fiel, Ensinador Cristão e Mulher, Lar e Família Cristã. 

No dia 4 de março de 1993, o administrador e publisher Ronaldo Rodrigues de Souza assumiu a diretoria da CPAD, dando início a um período de prosperidade administrativa, editorial e financeira nunca antes vista ao longo da jornada da instituição. Pouco antes disso, em 25 de janeiro de 1992, a CPAD já havia sido transferida para o seu atual endereço, na Avenida Brasil 34.401, no bairro carioca de Bangu.

Atualmente, o jornal Mensageiro da Paz está próximo de completar 90 anos de existência, mantendo o compromisso de informar, edificar e evangelizar, além de divulgar o que está acontecendo na obra de Deus no Brasil e no mundo, e comunicar as resoluções da Mesa Diretora da Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil (CGADB). Ele tem fortalecido a fé de seus leitores através de testemunhos e artigos teológicos. A revista Geração JC foi para as telas do computador; a revista Ensinador Cristão mantém-se dinâmica junto aos superintendentes de Escola Dominical e professores de ED; e o site CPAD News (em atividade desde 2010) noticia os fatos de interesse do público evangélico em geral e fortalece a fé dos internautas através dos artigos e conteúdo exclusivo para assinantes do Mensageiro da Paz. Sem falar da TV CPAD e do programa televisivo Movimento Pentecostal. É a Palavra de Deus sendo disseminada por todos os meios tecnológicos disponíveis no século 21.

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