Sobre o método usado para a substituição de Judas por Matias como apóstolo

Sobre o método usado para a substituição de Judas por Matias como apóstolo


A escolha de Matias para substituir Judas Iscariotes no colegiado dos doze foi realizada pelo método de lançar sortes, estratégia indicada pelo próprio Deus antes (Números 26.55; 33.54; 34.13; 36.2). Na Nova Aliança, essa metodologia não já deveria ter sido deixada de lado? Logo, a escolha de Matias foi legítima?

Inicialmente, convém observarmos que a escolha de um substituto para Judas era necessária e os apóstolos se empenharam com muito bom senso e temor a Deus para tomar essa decisão bem como para escolher o método a ser utilizado.

Antes de analisarmos o método em si de lançar sorte na escolha de Matias, é necessário destacarmos que esta não foi a única diretriz utilizada pelo apóstolos. Eles foram sumamente cautelosos e espirituais nessa importante decisão, não apenas lançando sorte, mas estabelecendo os seguintes critérios: 

1) Exame das Escrituras. Após a ressureição de Jesus, os apóstolos haviam recebido um entendimento dimensionado das Escrituras (Lucas 24.44,45). Isso os levou a examinar e compreender as Escrituras, que vaticinaram a traição de Judas e que seu lugar deveria ser ocupado por outro (Atos 1.16-20). Basearam-se corretamente nos Salmos 69 e 109, que prefiguram os sofrimentos do Messias e Seu triunfo. Portanto, um exame cauteloso das Escrituras foi o primeiro passo dado pelos apóstolos nesse processo.

2) Estabeleceram qualificações necessárias para ocupar esse importante ofício. O substituto deveria preencher as mesmas qualificações dos demais apóstolos, ou seja: a) ter sido uma testemunha ocular de Jesus desde o início do Seu ministério, b) ter visto a Jesus ressuscitado e c) ter presenciado a Sua ascensão em glória. Dois deles preenchiam esses requisitos: José e Matias, os quais se tornaram candidatos para ocupar o lugar deixado por Judas (Atos 1.23).

3. Confiaram no poder da oração. Eles oraram e pediram ao Senhor, que conhece os corações, que mostrasse qual deles o Senhor tinha escolhido.

4. Lançaram Sorte. Este foi o último passo no processo da escolha que recaiu sobre Matias. Apesar de ser um método usado no Antigo Testamento, os apóstolos julgaram que era legítimo e adequado usá-lo também nesta circunstância e a seguir apresentamos algumas razões que fundamentaram esta decisão. Essa metodologia de “lançar sorte”, que consistia em dois objetos de características ou cores diferentes (dois pedaços de cerâmica, duas pedras etc.) não tem nada a ver com sorte, loterias, jogos de azar, superstições etc., como nós entendemos na atualidade. Mas quando o “lançar sorte” era ordenado por Deus ou a Ele solicitado para que decidisse, Deus respondia indicando Sua vontade sobre aquela questão. Notamos essa prática na divisão da terra para as tribos de Israel (Números 26.55), para descobrir o pecado de Acã (Josué 7.14-20), na escolha de Saul (1 Samuel 10.20,21) etc.

O sábio Salomão disse que “os homens jogam os dados sagrados para tirar a sorte, mas quem resolve mesmo é Deus, o Senhor” (Provérbios 16.33 – NTLH). Foi dentro deste contexto bíblico que os apóstolos decidiram, em última instância, “lançar sorte”, confiando que Deus lhes responderia como o fez no passado.

Também devemos considerar que nessa ocasião o Espírito Santo ainda não havia sido derramado em Sua plenitude como o foi posteriormente no Dia de Pentecoste (Atos 1.3,5; 2.1-4) e que esta foi a última vez que se vê na Bíblia o uso dessa metodologia, do lançar sorte. Todas as decisões tomadas pelos apóstolos, posteriormente ao Pentecostes, foram por direção clara e evidente do Espírito Santo, como na escolha dos primeiros diáconos (Atos 6.1-6) e na escolha de Paulo e Barnabé como primeiros missionários aos gentios (Atos 13.1-3). Portanto, a escolha de Matias, mesmo tendo sido feita com o uso também de uma metodologia do Antigo Testamento, foi perfeitamente legítima, pois contou com vários outros legítimos elementos usados, bem como o voto unânime dos apóstolos (Atos 1.26), o que nos faz também concordar com a legitimidade da escolha.

por Sergio Bastian

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