O crente e as músicas mundanas

O crente e as músicas mundanas

A música é uma expressão artística que transmite pensamentos e emoções por meio de uma linguagem universal. A música é um presente divino expresso na graça comum. Deus, de forma graciosa, criou os anjos nos céus e os homens na terra dotados de capacidades para expressarem os seus sentimentos a partir da música. Antropologicamente, a música se acha em todas as culturas das civilizações passadas como também nas civilizações presentes. “A música brotou da alma do homem, pois sempre esteve no Espírito de Deus. Quando o Senhor criava os céus e a terra, os anjos entoavam-lhe louvores altos e eternos (Jó 38.7). Possivelmente, a feitura de Adão fez-se também acompanhar dos coros angélicos. Por isso, somos naturalmente musicais” (ANDRA-DE, 2015, p. 67). Deus favoreceu a música à Sua criação primária no propósito dos seres humanos prestarem louvor em favor da Sua glória. A partir do momento que a música deixa de exercer sua principal função, que é de glorificar a Deus, ela perde totalmente seu real sentido.

Em consequência dos efeitos do pecado, herdado de Adão, os homens têm procurado novas invenções (Eclesiastes 7.29). O que era uma cultura antes da queda, que foi construída com a presença de Deus, agora, em resultado da desobediência ocorrida no jardim do Éden, passou a ser construída sem Ele. Com o processo do desenvolvimento dos povos, o ser humano, ao invés de render louvor a Deus por tudo quanto proporcionou-lhe no que diz respeito à sua capacidade intelectual e racional, na verdade relativizou a verdade do seu Criador ao ponto de expulsá-lo de sua vida e cultura. Isso se refletiu até mesmo nas músicas. Os povos distantes do conhecimento de Deus procuraram produzir suas músicas aos seus ídolos. Na sequência desse processo evolutivo das civilizações, com novas descobertas, no que tange ao contexto musical, as músicas hodiernas continuam sem Deus e sendo cantadas no propósito de elevar exclusivamente os ídolos. O consumo de música mundana por parte de alguns cristãos é o reflexo de que os homens ainda continuam a adorar o seu ídolo maior: o próprio homem. O sentido de idolatria é tudo aquilo que alguém coloca no lugar ou além de Deus para adoração. Isso é retratado nas músicas mundanas, que primam pela ausência de Deus para girar exclusivamente em torno do ego humano.

No decorrer dos séculos, tudo aquilo que era e é visto como verdade absoluta com o passar do tempo passou a ser relativizado, e com a música não foi diferente. Algumas igrejas passaram também a sofrer as influências do relativismo, achando certo ouvir músicas mundanas. Essa mudança de pensamento teve início a partir da modernidade e tem continuidade até o presente século, que é conhecido como pós-modernidade. Enquanto a modernidade estava interessada em descobrir a verdade, a filha desta, a pós-modernidade, está fascinada em desconstruir a verdade, trazendo “consigo o pressuposto de que a razão humana foi particularmente formada e construída com experiências pessoais, culturais, emocionais, e em função destas formações a razão humana nunca poderá conhecer a verdade de maneira objetiva” (SANTOS, 2021, p. 131). Como todo mundo tem à sua maneira de ver a verdade, o que importa é a opinião e a interpretação subjetiva de cada um.

Essa perspectiva subjetivista, intensificada na pós-modernidade dentro de algumas igrejas, tem consistido numa força influenciadora que leva alguns cristãos a interpretarem a Bíblia a seu modo, deixando de lado o real significado do texto, o que foi proposto pelo Autor Divino. Por causa disso, muitas coisas que são consideradas pecado na Bíblia agora não o são mais para alguns crentes, e uma delas é a música mundana, que está sendo muito bem aceita no meio de muitas pessoas que se dizem cristãs. 

Qual a definição de música mundana? A ideia bíblica e teológica sobre o termo “mundano” compreende algo que esteja relacionado com o sistema do mundo corrompido pelo pecado. É aquilo que o apóstolo João disse: “Sabemos que somos de Deus e que o mundo inteiro jaz no Maligno” (1 João 5.19). O apóstolo deixou bem claro que há uma diferença entre os que estão em Deus e os que estão dominados pelo sistema produzido pelo Diabo. E a indústria musical, imperada por esse sistema mundano, independentemente qual seja o seu ritmo, se encontra também nesse quadro apresentado por João na sua epístola.

O cristão precisa ficar bem atento em relação às investidas e às sutilezas de Satanás em sempre procurar deturpar o significado da Palavra de Deus. Ele fez isso com Eva (Gênesis 3.1-3) e tentou ludibriar Jesus no deserto, porém fracassou (Mateus 4.1-11). Nos dias hodiernos, “o príncipe deste mundo” ainda continua com suas investidas contra a Palavra de Deus. Ele agora tenta enganar com uma falsa interpretação dos textos sagrados, desconstruindo a ideia dos autores bíblicos para destacar uma adaptação da Palavra de Deus de maneira subjetiva conforme o desejo do leitor. 

Alguns leitores, hipnotizados pelo encanto da antiga serpente, se deixam levar por propostas interpretativas que supostamente apoiam o uso das músicas mundanas. Eles fazem isso, por exemplo, tomando como base o livro de Ester, que é um texto que não anota o nome de Deus. Porém, se esquecem que determinadas passagens implicam que este livro está relacionado com Yahweh. O texto de Ester registra o jejum (Ester 4.16). O jejum implica Deus, pois essa era uma atividade costumeira dos judeus de se consagrarem ao Senhor. O livro de Ester está tão relacionado com Deus que popularizou a Festa de Purim, onde se comemora a salvação e o livramento dado por Deus a favor do povo judeu quanto ao extermínio arquitetado por Hamã. Além disso, só porque o livro de Ester não faz uma referência explícita ao nome de Deus isso não significa que o cristão pode consumir música mundana.

Outro livro colocado em pauta por alguns crentes para argumentar que a música mundana deve ser ouvida pelo cristão é o Cântico dos Cânticos de Salomão, que não faz menção ao nome de Deus e traz expressões poéticas de um homem para com uma mulher. No entanto, este livro traz implicitamente o nome de Deus em meio a um texto poético recitado e cantado acerca do amor conjugal. A expressão “veementes labaredas” (Cântico dos Cânticos 8.6), que no hebraico é salhebetyah, traz em suas últimas três letras yah, que se reporta ao nome de Deus descrito nas consoantes do tetragrama YHWH. Por isso outras versões traduzem como “labaredas do Senhor”. O livro de Cântico dos Cânticos não deve ser usado como desculpa para se ouvir músicas mundanas de amor entre um homem e uma mulher; pelo contrário, este livro garante que até as músicas que envolvem um relacionamento de amor entre um casal precisa trazer o nome de Deus.

O cristão também não pode tomar como exemplo o texto de Gênesis que fala dos descendentes do ímpio Lameque, que criaram instrumentos musicais como harpa e flauta (Gênesis 4.21,22), que mais tarde foram usados pelo povo de Deus (Salmos 150.3,4). Não se pode, com base nesse texto, fundamentar a ideia de que as músicas dos cantores e compositores mundanos podem ser ouvidas pelos crentes em Cristo. A separação do povo de Deus dos ímpios é vista em toda a Bíblia por ser a sua cultura totalmente diferente dos outros povos. O povo de Deus poderia usar até os mesmos instrumentos, no entanto não usava nem cantava as mesmas músicas dos povos pagãos, até porque tudo deles era relacionado à idolatria (Êxodo 34.11-17).

O cristão não pode consumir música mundana porque (1) as músicas mundanas são antropocêntricas, fazendo dos homens ídolos (Isso vale também para algumas músicas “gospel”, que colocam o homem no centro); (2) o homem sem Deus se torna inimigo de Deus (É uma questão de lógica: se a música é mundana, logo é do sistema do mundo; se é do sistema do mundo, se torna inimigo de Deus. “Gente infiel! Vocês não sabem que a amizade do mundo é inimizade contra Deus? Aquele, pois, que quiser ser amigo do mundo se torna inimigo de Deus”, Tiago 4.4); e (3) a música mundana molda o cristão à sua cultura pecaminosa. A música não proporciona e desperta apenas emoções, mas também tem a capacidade de pregar e informar o que um compositor e um cantor mundano acredita sobre política, sexo, amor e relacionamento amoroso. Eles estão com suas mentes totalmente obscurecidas pelo deus deste século (2 Coríntios 4.4). Por conta disso, nunca irão realizar a vontade de Deus. Logo, essas músicas não são padrão de educação moral e espiritual para vida de um crente em Jesus. As músicas para serem ouvidas, sobretudo pelo cristão, são aquelas com base nas Sagradas Escrituras, que têm a intenção única de exaltar os atributos de Deus como a soberania, a onipotência, a onisciência, a onipresença, a eternidade, a imutabilidade, a infinitude, a misericórdia, o amor, a bondade, a santidade, para não citar outros. Portanto, o cristão deve consumir a música para a adoração do Senhor. Ao contrário da música mundana, a música que adora a Deus conduzirá o crente em Jesus a ficar cada vez mais firme na fé cristã, porquanto a música centrada em Deus apresenta as Escrituras Sagradas. O cristão que se ocupa em ouvir e louvar com hinos bíblicos não tem espaço e nem necessidade de ocupar sua mente com músicas mundanas, pois estas não edificam em nada, apenas prejudicam espiritualmente e moralmente a vida das pessoas. 

Não cultive músicas mundanas, cultive sim, a música que se centraliza na glória de Deus! Quando o cristão ouve músicas que cantam o nome do Senhor, ele está sendo eternamente grato pelo favor imerecido e pelo amor do seu eterno Deus. “Faz-me ouvir, pela manhã, a tua graça, pois, em ti confio; mostra-me o caminho por onde devo andar, porque a ti elevo a minha alma” (Salmo 143.8). A Deus a honra, a glória e o louvor pelos séculos eternos!

 Referências Bibliográficas

ANDRADE, Claudionor de. O Começo de Todas as Coisas: Estudo Sobre o Livro de Gênesis. Rio de Janeiro: CPAD, 2015. 

CARSON, D. A.; ASHTON, Mark; HUGUES, Kent R.; KELLER, J. Timothy. Louvor: Análise Teológica e Prática. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2017. 

GONDIN, Ricardo. É proibido: O que a Bíblia Permite e a Igreja Proíbe. São Paulo: Mundo Cristão.

SHEDD, P. Russel. Adoração Bíblica. São Paulo: Sociedade Religiosa Edições Vida Nova, 1991.

SANTOS, Natanael Diogo. Quebrando a Idolatria no Meio do Cristianismo: Um Tratado Histórico e Teológico. São Paulo: Fonte Editorial, 2021.

SOARES, Esequias. Declaração de Fé das Assembleias de Deus. Rio de Janeiro, CPAD, 2022.

por Natanael Diogo Santos

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