William Howard Durham

William Howard Durham

Um dos apóstolos do início do Movimento Pentecostal Moderno

Apesar de ter vivido apenas 39 anos, dos quais os cinco últimos no então nascente Movimento Pentecostal, William Howard Durham (1873-1912) exerceu enorme influência no pentecostalismo nos Estados Unidos, Suécia e Brasil. Como relata o pastor José Gonçalves em sua obra A Glossolalia e a Formação das Assembleias de Deus (CPAD, 2022), que dedica uma de suas partes ao resgate da história e da teologia de Durham a partir de fontes primárias e estudos produzidos sobre sua obra, os escritos dele exerceram influência, por exemplo, sobre Lewi Pethrus, o apóstolo do pentecostalismo na Suécia, e os missionários Gunnar Vingren e Daniel Berg, que fundaram as Assembleias de Deus no Brasil.

Segundo os registros de sua época, Durham era um admirável orador e, mais do que isso, um homem dotado da unção divina. A. J. Tomlinson, da Igreja de Deus (denominação pentecostal de santidade), reconhece que Durham fez “um trabalho esplêndido”, que era “reverenciado e honrado por todos que o ouviram”, e que ele foi “muito importante para o Movimento Pentecostal” (“History of Pentecost”, in: Faithful Standard, publicação da Igreja de Deus em Cleveland, Tennessee, edição de novembro de 1922, p. 8). A crítica de Tomlinson se dirige apenas ao fato de que Durham causaria “o primeiro grande cisma nas fileiras até então unificadas do Movimento Pentecostal”, já que defenderia uma doutrina da santificação diferente da esposada pela maioria dos pentecostais de seus dias, tais como Charles Fox Parham e William Seymour, que defendiam a existência de um batismo de santificação (que seria a “perfeição cristã” da doutrina wesleyana) antes do batismo no Espírito Santo. Durham rompeu com essa compreensão, pregando o que ficou conhecido como “Doutrina da Obra Consumada no Calvário”. Tomlinson chamaria esse ensino de Durham como “um tiro ouvido ao redor do mundo” pentecostal.

A influência desse ensino de Durham acabaria, na prática, levando a maior parte do nascente Movimento Pentecostal moderno a adotar a doutrina da santificação clássica do protestantismo, como é o caso das Assembleias de Deus.

O ensino de Durham

A obra supracitada do pastor José Gonçalves é a primeira em língua portuguesa a explicar em detalhes no que consistia exatamente a “Doutrina da Obra Consumada no Calvário”. A explicação se encontra nas páginas 329 a 389. Em linhas gerais, ela pode ser apresentada como se segue: na doutrina wesleyana, então prevalecente no início do Movimento Pentecostal, se cria que a santificação, além de ser um processo, contaria com uma etapa, que seria alcançada ainda aqui na Terra, na qual o cristão atingiria um estado de “perfeição cristã”. Esta seria uma “Segundo Obra da Graça”. Com base nesse entendimento, o pentecostalismo nascente, que advinha em sua esmagadora maioria do Movimento de Santidade de origem wesleyana, cria em um batismo de santificação que deveria preceder o batismo no Espírito Santo. Durham, porém, em oposição a isso, vai ensinar que a santificação, em vez de ser um processo que atingiria ainda aqui na Terra um estágio de perfeição, teria a ver, na verdade, com a identificação com Cristo, assim como acontece com a justificação; isto é, trata-se de algo que ocorre já na conversão – daí o título de seu ensino ser “A Obra Consumada no Calvário”. Para ele, quando uma pessoa entrega sua vida a Cristo, se torna santa de uma maneira que ela nunca poderá ser a mais. Não haveria um progresso na santificação. Mas o salvo em Cristo ainda não peca eventualmente? Sim, dirá Durham, mas quando ele se arrepende, volta ao mesmo e completo estado de graça original.

Não é que Durham negava a existência de alguma progressão na vida cristã, mas ele insistiu que um maior nível de entrega a Deus não nos torna mais santificados, mas apenas permite que Deus desenvolva as graças do Espírito em nós e use-nos para Sua glória. O crescimento na vida cristã teria a ver, segundo ele, com algo mais utilitário do que salvífico. Segundo Durham, a “perfeição cristã” teria a ver com o amadurecimento do cristão, com a maturidade cristã, e não com aumento de santidade. Quanto à santidade, diria ele que ou a pessoa é santa ou ela não é. Não existe “menos santo” ou “mais santo”, mas apenas “santo”.

Durham não foi o único a entender a santificação dessa forma. Seu amigo pentecostal Albert Sydney Copley (1860-1945) também entendia assim, porém foi Durham o principal nome a difundir esse entendimento, que foi crucial para fazer a maioria do Movimento Pentecostal rejeitar a crença no batismo de santificação. Os pentecostais que ainda esposam esse tipo de batismo são chamados de “Pentecostais de Santidade”, que são hoje minoritários no pentecostalismo mundial. Por outro lado, a maioria do pentecostalismo também não adotou o posicionamento de Durham, que teve pelo menos o mérito de despertar essa maioria a se afastar do batismo de santificação wesleyano. A maioria dos pentecostais preferiu, ao final, adotar o entendimento clássico do protestantismo acerca da Doutrina da Santificação, que consiste em santificação posicional no momento da conversão, santificação progressiva durante toda a trajetória de vida cristã e santificação total somente quando chegarmos lá no Céu, quando a nossa velha natureza será finalmente erradicada. Esse é o posicionamento, por exemplo, das Assembleias de Deus, a maior denominação pentecostal do mundo.

Por fim, é importante enfatizar ainda que Durham não foi conhecido apenas por esse ensino. Ele se destacou, antes de tudo, pela sua pregação sobre a Doutrina Bíblica do Batismo no Espírito Santo como um revestimento de poder do Alto para dinamizar a vida cristã para o serviço a Deus e que é evidenciado externamente pelo falar em outras línguas. Sua influência na pregação desse ensino foi marcante sobretudo em Chicago, alcançando o jovem pastor batista sueco Gunnar Vingren.

O ministério de Durham

Nascido na área rural de Kentucky, nos EUA, Durham se interessou pela fé cristã na adolescência, tendo ingressado na Igreja Batista aos 18 anos. Porém, ele só experimentou a conversão de fato em 1898, já em Minnesota e sob a influência do Movimento de Santidade. Cinco anos depois, foi ordenado ministro pelo World’s Faith Missionary Association, uma entidade de ministros ligados ao Movimento de Santidade. Em 1903, assumiu o pastorado da Gospel Mission Church, missão independente em Chicago ligada ao Movimento de Santidade. Quatro anos depois, visitaria o Avivamento da Rua Azusa, recebendo ali, em 1907, o batismo no Espírito Santo. No momento em que recebeu a experiência, William Seymour, líder do Avivamento de Azusa, profetizaria sobre Durham dizendo que onde ele pregasse o Espírito Santo seria derramado poderosamente sobre o povo, e isso realmente aconteceu, com muitos sendo batizados no Espírito nas reuniões de Durham.

De volta a Chicago, Durham rebatizou a igreja que pastoreava como “Missão de Fé Apostólica”, mesmo nome da igreja em Azusa, que por sua vez utilizava esse nome porque era o nome que Charles Parham, professor de Seymour, dava às igrejas pentecostais por ele abertas. Devido à grande manifestação divina através do ministério de Durham, sua igreja em Chicago se tornou o principal centro de difusão do pentecostalismo nos EUA e no mundo, substituindo Azusa, cujo avivamento só duraria até 1909 e com o qual Durham romperia por não concordar com a doutrina do batismo de santificação. A igreja de Durham recebeu a adesão de várias comunidades de imigrantes italianos, escandinavos e persas.

Durham foi mentor ou influenciador de vários pioneiros do pentecostalismo, tais como Louis Francescon, fundador da Congregação Cristã no Brasil e da Assembleia de Deus na Itália, que recebeu de Durham a profecia de que Deus o estava chamando a pregar o evangelho às comunidades italianas pelo mundo; Giacomo Lombardi, Pietro Ottolini e John Perrou, que se dedicaram ao ministério entre as comunidades italianas; Gunnar Vingren e Daniel Berg, que foram enviados ao Brasil após receber a oração com imposição de mãos de Durham; Robert e Aimee Semple McPherson, que se tornaria a fundadora da Igreja do Evangelho Quadrangular; F. A. Sandgren, que espalhou a mensagem pentecostal entre os escandinavos em todos os EUA; T. K. Leonard, cuja igreja foi a primeira a adotar o nome Assembleia de Deus; o persa Andrew Urshan, que fundaria a Missão Pentecostal Persa; Howard Goss e Frank Ewart, fundadores da Igreja Pentecostal Unida nos EUA; E. N. Bell, que se tornaria o primeiro presidente do Concílio Geral das Assembleias de Deus nos EUA; A. H. Argue, fundador das Assembleias Pentecostais no Canadá; e Cora Harris Mcilravy e Dorothy Wright, as primeiras teólogas do Movimento Pentecostal.

Pelos seus escritos, Durham também influenciou Lewi Pethrus, que relata: “Em 1909-1910, chegou-me às mãos o conhecido jornal de um pregador americano chamado Durham, e eu li com muito interesse. Ele dirigiu um trabalho muito bem-sucedido em Chicago, e pode-se dizer que tanto o conhecimento como suas pregações foram decisivos na época para o movimento dos pentecostais em toda a América do Norte. [...] Os artigos de Durham tornaram-se decisivamente significativos para mim” (PETHRUS, Lewi. Vida e Obra, Rio de Janeiro: CPAD, 2004, p. 98).

Durham escreveu vários artigos em seu periódico Pentecostal Testimony, referido acima por Pethrus. Ele pregou em várias partes dos EUA e publicou pequenos livros e uma coletânea de suas mensagens para edificação. Porém, após uma série de viagens evangelísticas, ele contraiu uma doença respiratória que evoluiria para uma pneumonia, a qual o levaria à morte aos 39 anos.

Compartilhe este artigo com seus amigos.

Comentário

Seu comentário é muito importante

Postagem Anterior Próxima Postagem