Podemos celebrar o Natal?

Podemos celebrar o Natal?

Ao se aproximar o final do ano, vemos ocorrer mudanças em toda parte. São luzes, cores, enfeites e por todo lado um apelo ao comércio e à troca de presentes. São apelos comerciais que em nada lembram o real significado da festa em questão, ou seja, o Natal. Por outro lado, uma dúvida surge às vezes no meio cristão protestante: devo ou não participar das comemorações natalinas?

Tentaremos com este artigo expor, sem extremismo típico de seitas, nosso ponto de vista sobre tal festa, sempre tendo como base a Bíblia e apoiado pela História da Igreja Cristã.

O Natal na História da Cristandade

No início de minha caminhada em pesquisas teológicas, confesso que assumi posições extremistas quanto à história do Natal; contudo, com o aprofundar em pesquisas e após me balizar em sábios mestres da Palavra de Deus, pude entender que nem tudo é como acreditamos ser. Muitos fatos, como a possível origem pagã da festa, são comprovados por historiadores. Porém, entenderemos melhor como seguiu a história da festa.

De acordo com uma publicação apresentada pela revista Super Interessante em dezembro de 2006, tal comemoração é um reflexo de festas celebradas pelos povos conquistados e anexados pelo Império Romano. Esta solenidade era conhecida por Natalis solis invicti ou “Nascimento do Sol Vitorioso”. Esta comemoração acontecia no solstício de inverno, onde em 25 de dezembro (dia 20 ou 21 no calendário atual) ocorreria a noite mais longa do ano e após uma noite de medo em não haver mais luz, o sol nasceria novamente, renovando as esperanças dos povos românicos. Segundo o teólogo pentecostal Severino Pedro da Silva, “o dia 25 de dezembro é mencionado na história como sendo Natal pela primeira vez em 354” (Teologia Sistemática Pentecostal, CPAD, 2008, p. 132) e com aceitação do Cristianismo em 313 d.C. e sua posterior institucionalização como religião oficial do Império Romano em 391 d.C., tal data seria mudada em homenagem ao nascimento de Cristo, o Sol da Justiça (Malaquias 4.2), que é a luz verdadeira (João 8.12).

É neste ponto que surge uma velha polêmica: como um cristão pode comemorar uma festa de origem pagã? Ou ainda: tal data foi criada pela Igreja Católica paganizada, portanto não deveria ser comemorado pelos cristãos protestantes. Eis meu ponto de vista, que é o de muitos outros servos de Deus:

1. “O Natal é uma festa de origem pagã?”. Ainda que tal festa tenha origem em uma solenidade pagã, torna-se razoável que tal cerimonia de idolatria fosse mudada para uma comemoração cristã, onde o Salvador veio ao mundo. Como afirmam Thiago Minami e Alexandre Versignassi (2006) em artigo para a revista Super Interessante, “[...] enquanto isso, uma religião nanica que não dava bola para essas coisas [do paganismo] crescia em Roma: o Cristianismo”. Seria como se hoje os dias referentes ao Carnaval fossem mudados pela lei para um dia em homenagem a Jesus, onde o Brasil deveria adorá-lO. Trataremos mais adiante deste ponto.

2. “É valido comemorar uma festa criada pela Igreja Católica romanizada?”. Esta segunda indagação requer que a analisemos por uma ótica histórica. Em primeiro lugar, é valido ressaltar que, durante os séculos IV e V, não havia outra religião cristã, se não a oficial romana. E as que haviam eram todas consideradas (e ainda hoje o são) como seitas perigosas e que ainda lançam seus tentáculos sobre o mundo moderno. Exemplo disto é o perigoso Arianismo que nega a Divindade de Cristo; ou mesmo o Gnosticismo, seita que negava a humanidade de Jesus. Tal heresia é claramente combatida por João em sua primeira carta (1 João 4.3) e pelo apóstolo Pedro em suas epístolas. Em face disso, entendemos que histórica e institucionalmente a Igreja Cristã predominante neste período era a romana. Contudo, nem mesmo tal denominação entende a data de 25 de dezembro como data real no nascimento de Cristo. Vejamos o que o teólogo católico Gian Luigi Morgano, diz sobre tal comemoração: “[...] O culto ao sol tornou-se símbolo da luta pagã contra o Cristianismo. A principal festa desse culto era celebrada no solstício de inverno, no dia 25 de dezembro, porque representava a vitória anual do sol sobre as trevas. Para afastar os fiéis dessas celebrações idolátricas, com base numa temática bíblica (cf. Malaquias 4.2; Lucas 1.78; Efésios 5.8-14), a Igreja de Roma deu a tais festas pagãs um significado diferente” (Padre Gian Luigi Morgano, disponível em: www.catequisar.com.br).

Portanto, a própria Igreja romana reconhece a origem pagã desta festa e aponta a sua substituição como forma de evangelizar povos bárbaros inteiros. Assim, mesmo que tenha a sua origem nesse tipo de comemoração, como apontamos anteriormente, é valido e especial o evento natalício e aceitamos que em seu contexto histórico tal substituição seja válida e aceitável como forma de evangelização de povos “bárbaros”.

A Bíblia nos orienta a festejar o nascimento de Cristo

O Evangelho de Lucas, em seu capítulo 2, deixa claro o momento especial em que o Salvador veio ao mundo. Outrossim, já no Antigo Testamento os profetas nos orientavam para o nascimento do menino Deus (Isaías 7.14; 9.6). Eis o mistério: Deus se fez homem e veio como uma criança, mostrando a humildade característica de Seu ministério. Não obstante isso, o momento do nascimento de Cristo foi algo espetacular e digno de ser comemorado. Vejamos:

1. Os anjos celebraram o nascimento de Jesus (Lucas 2.13,14): “E, no mesmo instante, apareceu com o anjo uma multidão dos exércitos celestiais, louvando a Deus, e dizendo: Glória a Deus nas alturas, Paz na terra, boa vontade para com os homens”. Ora, se os seres celestiais louvaram e celebraram o nascimento de Jesus, por que razão não poderemos fazer o mesmo? Nada mais aceitável a nós cristãos do que lembrarmos esse dia, não importa a data ou mês exatos do nascimento do menino Deus, personificação do Amor de Deus aos homens (João 3.16; Filipenses 2.8-10).

2. Os astros celestiais também o fizeram (Mateus 2.9): “E, tendo eles ouvido o rei, partiram; e eis que a estrela, que tinham visto no oriente, ia adiante deles, até que, chegando, se deteve sobre o lugar onde estava o menino”. Perceba que uma estrela (astro celestial) brilhou mais intensamente e direcionou os magos (que não eram três, pois a Bíblia nada fala sobre isso) até a casa onde Jesus estava. Tudo isto com a finalidade de adorá-lO, de cultuar o único que é digno de todo louvor e toda glória.

3. Os homens celebraram (Lucas 2.17 e Mateus 2.11). Nestes dois textos, percebemos tanto homens simples como homens nobres celebrando e adorando o menino Deus. No primeiro caso, foram os pastores que estavam trabalhando. Eles divulgaram a novidade e ficaram maravilhados com a notícia dada pelos anjos. No segundo grupo, estavam os magos, sem dúvida homens nobres (sacerdotes ou sábios, conforme apresentado em Daniel 2.2), que, pelos presentes ofertados, demostravam reconhecer a realeza de Cristo. Esses presentes indicavam a nobreza dos magos vindos do oriente. Estes dois grupos representam a humanidade e nos apontam para a adoração do Deus humanizado e exaltado Jesus Cristo.

Por todas essas razões expostas, considero louvável a comemoração natalina, independente da data que se escolha para tal, pois não há uma data historicamente correta sobre este momento. Todavia, se pela história da Cristandade ocidental convencionou-se a data de 25 de dezembro, podemos, como servos de Deus, aproveitar este momento e nos esvaziar de tudo que o mundo capitalista fez desta data, nos esvaziar de todo Papai Noel e, por fim, proclamar, assim como fizeram os pastores em Belém, a vinda do Salvador ao mundo, o nascimento de Menino Deus (Isaías 9.6).

“E isto vos será por sinal: Achareis o menino envolto em panos, e deitado numa manjedoura. E, no mesmo instante, apareceu com o anjo uma multidão dos exércitos celestiais, louvando a Deus, e dizendo: Glória a Deus nas alturas, Paz na terra, boa vontade para com os homens” (Lucas 2.12-14).

Em face do exposto, concluo acrescentando ainda a nota de advertência constante na Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal, que nos fala: “O pequeno e impotente bebê cresceu, teve uma vida surpreendente, e morreu por nós, ressuscitou, ascendeu aos céus e voltará a este mundo como Rei dos reis. Cristo governará o mundo e julgará todas as pessoas de acordo com a decisão que cada um tomou a respeito dEle. Você ainda vê Jesus como um bebê em uma manjedoura ou Ele é o seu Senhor? Tenha a certeza de não subestimar Jesus. Deixe-o crescer em sua vida!” (Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal, CPAD, 2003, p. 1345).

Referências Bibliográficas

Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal. Rio de Janeiro, Casa Publicadora das Assembleias de Deus – CPAD, 2003.
CAIRNS, Earle Edwin. O cristianismo através dos séculos: uma Historia da Igreja Cristã. 3º edição revisada e ampliada, São Paulo, Vida Nova, 2008.
GILBERTO, Antonio et. al. Teologia Sistemática. 2º Edição, Rio de Janeiro, Casa Publicadora das Assembleias de Deus – CPAD, 2008.
HORTON, Stanley M. (org). Teologia Sistemática: uma perspectiva pentecostal. 1º edição, Rio de Janeiro, Casa Publicadora das Assembléias de Deus- CPAD, 1996.
MINAMI, Thiago; VERSIGNASSI, Alexandre. A verdadeira história do Natal - Revista super interessante / edição 233, dezembro de 2006. Disponível em: http://super.abril.com.br/superarquivo/2006/conteudo_192443.shtml. Acesso em 01/12/2011.
MORGANO, Gian Luigi. Natal: sua história e espiritualidade. Disponível em: http://www.catequisar.com.br/texto/materia/celebracoes/natal/15.htm, acesso em 01/12/2011
SILVA, Severino Pedro da. Cristologia – a Doutrina de Cristo. In: GILBERTO, Antonio et. al. Teologia Sistemática. 2º Edição, Rio de Janeiro, Casa Publicadora das Assembleias de Deus – CPAD, 2008.
RADMACHER, Earl (org). O Novo Comentário Bíblico NT, com recursos adicionais. 1° edição, Editora Central Gospel, Rio de Janeiro, 2010

Por Jefferson Rodrigues .

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