Qual o sentido real da expressão Geena na Bíblia?

Qual o sentido real da expressão Geena na Bíblia?

O termo grego refere-se ao inferno propriamente dito ou a um local ainda pior que foi preparado para Satanás, seus anjos e as almas dos impenitentes?

Nas passagens bíblicas de Mateus 5.22,29-30, Mateus 10.28, Mateus 18.9, Mateus 23.15,33, Marcos 9.43,45,47 e Lucas 12.5, identificamos o termo Geena sendo usado para descrever um local de suplício àqueles que foram para lá encaminhados. Mas esse lugar realmente existe ou é mais uma designação do inferno propriamente dito?

O Novo Testamento emprega por doze vezes o termo grego Geena para se referir ao Inferno. Onze vezes a expressão é usada por Jesus: sete ocorrências em Mateus (5.22, 29, 30; 10.28, 18.9; 23.15; 23.33); três referências em Marcos (9.43, 45, 47) e uma passagem em Lucas (12.5). O único uso de Geena fora dos Evangelhos está em Tiago 3.6, quando o apóstolo ensina que a língua é um fogo e é inflamada pelo Inferno.

Em razão de o termo indicar local de sofrimento, alguns questionam se o lugar é real ou apenas um símbolo. Com essa proposição, esse artigo analisa o vocábulo Geena em busca do sentido real dessa expressão. Para isso, se faz necessário compreender as circunstâncias históricas de uma ravina denominada de “Vale de Hinom”, que é a tradução da expressão hebraica gei-hinnom da qual se originou o termo grego geena.

O vale era um local estreito e escuro ao sul de Jerusalém. Conforme Hendriksen (2014, p. 156), na parte superior tinha um buraco profundo onde se empilhava muita madeira, e essa madeira foi inflamada por uma corrente de enxofre ardente (Isaías 30.33). Assim, nessas chamas os iníquos faziam sacrifícios humanos, os canaanitas queimavam suas crianças em rituais pagãos a Moloque (Levíticos 18.21), o Rei Salomão edificou ali um altar (1 Reis 11.7) e os reis Acaz e Manassés igualmente ofereceram seus filhos no fogo que não se apagava (2 Crônicas 28.3; 33.6). Esse lugar alto era também chamado Tofete, que significa “altar”. Nesse ínterim, o bom rei Josias colocou um fim nessa horrível abominação (2 Reis 23.10). Porém, na concepção judaica, o vale era considerado maldito (Jeremias 7.31; 19.6). Mais tarde, o refugo e o lixo da cidade passaram a ser jogados no vale pela “Porta do Monturo” (Neemias 3.14; 12.31). Além do lixo, corpos de animais e de criminosos eram desovados no Geena. Nesse contexto, as terríveis chamas do Geena foram comparadas por Jesus com as inextinguíveis chamas do Inferno (Marcos 9.43,45).

Dessa forma, do Vale de Hinom temos o conceito de chamas literais como juízo eterno aos pecadores. Arrington (2003, p. 46) pondera que a expressão se tornou “símbolo de maldição abrasadora e irrevogável”. Na mesma direção, Harper (2019, p. 59) anota que no primeiro século os judeus usavam Geena em um “sentido metafórico para indicar um lugar de tormento atroz”. Morris (2000, p. 197) corrobora essa ideia ao escrever que “as associações do termo fizeram com que fosse um símbolo apropriado do tormento perpétuo do Inferno”.

Em vista disso, não há dúvidas da simbologia empregada por Jesus ao correlacionar Geena a um lugar de sofrimento sem fim. Porém, Cristo não excluiu a realidade do Inferno; ao contrário, apenas fez uso de uma ilustração. Nossa Declaração de Fé (Soares, 2017, p. 199) ensina que o Geena indica o Lago de Fogo apocalíptico, onde serão lançados a besta e o falso profeta (Apocalipse 19.20) e aqueles cujos nomes não estão no livro da vida: “E aquele que não foi achado escrito no livro da vida foi lançado no lago de fogo” (Apocalipse 20.15).

Desse modo, a palavra Geena equivale ao Lago de Fogo (Apocalipse 19.20; 20.10, 14, 15), um lugar real de castigo eterno destinado paras os ímpios onde “não lhes morre o verme, nem o fogo se apaga” (Marcos 9.48). É local de trevas exteriores (Mt 8.12); choro e ranger de dentes (Mateus 22.13); onde “a fumaça de seu tormento sobe para todo o sempre” (Apocalipse 14.11; 20.10). Por isso, Cristo advertiu no Sermão do Monte: “Não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei antes aquele que pode fazer perecer no Inferno a alma e o corpo” (Mateus 10.28).

Referências

ARRINGTON, L. French (Ed.). Comentário Bíblico Pentecostal: Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2003.

HARPER, A. F. (Ed.). Comentário Bíblico Beacon. Vol. 6. Rio de Janeiro: CPAD, 2019.

HENDRIKSEN, William. Comentário do Novo Testamento: Lucas. Vol. 2. São Paulo; Cultura Cristã, 2014.

MORRIS, Leon L. Lucas: introdução e comentário. São Paulo: Vida Nova, 2000.

SOARES, Esequias (Org.). Declaração de Fé das Assembleias de Deus. Rio Janeiro: CPAD, 2017.

Por Douglas Roberto de Almeida Baptista.

Compartilhe este artigo com seus amigos.

Comentário

Seu comentário é muito importante

Postagem Anterior Próxima Postagem