Cidadãos de pátrias terrena e celestial

Cidadãos de pátrias terrena e celestial

Em meu país, o Paraguai, de acordo com a Constituição Nacional, os professores que ensinam o direito constitucional aos futuros advogados sobre a Carta Magna, indicam a existência de dois tipos de constituição: a constituição formal e a material. A constituição formal, são as leis idealizadas pelos constituintes e introduzidas na constituição nacional do país, isto é, são as normas devidamente registradas e com força de lei. Podemos dividir em três as leis na Constituição do Paraguai. A saber: Lei dos direitos, Lei das garantias e Lei das obrigações.

Essa é a constituição formal e escrita, mas por outro lado, porém existe constituição chamada material, que se refere àquela parte da Carta Magna colocada em prática. Por sua vez, os juristas afirmam que aqui abre sempre uma “tensão constitucional”, devido a uma dicotomia entre o que é, e o que deveria ser, isto é, entre o que está escrito e o que se cumpre.

Devido a essa peculiaridade de nossas leis, alguns professores de Direito chegam a dizer que a constituição nacional não passa de um catálogo de ilusões. Mas, por quê? Pelo fato de não ser cumprida à risca. Qual a conexão de nossa Carta Magna com a vida cristã e com a Igreja? Eu respondo: muito a ver. Por sermos cidadãos do país em que nascemos (paraguaios, brasileiros, chilenos etc.), devemos amar e cumprir as leis outorgadas por nossas autoridades, mas devemos lembrar que também somos cidadãos da Pátria Celestial.

Veja o que o apóstolo Paulo deixou registrado nas páginas do Novo Testamento: “Mas a nossa pátria está nos céus, donde também aguardamos um Salvador, o Senhor Jesus Cristo” (Filipenses 3.20). Neste artigo, eu desejo fazer esse paralelo, essa comparação entre a constituição das duas pátrias: a terrena e a celestial.

O saudoso evangelista norte-americano Morris Cerullo disse em seu livro Produtores de Provas que toda verdade é paralela. Uma verdade no mundo natural também costuma ser uma verdade no mundo espiritual. Nesse momento eu vou tomar a Bíblia Sagrada e compará-la com essa experiência secular, política e humana. No intuito de fazer com que o nosso grande desafio como filhos do Reino de Deus não se torne mais um catálogo de ilusões como ocorre na constituição do meu país, nossos direitos, obrigações e garantias espirituais estão descritos na Bíblia. É lindo quando falamos dos nossos direitos! Eis alguns deles: somos filhos de Deus (João 1.12); somos coerdeiros de Cristo (Romanos 8.17); nós somos abençoados com todas as bênçãos em Cristo e por meio de Cristo (Efésios 1.3); somos mais que vencedores (Romanos 8.37). Enfim, a lista é longa. Quando vemos as garantias que temos na Bíblia, a nossa alegria permanece: Eis que eu estou convosco todos os dias (Mateus 28.20); mil poderão cair ao seu lado; dez mil, à sua direita, mas nada o atingirá (Salmos 91.17); nenhuma arma forjada contra você prevalecerá (Isaías 54.17); Deus não é homem para que minta, nem filho de homem para que se arrependa (Números 23.19); além de outras garantias que nos enchem de alegria e segurança.

Mas ao entrarmos na área das obrigações, somos surpreendidos em “off side” (termo usado no esporte que significa posição de impedimento) através de vários mandamentos.

Igreja ou negócio

“Para que todos sejam um, Pai, como tu estás em mim e eu em ti. Que eles também estejam em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste” (João 17.21). O último desejo de qualquer condenado à morte é realizado ao pé da letra. O desejo de Jesus, antes de ir para a cruz, foi a unidade do Seu corpo. O apóstolo Paulo corrobora em várias passagens a importância deste mandamento, de guardarmos a unidade do espírito no vínculo da paz.

Como não fazer caso a este desejo? Segundo informações veiculadas pela internet, existem mais de 30 mil denominações evangélicas no Brasil. Não quero nem citar aqui as divisões que aconteceram pelas coisas mais absurdas. Quero apenas frisar na igreja local, onde tantas vezes contemplamos irmãos que pulam de congregação em congregação por brigas carnais ou desacordos naturais, ou dos obreiros que abandonam a sua denominação por questões banais indo fundar um “ministério”, que para mim não se constituem igrejas, porque não passa de um projeto próprio, egoísta e independente, que é a raiz de todo pecado e que muitas vezes tem como alvo, apenas, o aspecto econômico, ao ser transformado em um negócio qualquer.

Eu destaco a importância da relação entre os cristãos. Muitos de nós não conseguem manter a unidade no vínculo da paz, nem mesmo com o próprio conservo da nossa igreja ou denominação, descumprindo a principal lei do reino: a lei do amor. A unidade não é moda, nem tendência, como disse um pastor durante a sua preleção; unidade é a doutrina de Jesus Cristo e dos apóstolos, e o mais profundo sentir do Espírito Santo.

Conta-se que em certa região veio uma forte era de gelo e os porcos espinhos, para não morrerem de frio, juntaram-se todos para aquecerem-se. Em razão de suas próprias naturezas os espinhos acabaram os afastando, mas os animais tornaram a unirem-se, porque preferiram suportar o espeto do outro do que morrer congelado.

Eis aí um dilema: ou aprendemos a ficar juntos e suportamos as fraquezas do outro, perdoando as faltas do irmão, ou nos separamos e morremos espiritualmente. Isto teria que ser uma preocupação constante de cada crente: a sua unidade relacional com o irmão que ele conhece, sendo um mandamento que a maioria dos membros das igrejas não cumprem.

A Grande Comissão ou a Grande Omissão

O Senhor ordenou aos Seus seguidores: “Ide por todo o mundo, pregai o Evangelho a toda criatura” (Marcos 16.15). A ausência de união em nosso arraial faz com que tenhamos dificuldade de provar ao mundo que Jesus veio de Deus e que somos Seus discípulos. A Igreja Primitiva precisou de um homem para ganhar três mil almas, mas hoje, precisamos de três mil para ganhar uma pessoa. Confesso ser um exagero, mas não foge da nossa realidade.

Alguns chegam a afirmar que em uma igreja apenas 20% estão envolvidos ministerialmente e 80% não se interessam em atuar em nenhum ministério, e muito menos em anunciar o Evangelho. A maioria se preocupa em ser abençoados ao comparecer à reunião e não em ser uma bênção. Qualquer semelhança com a igreja romana é mera coincidência.

Moralismo ou santidade

Outro item da nossa constituição celestial que corre o risco de ser transformado em um catálogo de ilusões é a questão da santidade pessoal. “Sedes santos porque eu sou santo” (1 Pedro 1.16). Como é difícil hoje ser puro aos olhos de Deus! Eu acredito que a situação esteja mais difícil do que há 20 anos, mas também creio que isto não seja impossível.

O primeiro empecilho encontrado no caminho dos crentes é que eles acreditam que a santidade é uma perfeição moral. Ledo engano. Santidade é um produto encontrado somente na pessoa do Criador e que o ser humano não consegue fabricar. O homem pode viver pela lei e cumpri-la, além de ser altamente moral, contudo, mesmo assim, não ser salvo. Observe o exemplo do jovem rico em Mateus 19.16-3. Aquele cidadão era um observador da Lei Mosaica desde a tenra idade, mas não fazia parte do Reino.

A Bíblia regista a responsabilidade pessoal de cada ser humano quanto à sua conduta moral e seus desdobramentos. “Quem é injusto, faça injustiça ainda: e quem está sujo, suje-se ainda; e quem é justo, faça justiça ainda; e quem é santo, santifique-se ainda” (Apocalipse 22.11).

É necessário trabalharmos para proteger a unidade que Jesus já comprou, e pregarmos o Evangelho com o objetivo de fazer discípulos e buscar a Deus para sermos participantes de Sua santidade, a fim de que a Palavra de Deus não se converta em nossas vidas em outro catálogo de ilusões.

Por Miguel Angel Florentin.

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