A gratidão é a virtude que nos leva a reconhecer os benefícios que recebemos e a expressar esse reconhecimento com atitudes concretas. Para que seja autêntica, deve ser fruto de um coração profundamente tocado pelo favor ou auxílio recebido. Não é um mero sentimento. Muitas vezes é preciso mais do que palavras para manifestá-la.
Na passagem em estudo, vemos que o único dos ex-leprosos a expressar gratidão foi um estrangeiro. Isso foi ressaltado por Jesus: “Não foram 10 os limpos? E onde estão os nove? Não houve quem voltasse para dar glória a Deus, senão este estrangeiro?” (Lucas 17.17,18). Dessa expressão de Cristo, podemos entender que os demais leprosos eram judeus. O único a agradecer foi um samaritano. Isso revela, em primeiro lugar, que a verdadeira gratidão é uma virtude rara. Em segundo, que não é incomum que venha de quem menos se espera.
Senso de indignidade
Uma condição fundamental para a verdadeira gratidão é o senso de indignidade, de não merecimento. Os judeus confiavam em si mesmos e em seus ritos, além de se considerarem superiores aos samaritanos, com os quais sequer se comunicavam (João 4.9). Esse tipo de presunção impede que haja gratidão. Mesmo sendo um profundo necessitado de misericórdia, tão logo obtém o que precisa o ingrato passa a considerar que o benefício era, de alguma forma, fruto de seu merecimento, ou, então, deixa de dar o devido valor ao favor recebido. Aí se revela a ingratidão, que pode causar profunda dor na alma de suas vítimas.
A verdadeira gratidão somente se manifesta quando o coração se mantém cheio de humildade. Revela força moral e espiritual, pois exige a manifestação de atitudes que lhe sejam condizentes. O samaritano curado da lepra “voltou glorificando a Deus em alta voz” (Lucas 17.15). Esse desprendimento para uma exposição pública demonstra que o interior daquele estrangeiro estava liberto do orgulho. Isso também nos ensina que a gratidão tem o poder de impelir o beneficiado com um ímpeto ainda maior que a própria necessidade atendida.
A falta de humildade impede que haja o devido reconhecimento. O beneficiado posa de bom, superior, suficiente em si mesmo, pois não tem, em seu coração, a virtude que lhe faça declarar, em público, seu sentimento de gratidão, sem qualquer timidez. Já a gratidão nos liberta da mediocridade, do desejo de querer viver de acordo com padrões impostos pela maioria, com medo de reprovação por nossas atitudes públicas em reconhecimento dos benefícios recebidos. A gratidão não tem compromisso com o establishment, com o politicamente correto (João 12.1-8). Não era popular prostrar-se aos pés de Jesus, sujeitando-se à hostilização do clero judaico (João 7.45-52; 91-34). O samaritano não se importou com isso. A verdadeira gratidão não se intimida com o sistema dominante.
Lembrar-se do estado anterior
O ex-leproso caiu aos pés de Jesus, com o rosto em terra, dando-lhe graças. Isso demonstra que quem é verdadeiramente grato não economiza gestos para expressar sua gratidão. Primeiro, o texto diz que estava “glorificando a Deus em alta voz”. Depois, que “caiu aos pés de Jesus, com o rosto em terra, dando-lhe graças”. Esta atitude demonstra que o samaritano lembrava muito bem da situação em que se encontrava quando saiu ao encontro de Jesus. A gratidão é também isso: não se esquecer do estado anterior, da condição vivida antes do benefício alcançado.
A gratidão mantém aberta a porta das bênçãos. Os nove ex-leprosos que não voltaram para agradecer, ficaram com o benefício da cura física, mas o samaritano, que voltou extremamente agradecido, recebeu uma bênção maior. Jesus lhe disse: “Levanta-te e vai; a tua fé te salvou” (Lucas 17.18). O texto sugere que sua fé lhe proporcionou a salvação da alma. Quando é fruto de uma compreensão espiritual correta, a gratidão projeta o agradecido para um nível de vida mais elevado. Quanto aos nove que não voltaram, a bênção ficou restrita ao plano físico. Assim acontece com quem não identifica e não compreende a dimensão do favor que recebe. Sua visão fica restrita ao que seus olhos podem ver, sem que seu espírito apreenda o significado do benefício recebido.
É possível dizer, ainda, que a gratidão, quando conservada no coração e devidamente expressada, faz que se abra para o agradecido o caminho da prosperidade. Jesus disse ao samaritano: “Levanta-te e vai”. Agora, ele teria a bênção de Deus o acompanhando. Quem tem um coração agradecido não recebe apenas um benefício; experimenta a verdadeira prosperidade ao longo da vida. Torna-se não apenas um receptáculo de bênçãos, mas também um transmissor delas (Gênesis 12.2).
Pronto para frutificar
Quem tem um coração cheio de gratidão está pronto para frutificar (Colossenses 3.15-17), mas a ausência de gratidão produz esterilidade. Por mais que a bênção recebida seja grandiosa, fica limitada a si mesma, quando não murcha e deixa de fazer sentido. É por isso que há pessoas que recebem pouco e são muito mais felizes que pessoas que recebem muito e não encontram felicidade. O pouco para o agradecido é motivo de grande satisfação e contentamento. Já o ingrato, mesmo recebendo muito, considera que merece ainda mais. Por isso, o que tem deixa de lhe fazer o sentido que deveria fazer.
A passagem de Lucas 17.11-18 nos ensina que a gratidão nos une a quem verdadeiramente se importa conosco. Os nove leprosos receberam o benefício, mas se mantiveram longe de Jesus. O samaritano voltou para agradecer e uniu-se ao Salvador. A ingratidão afasta, mas a gratidão aproxima. Que o Senhor nos livre de toda ingratidão!
Por Silas Rosalino de Queiroz.
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