Os pais e a árdua tarefa de impor limites

Os pais e a árdua tarefa de impor limites

Deus ouviu a oração de Jesus no Getsêmani, mas não lhe permitiu “passar o cálice”. A Bíblia não revela uma resposta de Deus. Houve silêncio. Podemos concluir que Deus, indiretamente, disse: “Por mais duro que seja o que vai acontecer, terá que acontecer”. Foi imposto um limite à vontade de Seu próprio Filho. Se o próprio Filho de Deus teve que passar por isso, quanto mais nós? Em diversas situações, nós, pais, também devemos impor limites aos nossos filhos.

Vivemos em um mundo sem limites e que quer, a cada dia mais, inviabilizar que os pais imponham limites a seus filhos. Os apologistas do “tudo pode” querem insistir em decidir como devemos educar nossos filhos. Um verdadeiro absurdo diante do qual devemos nos posicionar de forma amorosa, mais firme, fincados na Palavra de Deus. Infelizmente, temos hoje uma quantidade de famílias onde os pais simplesmente não exercem na plenitude a sua responsabilidade e se omitem, não impondo limites a seus filhos. Fora da igreja já se revela uma temeridade, mas o problema é que isso tem muitos exemplos dentro dos lares dos crentes das nossas igrejas locais.

Segundo a Palavra de Deus, devemos exercer a árdua tarefa de impor limites aos nossos filhos. Queiram eles ou não. Queira o mundo ou não. E eu qualifico essa tarefa de “árdua” pelo fato de que a “nova cultura do mundo” tem sufocado vários lares. O liberalismo do “tudo pode” está contaminando a sociedade e isso tem atingido as famílias da igreja. Cada vez mais as mídias (não só a televisão de sinal aberto, mas o YouTube, a Netflix, a Globoplay, a Amazon Prime, entre tantos outros) têm feito apologia a sexo fora do casamento cada vez mais cedo e a “política de gênero” tem sido também problema para as famílias. Os programas de televisão e as séries que passam nos canais de streaming fazem apologia à homossexualidade e a difundem com intensidade e sem pudor.

Na semana de 13 de junho deste ano, uma famosa rede de fast food produziu um comercial com crianças, fazendo apologia à homossexualidade. Isso mesmo, comercial em rede de televisão aberta e nos canais de streaming e, repito, envolvendo crianças. A empresa vai na trilha de tantas outras marcas que, nas mídias, vêm fazendo essa apologia.

Tudo isso exige que os pais se aproximem mais dos seus filhos. Exige boa educação secular e cristã, além de muito diálogo em casa. O mundo não pode ser o educador do seu filho. Quando falo do mundo, para ser mais claro, estou falando de mídias, da escola, das amizades, entre outras realidades sociais que possam existir. O lar é que deve ser o ponto de referência para seus filhos, não os ambientes externos. A nossa casa deve gerar servos de Deus para a Igreja, homens e mulheres cheios do Espírito Santo. Infelizmente, há muitos pais também delegando a educação cristã de seus filhos exclusivamente à igreja. Outro erro que merece um artigo em separado.

Maridos, a autoridade espiritual da casa é de vocês. Ela não pode ser delegada exclusivamente à esposa. O padrão moral da casa é obrigação do pai, não exclusivamente da mãe, como infelizmente tem acontecido. E esse ponto também merece uma análise em separado, só sobre paternidade. A Bíblia Sagrada está repleta de exemplos de pais que não cumpriram adequadamente seu papel.

Vejamos ao exemplo do profeta Samuel: “Porém seus filhos não andaram pelos caminhos dele; antes, se inclinaram à avareza, e aceitaram subornos, e perverteram o direito. Então, os anciãos todos de Israel se congregaram, e vieram a Samuel, a Ramá, e lhe disseram: Vê, já estás velho, e teus filhos não andam pelos teus caminhos; constitui-nos, pois, agora, um rei sobre nós, para que nos governe, como o têm todas as nações” (1 Samuel 8.3-5).

Davi perdeu autoridade moral quando adulterou e virou homicida. Essa condição moral o impediu de ajustar problemas dentro de casa com seu filho Amnon, que abusou de sua meia-irmã Tamar; e com seu filho Absalão, irmão de Tamar, que matou Amnon e traiu o pai (2 Samuel 13).

O sacerdote Eli é outro exemplo de um pai omisso com relação ao que seus filhos faziam. Além dos muitos pecados com o culto, transformaram o Tabernáculo em um prostibulo (1 Samuel 2.12-14; 27-29). O povo contava para Eli tudo o que seus filhos faziam, mas o máximo que ele fez foi dar uma “advertência verbal”. Nenhuma atitude séria de, por exemplo, afastá-los do exercício do sacerdócio.

Nesse ponto, gostaria de deixar algumas perguntas para reflexão. Quando alguém adverte você a respeito de sua família, de seus filhos, como você reage? Quando a professora manda um bilhete a respeito das atitudes de seus filhos, como você reage? Eli foi um pai covarde. Ele honrou mais a seus filhos do que a Deus ao permitir que eles continuassem na prática de todos esses pecados no exercício do sacerdócio. Hoje, há filhos mandando nos pais. Há pais que são reféns dos filhos, como Eli. Como pastor de adolescentes por mais de 18 anos, vi muitos pais omissos e tolerantes que, até hoje, pagam um preço muito alto por não impor sábios limites.

Eli foi um pai conivente. Ele não apenas deixou de corrigir seus filhos, mas se tornou participante dos pecados deles. Provavelmente, Eli também comeu a carne que seus filhos haviam tomado inescrupulosamente do sacrifício. Eli tolerou o estilo de vida que eles levavam. Eli se tornou, assim, parceiro dos pecados de seus filhos. Por fim, Eli foi um pai fracassado. Ele aceitou passivamente a decretação da derrota sobre sua casa. Ele não reagiu, não clamou por misericórdia, não orou. Ele entregou os pontos. Não entregue os pontos. Não desista. Não abra mão da sua família. Você não gerou filhos para a morte. Você não gerou filhos para o cativeiro. Ore, lute, chore e jejue pela salvação de seus filhos.

Não impor limites traz, pelo menos, dois perigos: 1) o perigo de nos conformarmos com os pecados dos nossos filhos ao ponto de estarmos mais preocupados em agradá-los do que em honrar a Deus; e 2) o perigo de aceitarmos passivamente a decretação da derrota sobre nossa família. Que Deus tenha misericórdia das nossas famílias. Que os pais tenham coragem de assumir a árdua tarefa de impor limites.

Por Ariel da Silveira.

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