A oração de Paulo aos Colossenses

A oração de Paulo aos Colossenses

“Por esta razão, nós também, desde o dia em que o ouvimos, não cessamos de orar por vós e de pedir que sejais cheios do conhecimento da sua vontade, em toda a sabedoria e inteligência espiritual; para que possais andar dignamente diante do Senhor, agradando-lhe em tudo, frutificando em toda boa obra e crescendo no conhecimento de Deus; corroborados em toda a fortaleza, segundo a força da sua glória, em toda a paciência e longanimidade, com gozo, dando graças ao Pai, que nos fez idôneos para participar da herança dos santos na luz” (Colossenses 1.9-12 – ARC).

Durante seu ministério em Éfeso, capital de província da Ásia (Atos 19.10), Paulo enviou Epafras para pregar o evangelho no vale do Lico e ali ele fundou a igreja em Colossos (cidade vizinha a Laodicéia e Hierápolis). A igreja era composta, na sua maioria, por gentios, mas também tinha membros judeus. Epafras informou a Paulo de certas heresias que se infiltraram na igreja e, em razão disso, apesar de nunca ter ido a Colossos, Paulo escreve a Carta aos Colossenses como uma espécie de antidoto. O problema era o “sincretismo”, ou seja, combinar ideias de outras filosofias e religiões, como o paganismo, variantes do judaísmo e pensamentos gregos. Mais tarde essa heresia se tornou conhecida como gnosticismo, que principalmente negava a Cristo a condição de Deus e único Salvador. Segundo os gnósticos, para ser salvo era necessário obter “conhecimento (gnosis em grego) dos segredos” – e isso não estava disponível a todos. Eles defendiam que seria muito melhor combinar os aspectos de várias religiões, inclusive seguir suas cerimônias, rituais e restrições, para ser salvo e aperfeiçoado. Também defendiam que não havia nada de errado na imoralidade sexual, além de defender a adoração aos anjos.

É importante dizer que nos versículos citados acima (e em toda a carta) podemos observar que a maneira como Paulo constrói seus argumentos é tão significativa quanto o próprio argumento. Alegações a favor da unicidade de Jesus são bastante comuns, mas costumam expressar certa arrogância que é incompatível com o próprio Jesus. Às vezes são enfatizadas até com violência. Mas, Paulo, apesar da convicção inabalável de que Cristo ocupa sozinho o centro da criação e da salvação, não é arrogante, muito menos violento. Ele argumenta com humildade e escreve com a força de um amor que expressa consideração pelos leitores. Ele, mais uma vez, une um argumento intelectual brilhante e determinado com um coração terno e maravilhosamente bondoso. Assim, a forma como Paulo trata um problema tão relevante e grave para a Igreja Primitiva (que diz respeito à sobrevivência da própria Igreja), já é uma importante lição de como os ministros e líderes devem tratar os temas e questões que surgem no Corpo de Cristo. Por mais ameaçadora que seja a circunstância, o tratamento precisa estar fundamentado em profundo conhecimento da Palavra e coberto de muito amor por cada alma. O que Paulo revela é uma sincera vontade de que os leitores que fossem alcançados pela mensagem da carta mudassem de direção e voltassem para o caminho. Ele não escreveu para excluí-los do meio da Igreja, mas para que eles entendessem que existe uma única e inafastável verdade. Ele, sinceramente, os queria de volta ao único caminho.

O texto citado merece ainda alguns breves destaques, o que passo a fazer.

Desenvolvimento espiritual (Colossenses 1.9). Há de se destacar, de início, que o conhecimento do nosso dever é o melhor conhecimento. Uma mera noção vazia das maiores verdades é insignificante. Para que alguém receba o pleno conhecimento da vontade divina é importante que cresça na graça e no conhecimento espiritual (místico) de Cristo, através da atuação do Espírito Santo. Por isso, em seus pedidos, sabemos que Paulo falava do fruto que se deriva do desenvolvimento espiritual. Nenhuma das coisas aqui mencionadas pode ser obtida sem isso. Por esta razão, precisamos usar de todos os meios à nossa disposição, como a oração, a meditação, o estudo das Escrituras e a busca pelo poder do Espírito, pois é assim que se concretiza o devido crescimento espiritual (1 Coríntios 2.12-16).

O modo digno de andar (Colossenses 1.10). Isto é, em consonância com as exigências de Deus a fim de não lançar Seu nome em desonra. Aquele que anda de maneira digna de Cristo segue Seu exemplo (1 Coríntios 11.1). Não degrademos Sua pessoa e Sua obra como faziam os hereges de Colossos. Não nos ocupemos das antigas atividades pagãs, mas andemos em novidade de vida espiritual. Não deixemos de dar atenção às questões a que o Senhor Jesus deu atenção, isto é, ao que é eterno e não ao que é temporal (2 Coríntios 3.18). Paulo exorta àqueles crentes que “desejassem agradar” a Cristo, e isso “totalmente”, e eles não poderiam fazê-lo dando lealdade aos mestres gnósticos entre eles (1 Tessalonicenses 4.1).

Segundo a força da Sua glória (Colossenses 1.11). Há um divino suprimento de poder proporcional a todas as necessidades do crente e o Espírito Santo é a fonte desse poder, pelo que deve ser buscado.

Feitos idôneos (Colossenses 1.12). Somos “qualificados” como idôneos quando nos tornamos filhos verdadeiros, possuidores da mesma natureza de Deus.

Concluindo, podemos confrontar o texto com as condições em muitas igrejas atuais, onde a fé não passa de uma meia lealdade e algum credo. Cito Matthew Arnold: “Superficiais meio-crentes, de credos casuais, / Mas que nunca sentiram no íntimo, nem desejaram, / cujo discernimento nunca produziu fruto nas ações, / cujas vagas resoluções nunca foram cumpridas...”.

Por Ariel da Silveira.

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