A acessibilidade para os surdos na Assembleia de Deus

A acessibilidade para os surdos na Assembleia de Deus

O trabalho com surdos nas igrejas do Brasil tem avançado, porém existem muitas coisas que precisam e podem ser estruturadas. No 17º Encontro Nacional de Obreiros com Surdos (ENOS), ocorrido em 2018, em Belo Horizonte (MG), foi mostrado um censo realizado pela Associação Evangélica Nacional de Obreiros com Surdos (ASSENOS), que apresentou dados preocupantes. Apenas duzentas igrejas, aproximadamente, têm o ministério com surdos de maneira efetiva, seja com interpretação dos cultos, discipulados para surdos, Escola Bíblica para surdos e/ou pequenos grupos no Brasil. Desse número, apenas 10% fazem parte da Assembleia de Deus. Por ser um trabalho considerado recente por alguns, muitos questionamentos, inquietações e desafios acabam surgindo.

O intuito de focar na denominação Assembleia de Deus se dá em razão do número estimado de membros no Brasil. São cerca de 22,5 milhões de integrantes, fazendo dela, hoje, a maior denominação pentecostal a nível mundial.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) nos dá indícios do tamanho da população surda a nível mundial. Ela estima que 360 milhões de pessoas sofrem de perda auditiva, ou seja, mais de 5% da população mundial é surda. No Brasil, temos também alguns indicadores desta população. Por exemplo, os dados do Censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicam que, desse total, cerca de 2,2 milhões têm deficiência auditiva em situação severa e, entre estes, 344,2 mil são surdos. O que nos chama a atenção é que no Brasil o número de surdos alcançados pelo Evangelho representa apenas 1% da população.

A Libras, é a Língua Brasileira de Sinais reconhecida como meio legal de comunicação em nosso país pela Lei 10.436/2002, utilizada pelas pessoas surdas que vivem no Brasil. Karnopp e Quadros (2001) mencionam que ela, como qualquer outra língua, possui os níveis fonológico, morfológico, sintático, semântico e pragmático. Isso significa que ela é uma ferramenta a ser utilizada para a comunicação com a comunidade surda.

Um fator importante pode ser observado por Silva (2000, p. 237), ao escrever que a Assembleia de Deus “É voltada para o evangelismo, procurando alcançar pessoas carentes de ouvir a Palavra de Deus, e agregando-as formando novos núcleos da Igreja. É, portanto, a Igreja que mais evangeliza no planeta, razão por que também é a que mais cresce em número de fiéis”.

Nota-se que nenhuma outra igreja no Brasil deu tanta ênfase na questão do evangelismo pessoal das massas. Contudo, não se ouve dizer que foi uma preocupação da igreja trabalhar com os surdos. Eles compõem um grupo atualmente dentro das igrejas Assembleias de Deus que precisam de atenção, apoio e até mesmo carinho.

É importante observar que a preocupação primordial de Berg e Vingren, missionários fundadores das Assembleias de Deus, a princípio, não foi querer alcançar os surdos como um grupo específico da sociedade brasileira. Eles estavam preparados para pregar aos ouvintes, assim como na atualidade, onde toda a liturgia e o ritual do culto nas igrejas são preparados para os ouvintes. Dificilmente há uma estrutura para o sujeito surdo que adentra nossos templos e necessita de adaptação e acessibilidade.

Para desenvolver um trabalho na igreja, é preciso muita responsabilidade diante dos pastores, membros e principalmente de Deus. Em Eclesiastes 9.10 (ARA), lemos que “tudo quanto te vier à mão para fazer, faze-o conforme as tuas forças [...]”. O trabalho com surdos nas Assembleias de Deus no Brasil é algo novo e essencial, pois além de atender a Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002, imposta para todos os cidadãos, será desenvolvido um trabalho para o acréscimo do Reino de Deus na Terra.

O começo de um trabalho com surdos não é nada fácil e exige alguns passos que são considerados primordiais para a implantação de tal ministério. São três os principais passos: localização dos surdos na comunidade, envolvimento do pastor e a conscientização da igreja. Esses são os três principais passos para se iniciar um trabalho efetivo na Igreja com acessibilidade em Libras para alcançar os surdos, que são um povo não alcançado pelo Evangelho.

Todo esse processo de localização dos surdos na comunidade ou nas proximidades da igreja é algo de muita importância, pois através dessa iniciação eles passarão a frequentar a igreja e precisarão de cuidados, como visitas, aconselhamentos, dentre outros.

Como ungido do Senhor, o pastor exerce grande influência sobre a igreja na tarefa de expandir o Reino de Deus aqui na Terra. No ministério com surdos, ele tem uma importante participação, pois através de sua influência e de seu envolvimento, a igreja entenderá a responsabilidade que tem de buscar, incluir e assistir ao surdo.

Na Bíblia, vemos muitas histórias onde pessoas sem o mínimo de conscientização tentaram intervir de maneira equivoca, como por exemplo, no caso de Bartimeu, porém Jesus fez diferente, mandou chamá-lo e realizou um milagre. Nos dias de hoje, podemos ver essa realidade. Às vezes, por alguma limitação física ou social, as pessoas são colocadas à margem da sociedade. Mas, a exemplo de Jesus, é preciso ir ao encontro delas, assisti-las em suas necessidades e dar-lhes a oportunidade de participarem da comunhão da igreja, mesmo que não seja em condições comuns na vivência eclesiástica.

É de todo necessário que os membros das Assembleias de Deus demonstrem interesse por esse trabalho, por essa cultura e por essa língua tão ridicularizada por alguns. Devemos aprender com o exemplo deixado por Jesus, o de aceitação à pessoa surda e a preocupação em procurar se comunicar com ela através de sua Língua materna, sendo no Brasil a Libras.

Por Gesiel Guirra Santana.

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