Podemos ou não podemos julgar os outros?

Podemos ou não podemos julgar os outros?

Lemos em Levítico 19.15 que você tem que julgar o próximo com justiça; já em Mateus 7.1, lemos: “Não julgue ninguém para não ser julgado”. Como entender essa questão?

Minha resposta a esta questão passa por dois aspectos inicialmente: a necessidade de compreensão das especificidades sobre cada contexto bíblico e a parcela de resolução que a pergunta já contém.
O princípio de Levítico 19.15 está inserido na longa instrução que o grande legislador de Israel, Moisés, recebeu do Senhor sobre o estabelecimento de práticas justas. Entre os versículos 9 e 19 deste mesmo capítulo, Moisés apresenta as orientações divinas referentes à vida em comunidade. A premissa central desta perícope é o estabelecimento da justiça, isto é, do bom juízo entre os descendentes de Abraão. Já em Mateus 7.1-6 Jesus de Nazaré – no contexto do grande Sermão da Montanha – ensina sobre a importância da superação de julgamentos narcisistas, juízos arrogantes. Conforme o Mestre ensina, devemos ser justos em nossas críticas às demais pessoas – ou seja, não deve haver uma suspensão de nosso poder avaliativo com relação aos atos alheios, mas, sim, o estabelecimento de critérios dignos e respeitáveis.

Unindo, então, os pressupostos defendidos nos dois versículos apresentados, chegamos à conclusão de que não existe qualquer contradição entre os textos; ao contrário, a proposição mosaica é reforçada pelo princípio de Jesus.

Como anunciado no início de minha resposta, a pergunta já apresenta – ainda que não intencionalmente – os elementos fundamentais para a construção da resposta requerida. “Julgar o próximo com justiça” é o modelo bíblico anunciado em todo o Antigo Testamento, desde o Pentateuco e, indubitavelmente, com consolidação nos ensinamentos de Jesus e Seus apóstolos. Nossos juízos jamais devem ser movidos por interesses escusos ou inclinações carnais. E uma sociedade sem regras ou denúncias do erro de terceiros seria um ambiente tão fértil ao pecado como o primeiro. Bem, o leitor que chegou até este ponto da resposta pode se perguntar: “Mas como se pode julgar alguém com justiça?”. A solução se encontra na argumentação de Jesus que se segue em Mateus 7.1-6. Pensemos, então, nesses preceitos propostos pelo Cristo: em primeiro lugar, nossas críticas às demais pessoas só serão válidas e cristãs na medida em que forem cabíveis a nós mesmos quando estivermos submetidos às mesmas situações. Quem não tem empatia diante da queda ou do fracasso alheio nunca compreendeu o que de fato significa ser cristão. Outro valor defendido nas Escrituras com relação à prática da avaliação das ações de terceiros é a atividade da autoavaliação prévia. Como afirma Jesus de Nazaré, antes de aplicar parâmetros de juízos às realizações dos outros, é nosso dever submeter nossas próprias decisões a tais critérios. Por fim, um cristão só deve exigir uma mudança de comportamento de alguém se este já experimentou uma conversão em sua jornada. Quando julgamos os outros a partir de nosso ponto de vista, sempre seremos perversos e ímpios. Somente tomando como ponto de referência a cruz do Calvário nossas palavras deixarão de ter peçonha invejosa para serem bem temperadas com um amor exortativo.

Um cristão não é hipócrita em suas exigências; ele é alguém misericordioso, transbordante de paciência e compaixão com o próximo. Um discípulo de Jesus sabe julgar com graça, pois essa é a nossa experiência diária.

Por Thiago Brazil.

Compartilhe este artigo com seus amigos.

Comentário

Seu comentário é muito importante

Postagem Anterior Próxima Postagem