Reflexões sobre função e unção

Reflexões sobre função e unção

Todo verdadeiro obreiro deseja realizar alguma obra ou exercer alguma função no Reino de Deus. Obreiro que não faz (ou que pelo menos não deseja fazer) a obra, das duas uma: ou não está na sua melhor fase ou não é, de fato, um obreiro. No primeiro caso, é válido um acompanhamento e/ou ajuda específica para que se identifiquem as possíveis causas. Fato é que, obreiro faz – claro, com os devidos limites e cuidados, como orienta a Palavra de Deus: “...conforme as tuas forças” (Eclesiastes 9.10). Nem além e nem aquém.

Tão importante quanto fazer a obra é ter o discernimento da unção para o exercício do ministério. Jesus Cristo não começou Seu ministério sem receber a unção do Espírito Santo. Em Mateus 3.16, o Espírito de Deus desceu como pomba sobre Ele e, em Mateus 4.17, lemos: “Desde então começou Jesus a pregar e a dizer...”. Ou seja, primeiro Jesus recebeu a unção e depois começou oficialmente Seu ministério. Em Lucas 4.18, Ele declarou, lendo o texto bíblico na sinagoga: “O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu...”. Se Jesus não abriu mão da unção, que dirá nós! Acerca disso, vale uma frase que ouvi uma vez e nunca mais esqueci: “Jesus é Deus ungido por Deus como homem, mostrando que nem Deus no homem quis ser homem sem a unção de Deus”.

É perigoso exercermos um ministério específico no Reino de Deus sem a unção. Uma pessoa pode até ter habilidade técnica, capacidade humana, vários cursos superiores etc. Tudo isso é válido e tem a sua importância. Contudo, no mundo espiritual, o que vale mesmo é a autoridade espiritual. Esta não se compra, não se imita, não se manipula. Ou tem ou não tem.

A expressão “unção” é distinta no Antigo e no Novo Testamentos, sendo que no primeiro caso aponta para a legitimação para o exercício de um ofício e no segundo aponta, em princípio, para a presença do Espírito Santo na vida do verdadeiro cristão (1 João 2.20). Todavia, nós sabemos que, se o Novo Testamento nos ensina que existem dons específicos distribuídos pelo Espírito Santo à Igreja para o exercício de ministérios e serviços específicos (Efésios 4.11; Romanos 12.3-8), então devemos sempre ter em mente que, primeiro, nunca podemos querer fazer a obra do Senhor sem a convicção de que a unção, ou seja, a presença real do Espírito Santo, está em nossa vida; e segundo, devemos pedir de Deus o discernimento para não exercermos aquilo para o qual não fomos chamados especificamente. Vale lembrar que o batismo no Espírito Santo, que é o revestimento de poder para a pregação do Evangelho, cuja evidência externa é falar em outras línguas (Atos 2.1-4), é uma bênção e uma promessa abrangente, à disposição de todos os crentes.

Com relação à questão da função e da unção, existem alguns exemplos no Antigo Testamento com os quais podemos pegar alguns princípios, mesmo que simbólicos, e tirar algumas lições muito importantes para a nossa vida ministerial. Vejamos alguns.

O primeiro foi a transição do governo de Samuel (último juiz) para o de Saul (primeiro rei de Israel). Deus mandou Samuel ungir a Saul como rei, pois o povo lhe pedira. Assim foi feito, Saul recebeu a unção e começou a reinar. Embora Samuel tenha continuado a ser um profeta de Deus, todavia agora resignou a função de governar o povo (1 Samuel 12). Porém, chegou o tempo em que lemos, com relação a Saul: “Ora, o Espírito do Senhor retirou-se de Saul” (1 Samuel 16.14). Como a unção é mais importante do que a função, Saul acabou depois perdendo também a função.

O segundo caso foi a transição do governo de Saul para o de Davi. Deus havia mandado o profeta Samuel ungir a Davi como rei em Israel, contudo Davi não recebeu logo a função. O interessante é que, no início do capítulo 16 de 1 Samuel, Deus questiona Samuel perguntando até quando ele teria dó de Saul (1 Samuel 16.1). Então, Samuel ungiu a Davi no versículo 13 e, logo em seguida, no versículo 14, é relatado que o Espírito do Senhor se retirou de Saul. Vejo aqui a não possibilidade de haver dois ungidos ao mesmo tempo para a mesma e única função.

Mesmo Davi tendo recebido a unção, todavia não assumiu logo a função de rei. Temos agora um homem com função e sem unção (Saul) e outro com unção, mas ainda sem a função (Davi). Como a unção é mais importante, seria questão de tempo Davi assumir o reinado de Israel. Durante esse período, Davi sofreu ameaças e perseguições, contudo não perdeu o senso do princípio da autoridade espiritual. Quem realmente tem a unção respeita o princípio da autoridade espiritual. Ele não precisa rebelar-se ou utilizar-se de meios escusos para ter a função.

O terceiro caso foi a relação de Davi com Absalão, seu filho. Por mais que Davi tenha tido as suas limitações, todavia a Bíblia deixa claro que ele era um homem segundo o coração de Deus e tinha muito zelo pelo nome do Senhor (1 Samuel 13.14). Portanto, você nunca lê na Bíblia que o Espírito do Senhor se retirou de Davi, durante todo o período em que reinou sobre Israel. Davi não perdeu nem a unção e nem a função! Já o seu filho Absalão, com toda a “forçação de barra” e rebeliões, nunca teve nem a unção e muito menos a função de rei de Israel.

Davi, quando já tinha a unção, porém ainda sem função, foi perseguido por Saul, que estava na função, porém já sem unção. Agora, neste caso do seu filho Absalão, Davi também foi perseguido, e já como rei, mas por um sem unção e que nunca teria a função.

Meus amados irmãos, que estas lições possam nos ensinar que mais importante do que qualquer função que venhamos a pleitear na obra do Senhor, o que de fato é imprescindível e do qual não podemos abrir mão, é a gloriosa unção do Senhor. A função será consequência. Deus colocará no tempo e no modo dEle. Deus nos abençoe!

Por Cláudio César Laurindo da Silva.

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