Conexão entre olhos e alma

Conexão entre olhos e alma

Em Mateus 6.22 e 23, a declaração de jesus é solene e inconfundível: “Os olhos são a lâmpada do corpo”. Os olhos naturais são os órgãos que captam as imagens e guiam os membros do corpo em suas atividades. Porém, no texto em análise, o Senhor se referiu aos olhos não apenas como órgãos indispensáveis do corpo, mas. também como intérpretes daquilo que veem e, mais ainda, como reveladores do verdadeiro estado da alma de uma pessoa.

Enquanto anunciava o célebre Sermão do Monte, Jesus falou dessa realidade espiritual, revelando até que ponto um olhar com intenção impura pode envolver a alma (Mateus 5.27-29). O patriarca Jó, quando fazia a defesa de sua integridade pessoal e familiar diante da acusação de seus “amigos”, declarou: “Fiz aliança com os meus olhos; como, pois, os fixaria em uma virgem?” (Jó 31.1 — ARC). O apóstolo Paulo pedia a Deus que lhes iluminasse “os olhos de seu entendimento” (Efésios 1.18). Com essas afirmações bíblicas, fica estabelecida, portanto, uma inconfundível conexão entre olhos e alma Mas, quais os objetivos do Senhor ao ensinar tais lições?

Especificamente, nos versículos 19 ao 24 [de Mateus 6], Jesus enfatiza as prioridades do Reino de Deus. Conforme a essência de Sua doutrina, os nossos tesouros são celestiais e não terrenos. Onde colocamos os nossos olhos, ali estão, as nossas prioridades. Não temos dois senhores, mas apenas um Senhor. Observe que é nesse contexto que o Mestre faz a Sua sábia declaração sobre a importância dos olhos como a lâmpada do corpo.

Perceba que a ênfase de Jesus aqui não é a saúde física dos olhos, mas, sim, a saúde espiritual, a saúde da alma. Um cego, por exemplo, pode ter olhos, mas não tem luz; não sabe para onde vai e nem percebe em que tropeça. Assim eram os fariseus nos dias do ministério terreno de Jesus. Por essa razão foi que Jesus os identificou como cegos guiando cegos. Em síntese, o Senhor ensinava que a forma como enxergamos as pessoas e o nosso contexto vai determinar à nossa maneira de agir. Assim, o Mestre deixou bem claro que os olhos servem como o farol de todo o corpo e são a fonte de verificação de tudo o que se necessita para as grandes decisões que envolvem o corpo.

Conforme Champlin (volume 1, 2005, p.326), em seu comentário do Novo Testamento, a palavra “simplicidade” pode resumir o sentido das palavras de Jesus em Mateus 6.22 e 23: “O sentido principal fala da simplicidade, em contraste com a duplicidade. Provavelmente os fariseus e outras autoridades religiosas deram ensejo a essa ilustração. Tais homens transformavam a religião em um grande drama mundano, motivados somente pelos interesses pessoais. [...] Jesus acabara de dizer a verdade sobre os tesouros na terra e nos céus. Alguns desejam possuir ambas as coisas, e assim pretendem servir aos dois senhores, ao Deus dos céus e a mamon na terra. Tais indivíduos praticam a duplicidade, e não possuem olhos simples”.(1) O assunto abordado indica a simplicidade de propósitos ou de intenção. Pois, se a alma é boa, os olhos são bons, não veem duas imagens, mas uma apenas. Isto é, essa pessoa mencionada por Jesus segue o seu caminho orientado por um só propósito, serve a um só Deus, buscando as riquezas celestes e não as terrenas.

Após a sua brilhante declaração, Jesus faz duas advertências – uma positiva e uma negativa – e, logo a seguir, uma conclusão: “Os olhos são a lâmpada do corpo”. Isso significa que nossos olhos são o farol de nosso corpo. Eles podem nos conduzir pelos caminhos da paz ou nos enveredar pelas veredas do ódio. Podem nos envolver na prática da justiça e do juízo, mas podem também nos conduzir à prática da injustiça e da iniquidade. A seguir, Jesus prossegue e faz duas advertências pertinentes à declaração anterior: “De sorte que, se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo terá luz; se, porém, os teus olhos forem maus, o teu corpo será tenebroso”. É precisamente nesse ponto que o Mestre faz uma conexão direta dos olhos com as atribuições da alma humana. Os olhos bons mostram a bondade, o amor e a paz que emanam da alma que vive unida a Deus; enquanto os olhos maus falam ou revelam a impureza, a ganância e a cobiça de uma alma que vive longe ou está afastada do Criador. De acordo com Arrington e Stronstad (2003, p.56), em seu Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento, “a palavra ‘bons’ (haplous) pode se referir a ver bem e sem impedimento, o oposto de visão dupla. Também é usado para conotar generosidade (e.g., Romanos 12.8, ‘liberalidade’; 2 Coríntios 8.2; 9.11, ‘beneficência’; 2 Coríntios 9.13, ‘liberalidade’; Tiago 1.5, ‘liberalmente’). ‘Olhos maus’ indica cobiça, ganância ou mesquinhez (cf. ‘mau’ em Mateus 20.15)”(2).

Em várias partes da Bíblia, as trevas são citadas como figuras de linguagem para falar do pecado e da maldade do coração humano. Jesus afirmou: “Se a luz que em ti há forem trevas, que grandes trevas serão!” (Mateus 6.23). Em se tratando de olhos maus, o maior prejudicado é a pessoa que os possui. Se os olhos são maus, não podem produzir “luz”, portanto estão em trevas. A vida de uma pessoa assim está plenamente tomada de trevas. As verdades enfatizadas por Jesus nesse texto são ratificadas em outras passagens bíblicas como 1 João 1.5-7, Romanos 13.11-14 e Efésios 5.8-14.

A doutrina bíblica acerca da alma nos assegura que esta possui não apenas a faculdade da inteligência, mas também a dos sentimentos e da vontade. O texto, portanto, quer nos ensinar que se a alma está conectada com Deus, já está inserida em Seu Reino, o seu código moral é o código desse Reino e seus valores são inspirados nessa mesma fonte. Uma alma banhada da verdadeira e divina luz (João 8.12) terá um seguro guia para toda a vida no caminho de Deus, tanto no plano terreno como na eternidade. 

Notas bibliográficas

(1) CHAMPLIN, Russell Norman. O Novo Testamento interpretado versículo por versículo. São Paulo: Hagnos, 2005. Vol. 1.

(2) ARRINGTON, French L.; STRONSTAD, Roger (editores). Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2004.

Por Rayfran Batista da Silva.

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