Os alarmismos causados por falsas profecias e a fé inabalável nas Escrituras

Os alarmismos causados por falsas profecias e a fé inabalável nas Escrituras

Recentemente os internautas denunciaram um vídeo que circulou nas redes sociais e que transmitiu uma mensagem ameaçadora: ninguém deveria sair de casa a partir da meia-noite de 30 de março (2021) porque Deus mataria qualquer pessoa que desobedecesse a ordem emitida. Um pronunciamento alarmista dessa natureza revela falta de temor de Deus, irresponsabilidade sem limites e desrespeito pelas pessoas. Além disso, o portador dessa falsa profecia reivindica autoridade divina e considerando-se porta-voz do Altíssimo.

Os Profetas e os Falsos Profetas

Encontramos o perfil dos profetas na Bíblia como pessoas com o ofício de apresentar Deus e a sua vontade ao povo ou a uma pessoa individual. Os três termos hebraicos básicos do ofício profético, navi, roeh e hozeh, aparecem em 1 Crônicas 29.29: “Os atos do rei Davi, tanto os primeiros como os últimos, estão escritos nas crônicas de Samuel, o vidente [rō’eh], nas crônicas de Natã, o profeta [nābî’] e nas crônicas de Gade, o vidente [ḥōzeh]” (NAA). Os léxicos traduzem geralmente o termo navi por “porta-voz, orador, profeta”; o termo roeh, “vidente”, refere-se àquele que vê, era assim que o profeta era chamado na época da coroação de Saul (1 Samuel 9.9); e hozeh é também um vidente, mas que vê introspectivamente, com o espírito (Oséias 9.7). Samuel é chamado de navi e de roeh (1 Samuel 3.20; 9.19); Gade e Amós, são identificados como hozeh e navi (2 Samuel 24.11; Amós 7.12-16). Isso significa que todos esses termos são usados indistintamente para referir-se aos profetas, no entanto, navi diz respeito ao elemento objetivo, ou seja, ao fato de ser mensageiro de Deus; ao passo que os outros dois termos remetem ao elemento subjetivo, à forma como os oráculos foram escritos.

O sistema profético de Israel é singular porque teve a sua origem em Deus, e a sua mensagem atravessou os séculos e, ainda na atualidade, instrui as nações. Os profetas bíblicos são reconhecidos ainda hoje por judeus e cristãos. Até mesmo os muçulmanos, apesar de procurarem negar a autenticidade do texto bíblico, aceitam esses profetas. O próprio nosso Senhor Jesus Cristo e seus apóstolos atestaram a autoridade deles (Mateus 5.17, 18; 2 Timóteo 3.16). O profetismo hebreu no Antigo Testamento é sem paralelo e nenhuma nação no planeta goza de tal privilégio. Isso porque eles foram escolhidos e inspirados por Deus. Israel é o reino dos profetas cuja autoridade e influência alcançam os dias atuais.

Os mesmos termos hebraicos usados para os profetas do Deus vivo são também aplicados também aos falsos profetas, é o contexto que vai identificar o verdadeiro e o falso no Antigo Testamento. A Septuaginta emprega nove vezes a palavra hebraica pseudoprophētēs, “pseudoprofeta, falso profeta”, para traduzir a palavra hebraica navi, “profeta” (Jeremias 6.13; 26.7, 8, 11, 16; 27.9; 28.1; 29.1, 8 [33.7, 8, 11; 34.9; 35.1; 36.1, 8]; Zacarias 13.2). A Septuaginta segue uma numeração diferente em Jeremias, a partir do capítulo 23, aqui é apresentada entre colchetes.

Nos Tempos Modernos

Nos tempos modernos surgiu muita gente alardear ter recebido revelação divina e destilar profecias falsas. Os mais conhecidos são William Miller e os fundadores do movimento das Testemunhas de Jeová. Ele anunciou em 1818 volta de Cristo a Terra nos 20 anos seguintes. Em 1831, disse que esse evento ocorreria em 23 de março de 1843. Miller conseguiu muitos adeptos que venderam propriedades e dirigiram-se às colinas esperar o retorno de Cristo. Em Boston, muitos vestiram-se de branco, subiram os montes e permaneceram em constante oração. Enquanto isso, muitas pessoas em outras regiões dos Estados Unidos entregaram-se publicamente à imoralidade e à prostituição. Contudo nenhuma de suas previsões cumpriu. Em sua defesa, Miller argumentou que errou os cálculos e agendou nova data: 22 de outubro de 1844, mas também fracassou. Essa data é, ainda hoje, conhecida como o Dia do Grande Desapontamento. William Miller arrependeu-se, procurou a igreja, pediu perdão e foi servir a Deus, vindo a falecer em 1849.

Com isso, surgiram vários grupos de falsos profetas. Hiram Edson, Joseph Bates e James White com sua esposa Ellen Gould White eram os proeminentes dos movimentos adventistas. Hiram Edson afirmou ter tido uma visão no dia seguinte ao fracasso de Miller e disse ter visto Jesus em pé ao lado do altar. Assim, ele reinterpretou a essa profecia, declarou que ele errou simplesmente o local, mas havia acertado a data. Joseph Bates instituiu a observância do sábado. O casal White destacou-se com suas revelações e visões. Em 1860, os três grupos juntos deram origem ao que hoje chama-se Igreja Adventista do Sétimo Dia.

Os três primeiros dirigentes das testemunhas de Jeová, Charles Taze Russell, Joseph Franklin Rutherford e Nathan Homer Knorr anunciaram alarmes falsos. Russell anunciou a vinda de Cristo para 1878, a Batalha do Armagedom para 1914, como isso não aconteceu, ele mudou a data para 1915. O seu sucessor anunciou essa batalha para 1918, e depois para 1920, como isso não aconteceu, ele anunciou o início do Milênio para 1925 com a ressurreição dos patriarcas e profetas bíblicos, que se apresentariam vivos ao povo. 

Os alarmes falsos são danosos à sociedade principalmente no campo religioso. William Miller e os fundadores do movimento das Testemunhas de Jeová causaram perdas praticamente irreparáveis à sociedade e prejuízo espiritual às igrejas. As falsas profecias vêm de indivíduos que se posicionam como mensageiros de Deus e, geralmente, eles reivindicam autoridade espiritual acima das demais pessoas. Os seus discursos ensinam e, às vezes, exigem abandono de carreira profissional, projeto de vida, perda financeira, o que é pior, naufrágio na fé.

Há duas maneiras de reconhecer se o profeta é falso ou verdadeiro, se a profecia cumpre e a doutrina do profeta é bíblica ou não (Deuteronômio 13.1-4; 18.20-22; Mateus 7.15-20). O tempo é o maior inimigo dos falsos profetas. Considerando o perfil psicológico deles ao longo da história, desde os tempos bíblicos, é difícil saber onde o autor do discurso de 30 de março de 2021 quis chegar. Chamar atenção para si mesmo como canal exclusivo de Deus? Alguém com unção acima da demais pessoas, talvez seja essa uma explicação.

A profecia bíblica é segura como afirma o apóstolo Pedro: “temos ainda mais segura a palavra profética, e vocês fazem bem em dar atenção a ela, como a uma luz que brilha em lugar escuro, até que o dia clareie e a estrela da alva nasça no coração de vocês” (2 Pedro 1.19 - NAA). Mesmo nesse profetismo autêntico de Israel surgiu “falsos profetas no meio do povo, também haverá falsos mestres entre vocês” (2 Pedro 2.1). A Igreja não está isenta desse tipo de obreiros. O objetivo da maioria é colocar-se no centro, conquistar adeptos e simpatia das pessoas para serem seus seguidores e não de Jesus.

Por Esequias Soares.

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