“Pais, não irriteis vossos filhos”

“Pais, não irriteis vossos filhos”

Ao escrever a sua Carta à Igreja em Éfeso, o apóstolo Paulo exorta os filhos a “obedecer a seus pais no Senhor” (Efésios 6.1a). A elucidação dessa incumbência aparece em seguida: “...porque isto é justo” ou “pois isso é certo” (v.1b). Nessa direção, Hendriksen destaca que “toda obediência egoísta, ou relutante, ou sob terror, deve ser terminantemente descartada”. Isso porque a prescrição divina requer que os cristãos não vivam de aparência; ao contrário, Paulo orienta os filhos a obedecerem a seus pais “no Senhor”, e isso significa “obedecer por amor ao Senhor”. Assim, quem não obedece não ama os pais e, portanto, não conhece e nem ama a Deus (1 João 4.7-9).

Nesse sentido, Paulo assevera que somente a prática da obediência formal não é suficiente na completude do dever cristão, mas que também os filhos devem “honrar pai e mãe” (Efésios 6.2). Esta expressão significa “alto respeito ou estima mostrada a uma outra pessoa”. Dessa forma, os filhos que amam seus pais naturalmente os apreciam, obedecem e buscam fazer aquilo que lhes agrada, com respeito e até com o sustento, caso seja necessário. A obediência e a honra aos pais culminam em dupla promessa aos filhos: “prosperidade e longevidade” (Efésios 6.3).

Uma exortação negativa

Não obstante, no que diz respeito ao cumprimento da promessa, o apóstolo chama a atenção para os deveres dos genitores. Inicialmente, arrazoa Paulo que os pais não devem provocar a ira dos filhos (Efésios 6.4a). Isso significa que o ensino e o tratamento dispensado pelos pais não devem “excitar as paixões ruins dos filhos por severidade, injustiça, parcialidade ou exercício irracional de autoridade”. Mathew Henry informa que embora Deus tenha concedido poder aos pais, eles não devem abusar desse poder. Eles não devem ser impacientes e nem usar de rigor excessivo para com os seus filhos.

Em sua missiva aos colossenses, o apóstolo faz orientação semelhante, ao escrever: “Pais, não irritem os seus filhos, para que eles não fiquem desanimados” (Colossenses 3.21 – NAA). O Comentário Bíblico Pentecostal destaca que os pais não devem incitar ressentimentos, impor expectativas exageradas ou aplicar disciplinas muito rígidas em seus filhos. Isso não significa deixar de corrigir, mas tratá-los de forma a não predispor à desobediência ou à rebelião.

Na instrução cristã, a disciplina dos genitores deve ter o condão de ajudar os filhos a fazerem o correto, e não a de irritar ou de provocar sentimentos de raiva ou rebeldia. A disciplina que não instrui não cumpre o seu papel regularizador e, dessa forma, não torna os filhos pessoas melhores e responsáveis, mas, sim, pessoas rancorosas que contestam ordens e não as aceitam. O propósito de Paulo é que o lar cristão seja harmonioso e pacífico, uma vez que a desobediência dos filhos pode acabar com a paz e a alegria de qualquer lar.

Nesse parâmetro, sublinha-se que a desarmonia no lar provocada pelo conflito entre pais e filhos pode ser explicada pelos seguintes erros na educação: (1) excesso de proteção; (2) favoritismo; (3) desestímulo; (4) não reconhecer o fato de que o filho está crescendo; (5) negligência; e (6) uso de palavras ásperas. Preocupado que os pais cristãos não incorram nessas faltas, os mesmos são orientados a não abusar da autoridade recebida. Eles devem educar com brandura e amor, sem rigor excessivo ou imposições injustas, para não incitar a ira dos seus filhos e, assim, manter a unidade no ambiente familiar (Efésios 6.4a).

Uma exortação positiva Na segunda parte do texto (Efésios 6.4b), Paulo enfatiza que, em lugar de provocar os seus filhos à ira, os pais devem criá-los na “disciplina e admoestação do Senhor” (6.4b – ARA). Depreende-se dessa expressão a presença de dois métodos essenciais na educação de filhos cristãos, a saber: a disciplina e a admoestação. Nesses dois substantivos, encontra-se o resumo da maior responsabilidade dos pais: criar os filhos na disciplina da correção apropriada e compassiva e no conhecimento do dever que Deus requer deles.

O vocábulo “disciplina” é a tradução do termo grego paideía, que significa “orientação” ou “treinamento”, o qual concorre para o desenvolvimento do caráter e pronta obediência das normas. Stott assevera que aqui a ênfase da disciplina recai na correção. Trata-se da mesma palavra usada em Hebreus com respeito aos pais terrestres e ao nosso Pai celestial, que “nos disciplina para aproveitamento” (Hebreus 12.5-11). Não se trata de espancamento, mas de instrução equilibrada, controlada por direitos e deveres com vistas ao aprendizado.

Nesse mesmo sentido, a palavra “admoestação”, do grego nouthesia, significa “uma instrução ou advertência que faculta a distinção entre o mal e o bem”. Não se refere à severidade excessiva e nem à permissividade, mas, sim, ao equilíbrio indispensável na educação dos filhos.

Equilíbrio

Conforme a exortação das Escrituras, cabe aos filhos o dever de obedecer e honrar seus pais, e cabe aos pais a responsabilidade de proceder de modo prudente e sábio ao educar, corrigir e disciplinar a fim de não incitar a ira de seus filhos. Ao cumprir os parâmetros das Escrituras e manter o equilíbrio nessa relação, os pais tornam mais fácil a tarefa dos filhos em honrá-los e obedecê-los e, por conseguinte, de desfrutarem das promessas de sucesso e vida longa. O amor e o respeito mútuo estabelecem a harmonia necessária para a bênção na família.

Referências Bibliográficas

ARRINGTON, F. (Ed.). Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento. Rio: CPAD, 2003.

HARPER, A. F. (Ed.). Comentário Bíblico Beacon. Rio de Janeiro: CPAD, 2006, vol. 1.

HENDRIKSEN, William. Efésios e Filipenses. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2013.

HENRY, Matthew. Comentário Bíblico. Novo Testamento – Atos a Apocalipse. Rio: CPAD, 2008.

PFEIFFER, Charles. Dicionário Bíblico Wycliffe. Rio: CPAD, 2006.

RIBAS, D. (Trad.). Comentário do Novo Testamento. Aplicação Pessoal. Rio: CPAD, 2009, vol. 2.

Por, Douglas Roberto de Almeida Baptista.

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