Nenhum personagem bíblico superou o Senhor Jesus na prática da oração, não obstante alguns terem sido exemplares nos frequentes momentos de comunhão com Deus, como o profeta Daniel e o apóstolo Paulo, entre outros mencionados nos textos bíblicos, os quais utilizaram tempo e disciplina dedicados a esse ato sagrado, comportamento que deve ser incluído no cotidiano de cada cristão. Não há dúvida de que os discípulos de Cristo observavam sua intimidade com o Pai quando orava, dispensando os rituais estabelecidos na Antiga Aliança. Movidos pelo interesse de imitá-lO, suplicaram que os ensinassem a fazerem o mesmo, proporcionando ao Mestre a oportunidade de repetir o que por muitos é intitulado “A Oração do Pai Nosso” (Mateus 6-13), não significando que tivesse estabelecido uma fórmula didática para discussão acadêmica, ou um texto de decoreba para ser utilizado como ladainha religiosa, mas uma maneira de organizar, com palavras objetivas, o que o crente deseja expressar ao Pai celestial na oração.
Por oportuno, é necessário compreender que a oração envolve o Deus trino, quando praticada em íntima comunhão com o Pai e efetuada em nome de Jesus” (Romanos 8.15b e João 14.13), o Mediador que estabeleceu o caminho que conduz o homem a Deus, conforme Ele mesmo afirmou: “Ninguém vem ao Pai, senão por mim” (João 14.6), cabendo ao Espírito Santo, agente divino que ausculta o coração, ajudar o crente a expor o que deseja na oração (Romanos 8.26,27). O silêncio ou o tempo de resposta de Deus constituem um teste de resistência da fé, visto que o Soberano não está submetido às intenções ou “determinações” de quem ora, cabendo a Ele sempre responder segundo a Sua vontade (1 João 5.14).
No Salmo 51, somos conscientizados que a oração está respaldada pela misericórdia divina, conforme clamou o salmista: “Tem misericórdia de mim, ó Deus, segundo a tua benignidade”, pelo que o crente deve se apresentar a Ele com um coração puro e um espírito reto e voluntário, sobretudo reconhecendo ser carente de Sua compaixão (Salmos 51.1,10-12), considerando sua insignificante condição humana perante o Criador, como está escrito: “Que é o homem mortal para que te lembres dele? E o filho do homem, para que o visites?” (Salmos 8.4); ou seja, nada merecemos dEle e tudo que faz a nosso favor não significa atender a méritos humanos ou privilégios pessoais, pois Ele se corresponde com o homem por causa da Sua misericórdia, manifestada por Jesus Cristo, o autor e consumador da nossa fé (Lamentações 3.22 e Hebreus 12.2).
À luz da Bíblia, há vários tipos de oração: intercessão, confissão, súplica, adoração, deprecação, ação de graças, louvor, petição etc, que são feitas nas suas variadas formas: individual, em grupo, congregacional, pública ou em família. Quanto à maneira de orar, depende do momento ou condição física de cada um: de pé, deitado, prostrado, ajoelhado, em pensamento, balbuciada ou audível, “com súplica no Espírito” (Efésios 6.18). A oração deve ser realizada espontaneamente ou quando programada, na concordância dos que pretendem orar juntos. Entre os pressupostos da oração está a admoestação de Jesus prevenindo que devemos vigiar e orar “para que não entreis em tentação; na verdade o espírito está pronto, mas a carne é fraca” (Mateus 26.41), o que deveria ser o principal motivo de oração para os crentes. É de grande importância considerar e priorizar essa afirmação, pois vivemos em um mundo saturado de mazelas e maldades de toda sorte, configuradas numa silenciosa batalha espiritual continuamente travada contra o salvo, sua família e a igreja, cuja ardidez, invisível, mas real, é capaz de afetar ou mesmo sucumbir os fiéis, por mais intenso que lhes seja o desejo de obedecer e servir ao Senhor, razão porque o apóstolo Paulo legou-nos a advertência: “No demais irmãos meus, fortalecei-vos no Senhor e na força do seu poder”; e concluiu: “Porque não temos que lutar contra carne nem sangue...” (Efésios 6.10-12).
Somos informados pelas Escrituras que esse conflito acontece em três áreas distintas: a carne – dominada pela natureza do pecado –; o mundo – universo social sem Deus, com comportamentos e atrações capazes de seduzir, funcional ou mentalmente –; e o Diabo – inimigo que “vem senão a roubar, a matar e a destruir”, cuja falta de vigilância pode lhe facilitar as condições para sufocar a alegria da salvação, desconstruir a espiritualidade e, por fim, demolir a fé (Vide Romanos 7.12,13; 1 João 2.15 e 1 Pedro 5.8). Portanto, vale lembrar que devemos orar sem cessar e estarmos sempre atentos contra as astutas ciladas do inimigo, para não sermos surpreendidos ou fragilizados na constante batalha contra o mal.
Outro fator de importância a ser considerado na oração é o posicionamento do crente perante Deus, visto que no enlevo espiritual o suplicante é transportado em espírito, pelo Espírito, e posto, pela fé, diante de quem conhece os corações (Gênesis 4.3-5; Hebreus 10.22 e Romanos 8.27), conforme está escrito: “Quem subirá ao monte do Senhor ou quem estará no seu lugar santo? Aquele que é limpo de mãos e puro de coração, que não entrega a sua alma à vaidade nem jura enganosamente. Este receberá a benção do Senhor e a justiça do Deus da sua salvação. Está é a geração daqueles que buscam, daqueles que buscam a tua face, ó Deus de Jacó” (Salmos 24.3-6). Esse texto sintetiza a condição espiritual necessária de quem ora, pois Deus não aceita quem deseja se dirigir a Ele, vivendo alheio à Sua vontade ou movido por interesses escusos, considerado como indigno de entrar no Seu santuário, sendo-lhe, portanto, vedado o acesso ao Pai, visto que a oração é o veículo que aproxima o homem do seu Criador, proporcionando íntima comunhão, uma prerrogativa para os fiéis quando em legítima relação com Ele, em detrimento dos infiéis, para os quais resta-lhes o caminho do arrependimento, a exemplo de Davi, quando clamou: “Cria em mim um coração puro e renova em mim um espírito reto. Não me lances fora da tua presença e não retires de mim o teu Espírito Santo” (Salmos 51.10,11).
Baseado nos argumentos referidos, e se tratando de um lar cristão, é importante o saudável hábito da oração, seja ela individual ou coletiva na família, cujo ambiente pode ser considerado como um altar erguido ao Senhor, e as orações, como incenso de cheiro suave, são recolhidas em salvas e ouro nos arquivos celestiais e respondidas com bênçãos que se perpetuam e repercutem (Gênesis 8.20,21; Apocalipse 5.8; Efésios 1.3 e Isaías 61.9). O altar erguido no lar expressa a fé e a devoção, vivenciadas numa aliança com Deus através do Salvador Jesus. No sagrado altar da família são manifestadas a gratidão, o louvor, a adoração e a consagração, como sacrifício contínuo, “vivo, santo e agradável a Deus”, em permanente culto racional (Romanos 12.1); e por vias de consequências, Ele se faz sempre presente no lar, pelo Espírito Santo, condicionando um lugar de gozo, paz, harmonia e prosperidade para a família, onde o Senhor ordena a bênção e o Seu nome é glorificado (Salmos 128).
Por, Kemuel Sotero Pinheiro.
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