Vida e edificação – Cristo e a Igreja

Vida e edificação – Cristo e a Igreja

Como Professor de Teologia de vários grupos e denominações religiosas, sempre me deparo com perguntas acerca de como ler melhor a Palavra. Muitos anos atrás, após concluir a faculdade de Filosofia, eu buscava no estudo da Teologia respostas que saciassem a sede de absoluto que invadia a minha alma. Terminei, porém, meu bacharelado em Teologia numa situação complicada. Após anos de estudos teológicos, duvidava mais do que cria e foi muito difícil meus primeiros anos de ministério, onde pessoas buscavam respostas que supunham que eu tivesse. Mas, após anos de meditação na Palavra e contemplação de Deus, fui amadurecendo na fé. Hoje, convicto de que a Bíblia é a Palavra de Deus e depois de ter sido batizado no Espírito Santo, quero, através deste artigo, partilhar algumas coisas acerca da Palavra.

Precisamos antes de tudo ver a Bíblia como um todo. Marcião (85 d.C-160 d.C.) achava, equivocadamente, que o cristão só devia ler o Novo Testamento. Mas, precisamos ver que toda a Bíblia — Antigo e Novo Testamento — trata de dois pontos principais: Cristo e a Igreja. E ela é, como um todo, um Livro de vida e edificação. A Bíblia não deve ser vista apenas como um livro de conhecimentos doutrinários, mas de vida. Portanto, se a lermos com perspicácia e visão celestial, descobriremos que, desde o seu início, ela trata de vida e edificação.

Edificação e vida do início ao fim da Bíblia

Em Gênesis, imediatamente após a criação do homem, a vida foi introduzida. Após criá-lo, o Senhor colocou-o num Jardim no Éden, em frente à árvore da vida (Gênesis 2.7-9). À citação da árvore da vida segue-se o rio que flui e a menção a três materiais preciosos: ouro, pérola e ônix (uma pedra preciosa). Segundo a revelação posterior das Escrituras, em Apocalipse 21, tais materiais preciosos aparecem destinados à edificação da Nova Jerusalém.

Em Gênesis 2.22, encontramos uma referência específica ao princípio da edificação: “E da costela que o Senhor Deus tomara do homem, edificou Ele uma mulher, e lhe trouxe”. Deus tomou uma costela do lado de Adão e usou-a para lhe edificar uma esposa e, como um pai que conduz a filha até o altar da igreja para entregá-la o noivo, Ele a entrega a Adão e celebra o primeiro casamento. Portanto em Gênesis 2 temos a vida e a edificação.

O livro de Apocalipse também menciona a vida. Apocalipse 2.7 diz: “Ao vencedor dar-lhe-ei que se alimente da árvore da vida que se encontra no paraíso de Deus”. Isso, sem dúvida, é uma referência à árvore da vida de Gênesis 2.9. E Apocalipse 2.17 afirma ainda: “Ao vencedor dar-lhe-ei do maná escondido, bem como lhe darei uma pedrinha branca”. Aqui se fala de uma pedra, que provavelmente representa edificação.

Nos últimos dois capítulos de Apocalipse, verificamos a edificação da Nova Jerusalém. No capítulo 22, o rio da vida flui e a árvore da vida cresce às águas do rio. Como podemos ver claramente, a Bíblia começa e termina com vida e edificação.

Entre Gênesis e Apocalipse, os dois extremos da Bíblia, há uma grande ponte, que, para mim, é o Evangelho de João. O Evangelho de João abre-se com as palavras: “No princípio”. Todavia, se lermos cuidadosamente esse Evangelho, descobriremos que a história nele registrada não tem fim. Começa, portanto, no princípio da eternidade passada e continua indefinidamente para a futura. Dessa forma, ele une o período entre o primeiro e o último livro da Bíblia.

A Bíblia começa e termina com vida e edificação. O Evangelho de João, uma ponte entre seus dois extremos, é também um livro de vida e edificação. Umas poucas palavras do primeiro capítulo desse Evangelho nos convencerão desse fato: “No princípio era a Palavra (...) a vida estava nEle” (João 1.1-4). Observe que o Evangelho de João diz que no princípio era a Palavra, e que a Palavra era Deus e que nEla estava a vida. Assim sendo, encontramos vida no primeiro capítulo de João.

Cristo e a Igreja ou a Vida e o Edifício

Cristo é a Vida (Colossenses 3.4) e a Igreja, um Edifício. Mas, que é vida? Vida é Cristo, que é Deus dispensado para dentro do nosso ser pela ação do Espírito Santo. Embora muitos cristãos falem de Cristo como vida, nem todos possuem a experiência dEle como vida. À experiência genuína de Cristo como vida está na percepção dEle como o próprio Deus dispensado para dentro do nosso ser. Vida é Deus dispensado e trabalhando em nosso ser.

Não fale de vida sem percebê-la. O Senhor Jesus jamais nos disse que apenas conversássemos sobre vida. Ele disse para a vivermos. Ele disse ser o pão da vida e afirmou que temos de come-lo (João 6.51,57). Também nos falou que é a água viva e que precisamos bebê-la (João 4.10,14). Ao comer o pão, ele será trabalhado dentro de você; e quando beber a água, ela será dispensada em seu ser. Você não terá apenas pão e água, mas terá vida. Terá Cristo dispensado e trabalhando em seu interior.

Que é edificação? Edificação é, na verdade, a expansão de Deus em nossas vidas. É o Seu aumento para Sua expressão de maneira “corporativa”. Observamos que vida é o próprio Deus trabalhando em nosso ser. Se isso realmente ocorrer, o resultado será uma dilatação, uma expansão de Deus em nós.

Deus, se observarmos Gênesis direito, não criou logo um casal. Primeiro, ele criou apenas um homem. À esposa veio do marido e se tornou a expansão dele. Aquilo foi edificação. Como esposa de Adão, Eva foi a edificação de Deus, e aquela edificação foi a expansão de Adão. Ele era, como o primeiro homem da História, uma figura e um tipo de Deus se tornando homem na Pessoa de Cristo (1 Coríntios 15.45), o Noivo; e Eva, como primeira esposa, era uma figura e um tipo da edificação de Deus — a Igreja, a Noiva do Cordeiro. E assim como essa edificação (Eva) foi parte de Adão, constituindo-se, sem dúvida, seu aumento e expansão, a Igreja é fruto de Cristo, é Sua expansão, Seu Corpo.

Precisamos ler a Bíblia cuidadosamente. Em Gênesis 1, Deus estava sozinho. Ao final do livro de Apocalipse, encontramo-lo no centro da Cidade Santa, a Nova Jerusalém, que é a Sua expansão. Ao longo de todas as gerações, Deus tem trabalhado em Seu povo escolhido. E, por fim, como resultado de seu incansável e persistente trabalho, nos tornaremos Sua edificação.

Por, Roberto dos Santos.

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