Reflexão bíblica sobre ingratidão

Reflexão bíblica sobre ingratidão

Vamos falar acerca de um sentimento que ramifica-se cada vez mais no coração do ser humano: a ingratidão. É interessante observarmos que a ingratidão não é um sentimento passageiro como a raiva, mágoa ou a desilusão. A condição do ingrato pode durar toda a vida uma vez que a ingratidão faz parte da formação do caráter da pessoa. A solução para esse grave problema centraliza-se em uma atitude radical de mudança de rumo. O ingrato enxerga os favores que lhe beneficiam como se fossem obrigações. Ele (a) é incapaz de reconhecer o bem que lhe foi concedido, talvez porque não seja capaz de transformar misericórdia em favor aos necessitados.

Quando analisamos as Escrituras, vemos que o apóstolo Paulo classificou essas pessoas como aquelas que fariam parte dos últimos dias e que seria um período difícil por causa da mudança comportamental da humanidade: os homens priorizariam o seu ego em detrimento ao amor a Deus. “Porque haverá homens amantes de si mesmos, avarentos, presunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes a pais e mães, ingratos, profanos (…) tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia dela. Destes afasta-te” (2 Timóteo 3.2e 5).

É interessante vermos que essas pessoas compartilham o mesmo ambiente que nós em nossos santuários. Observe o versículo cinco em que o autor denuncia o comportamento supostamente “piedoso”, mas a sua atitude é voltada para os seus próprios interesses, no intuito de prover algo para si, desconsiderando se as suas decisões vão resultar na destruição de vidas e a reputação de tantos outros. Não é nenhuma novidade nos depararmos com filhos ingratos que até fazem parte do coral da juventude, participam das atividades eclesiais, mas são incapazes de reconhecer o sacrifício de seus pais em lhes assegurar o melhor para eles. Esses mesmos pais entendem que os esforços aplicados serão ineficazes no sentido de agradá-los, uma vez que não fazem mais do que sua obrigação. O filho ingrato traz desonra para o seu lar e abrevia seus dias neste mundo. Conheço alguns jovens que estão insatisfeitos com suas vidas e até com as pessoas ao seu redor, como se Deus e as pessoas ao seu redor fossem culpados por seus fracassos. Os ingratos julgam que a ajuda fornecida não é suficiente para garantir-lhes o sucesso.

A cura dos 10 leprosos, episódio registrado no Evangelho de Lucas 17. 11-19 Jesus restabelece a saúde de 10 homens que padeciam da terrível moléstia. Observamos nessa passagem bíblica o resultado do que é ser totalmente ingrato. A Escritura indica que o Senhor regressava da Galileia para Jerusalém e o caminho mais seguro era do Vale do Jordão. Durante muitos anos judeus e samaritanos odiaram-se mutuamente.

Mas o que chama a atenção é que mais uma vez o Filho de Deus resolveu passar por Samaria. Ele já havia feito isso outras duas vezes. A primeira quando foi esperar em um poço a mulher samaritana e a outra quando tentou hospedar-se em uma aldeia samaritana, sendo rejeitado pelos cidadãos locais. Mesmo assim, mais uma vez, o Senhor Jesus deixou de lado as leis mortas para derrubar três barreiras que ainda persistiam: racial, social e religiosa.

Jesus resolveu passar por Samaria, mais especificamente por uma aldeia onde abrigava 10 leprosos. Naquela região estavam judeus e samaritanos que, unidos pela dor, esqueceram por algum tempo as suas diferenças, afinal eles eram portadores de uma doença incurável que os condenou à morte. Conhecedores da Lei de Moisés, os enfermos sabiam das restrições de caráter social à eles imposta e que ficassem a uns 15 metros longe dos demais. Aquele dia ficaria marcado para sempre na lembrança daqueles homens: de longe o grupo identificou Jesus e seus discípulos e logo clamaram por misericórdia. Nota-se que diferente do cego de Jericó que clamava: “Jesus, Filho de Davi, tem misericórdia de mim”, reconhecendo a soberania de Cristo como rei e herdeiro do trono, os leprosos clamavam: “Jesus, Mestre, compadece-te de nós”.

Séculos antes, o profeta Natan foi instrumentalizado pelo Senhor ao rei Davi em que seu reinado seria eterno, em referência ao Messias que viria de sua linhagem. A profecia cumpriu-se em Jesus, o Filho do Deus vivo, sendo descendente direto de Davi, de acordo com o que lemos em Mateus 1.1. O termo Rabi, que traduzido significa “mestre”, carrega a raiz “rav”, que literalmente significa “grande” ou “distinto em conhecimento”. Um exalta a realeza do nosso Senhor como Rei dos reis e o outro a sabedoria do Mestre dos mestres. Os leprosos reconheciam a sabedoria, o grande conhecimento de Jesus, mas vemos que não haviam tido um encontro verdadeiro com o Filho de Deus, aquele que tem poder não somente para recuperar a saúde do grupo mas perdoar seus pecados também.

Ao contemplar a situação em que se encontravam: sujos, mal cheirosos, deformados, renegados pela sociedade e excluídos do convívio de suas famílias, com relatos de apedrejamento ao tentarem aproximar-se das cidades, o Senhor demonstrou compaixão e ordenou que se apresentassem ao sacerdote conforme Levítico 14.1-32. Os homens perceberam que, ao longo do trajeto, eles foram purificados da lepra. Eles estavam curados e livres para desfrutarem uma vida normal.

Observe que no momento em que Jesus delegou a tarefa, o milagre já havia sido determinado, entretanto, não ocorreu movimentação quanto a arrependimento e perdão para aqueles homens: “Seus pecados estão perdoados!”, esta frase não saiu de seus lábios. Jesus conhecia os seus corações e sabia que eles não desejavam arrepender-se, mas apenas o restabelecimento de sua saúde. Quando o milagre aconteceu, apenas um deles voltou para testemunhar e agradecer o milagre e a sua atitude garantiu a salvação de sua alma.

Jesus enfatiza que esse homem era samaritano, considerado estrangeiro, porque com certeza o demais eram judeus. Mas a diferença entre eles não é somente a nacionalidade e sim a ingratidão por eles demonstrada. Apenas um reconheceu o que Jesus realizou em seu favor e demonstrou gratidão, pois ele sabia que não era merecedor do milagre. Nós temos que reconhecer e dar graças pelo que recebemos, seja pequeno ou grande. Os outros não foram capazes de agradecer pela cura de uma doença terrível quanto mais pelo sol de cada dia, a chuva, o alimento ou pelo ar que respira.

Jesus suportou a ingratidão daqueles que não foram capazes de reconhecer o agir de Deus. Que possamos escutar nosso coração e observar se existe gratidão em nosso interior, porque somente dessa maneira alcançaremos salvação.

Por, Vera Lúcia da Silva.

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