Pastor Waldemar Carvalho

Pastor Waldemar Carvalho

Pastor presidente da Missão Kairós fala do trabalho no Senegal e do panorama religioso no norte da África

O pastor presidente da Missão Kairós, Waldemar Carvalho, visitou as instalações da matriz da CPAD no Rio de Janeiro no dia 8 de fevereiro [2012], quando teve a oportunidade de falar sobre as necessidades do campo missionário e a falta de material humano para atender aos reclames da Grande Comissão.

A Missão Kairós iniciou as suas atividades em 1988 como resultado de um projeto denominado “América do Sul”. Nessa época, um grupo formado por pastores estudava o livro de Atos dos Apóstolos e perceberam que o antigo princípio de treinar um convertido para se tornar obreiro autóctone não era tão observado como antes. Compungidos pela realidade dos novos tempos, esses pastores decidiram criar uma entidade dona de uma visão de treinamento transcultural e de envio de missionários em equipe, para ficar no campo e treinar obreiros autóctones.

Nesta entrevista, o pastor Waldemar fala da obra de Deus no Senegal, um país com 96% da população muçulmana e o panorama religioso no norte do continente africano.

Qual o propósito da Missão Kairós?

A Missão Kairós surgiu de um desafio de fé, ou seja, o trabalho do cotidiano ministerial. Eu já sentia que faltava algo e eu saí em busca do que faltava, finalmente, em um congresso de Missões, descobri o que precisava e que foi o trabalho nessa área. Nessa época, decidi abandonar meu emprego, em uma escola americana, no qual eu gastei 22 anos de minha vida, além disso eu também não prossegui na vice-presidência de uma igreja Assembleia de Deus e faz 30 anos que estou envolvido totalmente com Missões. Iniciei as minhas atividades missionárias em família, porque a minha filha foi a primeira missionária em minha casa. Então surgiu o desejo de formar uma entidade um pouco mais específica, dessa forma surgiu a Kairós há 24 anos. O nome da entidade é uma palavra grega que significa “Tempo de Deus”. Cremos que estamos no Kairós de Deus a fim de realiazar a obra missionária, para isso existe a Associação para Treinamento Transcultural. À entidade é uma missão interdenominacional com o objetivo de levar o Evangelho para povos pouco ou não alcançados pelo Evangelho. Pouco alcançado é quando existem igrejas, mas não se consegue alcançar o país, então chegamos para ajudar. Não alcançados são os países onde não há o Evangelho e não se permite a divulgação do Evangelho. Temos o livro de Atos dos Apóstolos como nossa base, porque este livro da Bíblia revela como a Igreja deu seus primeiros passos com trabalho em equipe, treinamento, preparo transcultural. Enfim, fomos juntando todas essas informações e montamos a entidade com essa visão.

Portanto, a Teologia de Missões da Kairós é toda fundamentada em Atos dos Apóstolos.

Procuramos observar como a Igreja caminhou e quando descobrimos que os crentes precisam ter treinamento, preparo transcultural, e colocamos em pauta essa questão, tivemos um choque porque as ideias não foram aceitas àquela época. Alguns perguntaram: “Preparo transcultural? O que é isso? Nunca precisamos disto”. À igreja enviava missionários como envia ainda hoje, mas percebemos que faltava algo. Tivemos que fazer uma mesa redonda com pastores e missionários para analisar a questão e isso resultou no primeiro treinamento nos anos de 1980. O projeto era denominado Projeto América do Sul (PAS). Ele funcionou no período de 1983 a 1987 e a missão seguiu em frente. Eu e outras pessoas acabamos por fundar a Missão Kairós.

O senhor permaneceu todo o mês de janeiro no continente africano, principalmente no Senegal, um país onde o islamismo é majoritário. A estimativa é de que os muçulmanos correspondem a 96% da população. Como foi a sua estada no país, o objetivo desta viagem e como está o trabalho missionário não somente no Senegal, mas também nos outros países do continente?

A evangelização naqueles países é precária, isso porque o islamismo proíbe outras manifestações religiosas. Outro problema é que para muitos países não se consegue a permissão para entrar, como é o caso da Líbia, Egito, Tunísia, Marrocos, Mauritânia. Nenhum destes permite a entrada para missionários. Dessa forma, existe a necessidade de pensar em estratégia para alcançar esses povos. Nós temos uma representação naquele país, que por sinal emite o visto para missionários devido a tolerância do governo local, apesar da resistência oferecida pela população. O governo do Senegal chegou a propor ao governo nigeriano que visitasse o país para comprovar que muçulmanos e cristãos podem viver em harmonia. Começamos o nosso trabalho naquele país com um posto de saúde que atende a toda a população e que é referência no país, e através deste projeto demos início à nossa igreja. Eu quero deixar claro que não somos proibidos, mas há opressão pelos extremistas islâmicos e quando viajei para o Senegal, levei comigo um grupo de nove homens para construir um templo em um terreno que adquirimos e construímos a igreja neste mês de janeiro. Eu viajei no primeiro dia de janeiro e passamos um mês ali.

Quantos obreiros estão atuando no Senegal?

Temos ao todo 12 missionários trabalhando por lá, e este número é pouco, considerando a demanda do trabalho na região. À nossa dificuldade é a falta de obreiros. Durante a construção do templo, por conta do testemunho dos missionários trabalhando, e dos irmãos que foram construir o prédio, aconteceu uma grande conversão de muçulmanos. À conversão não aconteceu pela pregação direta, mas pelo testemunho durante o convívio. Ao longo dos anos, os senegaleses geraram uma concepção de que o branco paga e o negro trabalha, e quando chegou um grupo formado por homens brancos que não contratou nenhum negro para trabalhar, e começaram a se dedicar à construção, os nativos ficaram admirados, porque eles nunca viram algo semelhante. Diante disso, eles também passaram a ajudar, apesar da barreira linguística. Houve, então, um dia em que contabilizamos 20 ajudantes, e sem remuneração e convite. Muitos deles aceitaram Jesus. Nessa convivência, eles viram Cristo e se entregaram ao Senhor Jesus. Os convertidos ainda estão lá, e inclusive já têm testemunhado sobre a transformação de suas vidas após a conversão.

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