A tríplice missão da Igreja do Senhor Jesus

A tríplice missão da Igreja do Senhor Jesus

Não apenas a pregação  (kerigma”), mas também a comunhão (“koinónid”) e o serviço (“diakonia”) fazem parte do ministério cristão e, portanto, são manifestações do Reino. Sobre esses dois aspectos do ministério cristão, lembremo-nos do exemplo de humildade de Jesus na última Ceia, narrada em João 13, e da ligação que Jesus e o apóstolo João fazem entre a comunhão entre as três Pessoas da Trindade e a comunhão que deve haver entre os filhos de Deus — a primeira apresentada como inspiração da segunda (João 17 e 1 João 4).

Temos a missão de servir, manifestando o amor de Deus como Igreja, em relação ao nosso próximo, começando pelos domésticos da fé e estendendo esse amor às pessoas não-cristãs (Marcos 10.43-45; Mateus 5).

Sobre esse ponto, o parágrafo 5º do Pacto de Lausanne (1974), redigido pelo teólogo anglicano John Stott, recentemente falecido, afirma com acerto: “Afirmamos que Deus é o Criador e Juiz de todos os homens. Portanto, devemos partilhar o seu interesse pela justiça e pela reconciliação em toda a sociedade humana, e pela libertação dos homens de toda forma de opressão. Sendo o ser humano feito à imagem de Deus, toda pessoa, sem distinção de raça, classe social, cor, cultura, sexo ou idade, possui uma dignidade intrínseca em razão da qual deve ser respeitada e servida, e não explorada. Aqui também nos arrependemos de nossa negligência e de termos, às vezes, considerado a evangelização e a ação social mutuamente — incompatíveis. Embora a reconciliação do homem com o homem não seja reconciliação com Deus, nem a ação social e a evangelização, nem a libertação política e a salvação, afirmamos que a evangelização e o envolvimento sócio-político são parte do nosso dever cristão. Ambos são necessárias expressões de nossas doutrinas acerca de Deus e do homem, do nosso amor para com o próximo e da nossa obediência a Jesus Cristo. À mensagem de salvação implica também numa mensagem de juízo sobre toda forma de alienação, de opressão e de discriminação , e não devemos ter medo de denunciar o mal e a injustiça onde quer que existam. Quando alguém recebe a Cristo, nasce de novo no seu reino, e, consequentemente, deve buscar não somente manifestar como também divulgar a sua justiça em meio a um mundo ímpio. À salvação que alegamos possuir deve estar nos transformando na totalidade de nossas responsabilidades pessoais e sociais. A fé sem obras é morta”.

Infelizmente, depois de Lausanne, muitos que defendiam a causa evangelicalista eram, na prática, liberacionistas, isto é, seguidores enrustidos da Teologia da Libertação ou do Evangelho Social. Mas, isso não desmerece a importância e a biblicidade do Pacto de Lausanne. A história da Igreja demonstra que a ação social sempre marcou o Cristianismo: as questões sociais, educacionais e políticas na Reforma Protestante; William Wilber Force e o Grupo de Clapham; George Muller e o Orfanato de Bristol; as missões transculturais com os trabalhos sociais e educacionais; a história da Escola Dominical desde sua criação no século 18, a ação social que o pentecostalismo exerceu e exerce hoje em vários países etc.

A verdadeira religião é “pura e sem mácula, para com o nosso Deus e Pai” e consiste em responsabilidade para com Deus (Tiago 1.27, 44), para consigo mesmo (Tiago 1.26; 3.2-12) e para com o próximo — “visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações” (Tiago 1.27; 2.14-16).

Não há vida cristã verdadeira se essa tríplice responsabilidade cristã é desprezada.

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