O papel da Rússia no final dos tempos, conforme Ezequiel 38; e a doutrina que tem sido usada pela aliança russa-chinesa para justificar seus interesses
Desde 24 de fevereiro e até o fechamento desta edição, após décadas de paz na Europa, um país entrou em guerra e invadiu outro novamente naquele continente. O longo período de paz que vivíamos no Ocidente criou a sensação de que a guerra não era mais uma possibilidade no território ocidental. Entretanto, se olharmos para a história ocidental, veremos que, na verdade, a guerra foi a regra para todas as demais gerações no Ocidente, sendo esse hiato de décadas uma exceção na história ocidental.
Não podemos prever com precisão os próximos desdobramentos desse atual conflito entre Rússia e Ucrânia, e que tem mobilizado as atenções do mundo. Obviamente, só Deus, que conhece e governa a história, pode fazê-lo. Ele é quem “muda os tempos e as estações; remove os reis e estabelece os reis” (Daniel 2.21). Entretanto, podemos dizer pelo menos que há a possibilidade (se ela se concretizará ou não, não sabemos) de tal conflito gerar uma escalada de vários outros conflitos. Isso porque os Estados Unidos, que antes eram – para o bem ou para o mal – o “xerife do mundo”, estão agora enfrentando uma decadência moral, econômica e política – sem falar da espiritual – que se agravou coma eleição de Joe Biden.
Desde os anos 2000, essa decadência norte-americana em múltiplas áreas, tem sido constante, tendo experimentado apenas uma ligeira e temporária melhora – e só nas áreas econômica e de política internacional – durante o governo Donald Trump. Após o fiasco da aposta na Primavera Árabe durante o governo Obama e o desastre na saída do Afeganistão durante o governo Biden, que abandonou cidadãos norte-americanos e cooperadores naquele país, e ainda deixou bilhões em equipamentos bélicos que armaram o Talibã como nunca antes, o mundo passou a ver os Estados Unidos como uma liderança fraca. Enquanto isso, a China comunista tem crescido e o projeto expansionista russo-chinês tem sido levado adiante.
A China – que já declarou apoio total à Rússia – está acompanhando a reação dos Estados Unidos e da União Europeia em relação à invasão russa na Ucrânia para avaliar o próximo passo: a invasão chinesa a Taiwan. Poucos dias antes da invasão na Ucrânia, Pequim selou um acordo de petróleo e gás com Moscou de cerca de 120 bilhões de dólares e anunciou que a parceria entre China e Rússia estava mais forte do que nunca, e que era “uma parceria sem limites”. Também dias antes, a Rússia fechou um acordo de cooperação militar com a Venezuela, Cuba e Nicarágua. Os russos, que já armam a ditadura de Maduro, prometeram mais armamentos a ele e também equipamentos bélicos em Cuba e Nicarágua, além da presença da inteligência russa nesses países. Logo, imediatamente após a invasão russa na Ucrânia, Maduro – que já declarou seu desejo de invadir o Suriname e a Guiana – fez uma declaração fervorosa em apoio à Rússia. Por sua vez, a Argentina, cujo presidente viajou à Rússia e à China em fevereiro, se reunindo pessoalmente com Putin e Xi Jinping, não condenou a invasão russa, enquanto a Rússia declarou apoio à Argentina em uma possível tentativa de tomar as Malvinas. E logo após Israel se declarar a favor dos ucranianos no conflito, a Rússia declarou que a Síria – que é um parceiro antigo dos russos – é quem tem o direito real sobre as Colinas de Golã, que, segundo os russos, tem sua soberania usurpada dos sírios pelos israelenses.
Enfim, a invasão russa na Ucrânia pode ser apenas o começo de uma série de outras operações militares, que seriam: novas operações russas no leste europeu com o objetivo de restaurar “O Império Russo”; a invasão de Taiwan pela China; e possíveis conflitos na América Latina. A questão é: o que o Ocidente fará diante dessas ameaças? Ir para guerra seria provocar a Terceira Guerra Mundial. Por outro lado, apenas aplicar sanções também não resolve. A Rússia e o Irã – outro parceiro do bloco russo-chinês – têm sofrido fortes sanções do Ocidente nas últimas décadas e isso não resultou em qualquer mudança em seus planos. Por que mudaria agora? E se os russos cortarem o gás que vende aos europeus e que representa a maior patê de todo o gás no continente e a maioria esmagadora do gás na Alemanha, que é a líder da União Europeia? Além disso, a retirada da Rússia do SWIFT (o sistema bancário internacional) é uma faca de dois gumes, já que, por um lado, dificulta a vida do governo russo e dos seus cidadãos, mas pôr outro também afeta a própria economia ocidental (já debilitada por lockdowns provocados por uma pandemia que nasceu... Na China!); e cria um incentivo para o crescimento de sistemas alternativos que não usam o dólar americano, o euro ou o yen como base para as transações. Aliás, a China e a Rússia defendem já há algum tempo esses novos sistemas.
Enfim, o Ocidente está em uma encruzilhada. E o século 21, que havia sido visto por muitos, após a Queda do Muro de Berlim e a Queda da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), como um período de paz e prosperidade para o Ocidente, acabou se mostrando, como tantas outras épocas, cheio de problemas. Houve avanço nas áreas tecnológicas e de medicina, mas os demais problemas permaneceram, porque o ser humano é o mesmo e “o mundo jaz no maligno” (1 João 5.19).
Confronto entre os dois principais blocos globalistas
Esta guerra traz à tona uma disputa entre os dois principais blocos globalistas hoje no mundo: o globalismo ocidental e o globalismo russo-chinês.
Muita gente vê erroneamente o presidente russo Vladimir Putin como conservador. Isso se dá por que não conhecem a nova doutrina política russa, adotada por Putin desde o início dos anos 2000 e que se chama “Novo Eurasianismo”. Ela foi elaborada pelo intelectual russo Alexander Dugin. Entre outras obras deste em que ele trata do assunto está “A Quarta Teoria Política”, onde Dugin explica que o “Novo Eurasianismo” é uma quarta vertente política – as outras três são, segundo Dugin, o Liberalismo, o Comunismo e o Fascismo. O “Eurasianismo” consiste na mistura de alguns elementos de várias visões, de maneira que ela traz elementos do tradicionalismo, que defende o conservadorismo em costumes (daí a oposição do governo russo, por exemplo, às políticas LGBT no país),mas também alguns elementos do comunismo. Devido a esse discurso difuso, Putin consegue atrair grupos distintos: tanto a esquerda ocidental (Venezuela, Cuba, Nicarágua, Argentina, Honduras, Bolívia e vários grupos de esquerda do Brasil) quanto conservadores incautos no Ocidente, atraídos por seu discurso conservador em costumes.
“A Quarta Teoria Política” defende ainda um “mundo multipolar”, onde a bipolaridade “liberalismo x comunismo” da Guerra Fria e a mono polaridade da “hegemonia liberal ocidental” desde o fim da URSS são superadas por um autoproclamado modelo de “autodeterminação dos povos” que tem o objetivo de estabelecer múltiplas potências regionais que não sejam“ constrangidas por organismos internacionais”. A defesa da “autodeterminação dos povos” é algo, à primeira vista, muito positivo, só que ela é usada em um sentido distorcido, com o propósito de justificar um esquema expansionista de poder. Na prática, não se está defendendo que cada nação tenha sua soberania respeitada. Ao contrário: o termo é usado para justificar regimes totalitários fazendo intervenções em outros países em nome da “autodeterminação” e “libertação” dos povos.
Por exemplo, ele está sendo usado neste momento para justificar os avanços da Rússia em certos países do leste europeu sob o pretexto da “autodeterminação” ou “libertação” de regiões de maioria russa nesses países (como detalhe de que nas últimas décadas vários russos migraram estrategicamente para as regiões fronteiriças desses países com a Rússia como uma preparação para a justificativa da tomada territorial); e está sendo usado também para justificar uma futura invasão de Taiwan pela China, uma futura invasão das Malvinas pela Argentina, a tomada das Colinas de Golã pela Síria, a tomada de Kosovo pela Sérvia e a tomada de Suriname e Guiana pela Venezuela.
O fato de os globalistas ocidentais se oporem ao imperialismo russo-chinês não significa dizer que aqueles são “bonzinhos”. A única vítima nessa história é o povo ucraniano, que, desesperado com a investida russa, busca ajuda no Ocidente.
Temos hoje dois grandes esquemas de poder em disputa: de um lado, o projeto globalista ocidental, que busca a implementação de um governo mundial por meio da diminuição das soberanias nacionais e de uma maior concentração de poder nas mãos de órgãos supranacionais dirigidos por burocratas financiados pelas elites econômicas ocidentais; e do outro, o projeto russo-chinês, que, além de tocar um projeto de expansão territorial em suas respectivas regiões pela força bélica, tenta subjugar o mundo pelo controle de áreas estratégicas da infraestrutura dos países. É o caso, sobretudo, do Partido Comunista da China (PCC), que, por meio de multinacionais chinesas – que são, na verdade, entidades dirigidas pelo PCC –, compram essas áreas estratégicas da infraestrutura dos países para submetê-las aos interesses do governo comunista chinês.
Portanto, apoiar a invasão russa na Ucrânia porque a Rússia e a China têm o globalismo ocidental como um dos seus inimigos é equivocado; e, por sua vez, ser contra a guerra na Ucrânia não deve ser visto como apoio aos projetos dos globalistas ocidentais. Nesse momento, apesar dos interesses questionáveis do globalismo ocidental na Ucrânia, o mais importante é ajudar os ucranianos em sua luta contra a invasão russa. Todo apoio e oração aos ucranianos nessa hora.
A relação do atual conflito com as profecias bíblicas
Logo que o atual conflito teve início, alguns estudantes da Bíblia começaram a se perguntar se a invasão russa na Ucrânia tem alguma relação com as profecias bíblicas, e a resposta é “sim”, e em dois sentidos: em um, diretamente; e em outro, indiretamente.
A relação direta com as profecias bíblicas é que Jesus afirmou que um dos sinais da proximidade da Sua Segunda Vinda seria que ouviríamos “falar de guerras e rumores de guerras” (Mateus 24.6); ou seja, este atual conflito é mais um dos que compõem o conjunto de embates entre nações que faz parte do chamado “princípio das dores”, pois indica o avizinhamento do Retorno de Cristo. Já a relação indireta é que a profecia dos capítulos 38 e 39 de Ezequiel, que fala de uma aliança de nações que se levantarão contra Israel no final dos tempos, ao apresentar a lista dessas nações, traz a Rússia e a Ucrânia. Ou seja, segundo a profecia bíblica, a Rússia e a Ucrânia, que hoje estão em guerra, serão, no futuro, povos aliados, com a Ucrânia estando novamente sob a influência direta da Rússia, já que o texto bíblico diz que a aliança contra Israel no final dos tempos será capitaneada por “Magogue”, que é a Rússia, e terá a Ucrânia entre os aliados.
A terra de Magogue é identificada pelo historiador judeu Flávio Josefo, que viveu no primeiro século da Era Cristã, como sendo a terra dos citas, que compreendia as regiões norte e nordeste do Mar Negro e a região leste do Mar Cáspio, territórios hoje ocupados por três países: a Rússia, a Ucrânia e o Cazaquistão. Não por acaso, a Grande Muralha da China foi originalmente chamada de “Muralha de Magogue” pelos países árabes em referência justamente a proteger os chineses dos antigos invasores russos.
A Rússia também é mencionada no texto bíblico como o povo do “norte” em Daniel 11.40,41. Aliás, se você observar um mapa e traçar uma linha subindo a partir do norte de Israel, você verá que ela vai dar diretamente na Ucrânia e depois na Rússia.
Uma curiosidade é que quando o teólogo C. I. Scofield (1843-1921) declarou, no início de 1900, anos antes da Primeira Guerra Mundial e da Revolução Russa, o fato óbvio de que essas passagens bíblicas – pelas referências geográficas – eram uma alusão à Rússia, ele foi ridicularizado, porque a Rússia naquela época não tinha nenhum grande destaque no cenário internacional e uma invasão russa a Israel era algo inimaginável, ainda mais que Israel sequer existia como nação naquela época, logo o significado da profecia de Ezequiel 38 e 39 – entendiam muitos – deveria ser outro. Porém, Scofield respondeu: “Eu não entendo e posso não saber explicar como, mas se a Bíblia diz isso, então eu creio que será assim”. Hoje, com Israel de volta como nação desde 1948 e devido à relevância bélica e como protagonista da história que a Rússia ganhou no mundo nos séculos 20 e 21, mais uma vez vemos que a Palavra de Deus é fiel.
As nações listadas nos versículos 2 6 da profecia de Ezequiel 38 são Magogue, atual Rússia, que liderará o conflito contra Israel e cujo líder é chamado de “Gogue”; Pérsia, que é o atual Irã; Meseque, que é o território que abrange atualmente o Cazaquistão (país de maioria muçulmana); Tubal, cuja área geográfica corresponde hoje aos países islâmicos do Afeganistão, Paquistão, Turcomenistão, Uzbequistão, Tajiquistão e Quirguistão; Gômer, que é a atual Ucrânia; Togarma, que é a atual Turquia; Pute, que é a atual Líbia; Cuxe, cujo território corresponde ao da Etiópia (país atualmente com 34% da população islâmica) e das nações islâmicas do Sudão, Eritreia e Somália; e Pute, que é a Líbia. Por tanto, pela profecia de Ezequiel 38, a Rússia (Magogue) liderará uma guerra contra Israel no final dos tempos, tendo como seus aliados nesse conflito a Ucrânia (Gômer), o Irã (Pérsia), a Turquia (Togarma), o Cazaquistão (Meseque) e a Líbia (Pute); a Etiópia, o Sudão, Eritreia e Somália (Cuxe); e o Afeganistão, o Paquistão, o Uzbequistão, o Turcomenistão e o Tajiquistão (Tubal). Lembrando que 7 desses 14 países que se unirão à Rússia no ataque a Israel são ex-repúblicas soviéticas. Outra curiosidade é que, excetuando Rússia, Ucrânia e Etiópia, todos os demais países dessa aliança são ou estados muçulmanos ou estados de maioria muçulmana.
As nações que aparecem em Ezequiel 38.13 protestando contra o ataque dessas nações a Israel são a Arábia Saudita, o Líbano e algumas nações ocidentais, já que “Sebá e Dedã” são cidades da Arábia Saudita; e “os mercadores de Társis e todos os seus leõezinhos” são, por sua vez, uma referência à Fenícia (“Társis”), hoje Líbano, e ao Ocidente, já que “todos os seus leõezinhos” são os países onde a Fenícia estabeleceu fundições, dentre eles Espanha e Inglaterra. “Társis”, cidade fundada pelos fenícios, significa “fundição”.
Alguns acreditam que ex-colônias inglesas (como Estados Unidos e Austrália) poderiam, por extensão, estar incluídas entre os ocidentais que protestarão contra a invasão de Israel, por causa da provável presença da Inglaterra na expressão“ e todos os seus leõezinhos”, mas isso talvez seja forçar o texto. A verdade é que o texto bíblico não apresenta claramente nem os Estados Unidos e nem a China – que hoje são as duas maiores potências econômicas do mundo – como tendo qualquer papel importante nos desdobramentos finais da história. O texto bíblico menciona apenas Israel, a União Europeia (representada pelos “pés de barro e ferro” da estátua da visão de Nabucodonosor, registrada no capítulo 2 de Daniel), a Rússia e os aliados russos no mundo islâmico.
Portanto, a agressão da Rússia contra a Ucrânia pode talvez significar o início da futura adesão do território ucraniano ao russo novamente ou pelo menos nos serve de lembrete para o dia em que, segundo as profecias bíblicas, a Rússia surpreenderá o mundo outra vez, desta vez liderando um ataque a Israel.
Por fim, lembremos que Deus governa a história, que “o Altíssimo domina sobre o reino dos homens e o dá a quem quer” (Daniel 4.32). Ressalta o patriarca Jó que “Deus engrandece as nações e depois as destrói; dispersa-as e de novo as congrega” (Jó 12.23). Além disso, lembremos também que, no final, todas as nações serão julgadas por Ele (Mateus 25.32). Isso é certo, porque Deus é Aquele que diz: “Anuncio o fim desde o princípio, e desde a antiguidade as coisas que ainda não sucederam; que digo: O meu conselho será firme, e farei toda a minha vontade” (Isaías 46.10).
Não importa o que aconteça, no final, as profecias e os planos de Deus serão cumpridos. Os governantes desejam e planejam várias coisas, mas isso não impede o cumprimento do que Deus vaticinou e determinou. A Bíblia afirma que “como ribeiros de águas assim é o coração do rei na mão do Senhor, que o inclina a todo o Seu querer” (Provérbios 21.1). Note: o texto bíblico não diz que Deus cria ou provoca esses “ribeiros”, que são os desejos e intentos do coração dos reis,mas, sim, que, quando eles surgem, Ele os direciona para a Sua vontade (“o inclina a todo o Seu querer”), o que significa que Deus aproveita os intentos e desejos dos reis para os canalizar para o cumprimento da Sua vontade, do Seu plano maior para a humanidade.
No final, tudo o que Deus vaticinou nas Escrituras se cumprirá, como Ele mesmo jurou: “O Senhor dos Exércitos jurou, dizendo: ‘Como pensei, assim será, e, como determinei, assim acontecerá’” (Isaías 14.24).
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