Missionário na Albânia fala sobre como é fazer missões em país muçulmano
A Albânia era conhecida como um país isolado dos demais na Europa desde que seus representantes optaram, no passado, pelo comunismo e erradicaram toda a manifestação religiosa de seu território. Quando a Constituição do país foi elaborada, as autoridades albanesas registraram em sua carta magna que o país seria declaradamente ateu. Foi para esse país, hoje com uma mescla de ateísmo e islamismo, que o pastor José de Anchieta Dias e sua família se deslocaram a fim de levar os albaneses aos pés de Cristo. Após enfrentar resistências por parte da comunidade muçulmana, José de Anchieta conseguiu desenvolver o projeto da Assembleia de Deus albanesa, com a conversão de famílias e outros nativos da região.
Casado com Nelimar Cardoso Guimarães Dias, com quem tem um casal de filhos, pastor Anchieta visitou a CPAD em 19 de janeiro, a fim de expor o projeto de uma literatura padrão para o ensino de Escola Dominical nas Assembleias de Deus da Albânia, ocasião em que o missionário concedeu entrevista ao jornal Mensageiro da Paz, relatando experiências do campo missionário.
A Albânia fazia parte do bloco comunista liderado pela extinta União Soviética, mas como está agora o panorama político na região?
Na verdade, a Albânia fez o primeiro acordo com a União Soviética, mas romperam anos depois a aliança com os russos. Mais tarde, eles se aproximaram dos chineses, mas também não deu certo. Assim, os albaneses formularam um regime próprio, através de um perfil comunista e isolado dos demais países. Hoje, a Albânia não é mais uma nação comunista e agora as autoridades trabalham para estabelecer uma democracia com um regime parlamentar.
É verdade que a Constituição albanesa exalta o ateísmo?
Os albaneses promulgaram uma Constituição na qual o país se declarava ateísta. Dessa forma, a Albânia se tornou o único país do mundo a ter em sua Constituição a seguinte mensagem: “Nós não cremos em Deus”.
O senhor enfrentou muita oposição pela influência do ateísmo?
O que aconteceu na Albânia é algo notável. Por muitos anos, o catolicismo dominou o panorama nacional, mais tarde os albaneses foram vassalos do Império Bizantino e, com isso, quase todo o sul da Albânia tornou-se ortodoxo. Finalmente, quando os turcos invadiram a Europa no século 16, a população acabou sendo islamizada pelos conquistadores. Mais tarde, na época da ditadura comunista, o regime erradicou todas as religiões, sob o falso argumento de que Deus não existe. Foi só em 1991 que o novo regime abriu espaço para os albaneses praticarem as religiões que desejassem. Enfrentei dificuldades porque fui trabalhar justamente em uma comunidade de maioria islâmica. Essas pessoas moravam nas montanhas e, mesmo se deslocando de uma região para outra, mantiveram a tradição milenar herdada dos seus antepassados, e isso aconteceu no regime comunista. O grande obstáculo que enfrentei foi o zelo religioso arraigado na cultura local. Hoje, a tolerância do governo possibilita aos cidadãos professar a religião que desejam. Há 20 anos, isso seria algo inimaginável pelo temor de sofrer represálias.
Onde o senhor começou o seu trabalho de evangelização?
Foi em uma região localizada na fronteira da província de Tirana, onde se situa a capital do país. Trata-se do bairro de Instituto. A localização geográfica desse bairro é adjacente a uma outra cidade.
Como foi o impacto sentido por sua família com a adaptação aos costumes do país?
Surgiram algumas dificuldades quanto à cultura e à língua, que é bem diferente do português. Confesso que foi um choque para todos nós, porque chegamos a pensar que não íamos aprender. Uma gama de fatores como a alimentação, o idioma e a religião fazem parte de um mesmo contexto social, e o início foi trabalhoso, devido ao modo de agir dos nativos, mas fomos para lá com o coração aberto e para tentar viver como qualquer cidadão albanês. Absorvemos o máximo que pudemos da cultura local até onde não comprometesse a doutrina cristã, e logo a introduzimos em nossa casa. Quando os albaneses nos visitam, eles afirmam que a nossa casa é semelhante a deles, e para nós, que somos missionários, é um bom sinal. Isso significa que temos o respeito da comunidade, que migramos para lá para viver como um deles, e não para mudar o modo de vida local. É importante que o nativo enxergue você como um deles. Se isso não acontecer, ninguém vai abrir o coração para a mensagem da qual você é portador. Ninguém abre o coração para um estranho.
Conte uma experiência que o marcou profundamente na Albânia.
No início de nossas atividades na Albânia, ninguém se convertia e começamos a orar por um milagre nesse sentido. Um dia em que estávamos jejuando, coloquei o nome de um rapaz chamado Aurélio no quadro e, de repente, ele entrou na igreja. Eu aproveitei a oportunidade e comecei a pregar para ele, o jovem não resistiu e chorou, entregando sua vida a Cristo. Ele disse que sua família também precisava ouvir a mensagem cristã, então fomos à sua casa, anunciei o Evangelho e sua mãe se converteu. Hoje, ela é membro de nossa igreja, e sua irmã e outros familiares também são crentes. Essa conversão foi importante porque foi em um momento em que não víamos os milagres acontecerem. A conversão desse rapaz impulsionou o trabalho da igreja. Logo, vimos as bênçãos de Deus sobre a vida do Aurélio.
A igreja do irmão entre os muçulmanos da Albânia possui quantos membros?
Temos cerca de 30 membros e 100 congregados, e estamos discipulando essas pessoas, até porque a forma de nós trabalharmos é diferente do que temos no Brasil. Normalmente, o trabalho de discipulado leva dois anos para ser concluído e o novo convertido desce às águas batismais quando está convicto de sua salvação mediante o Evangelho. Isso é necessário porque o albanês desenvolveu a cultura do engano e muitas vezes frequenta a igreja em busca de seus próprios interesses. Trabalhamos para ver os frutos e isso envolve tornar o convertido apto para se tornar membro da igreja.
Quais são os seus planos para o futuro da igreja na Albânia?
Temos o propósito de expandir a igreja e investirmos na liderança local. Dessa forma, vamos divulgar o Evangelho para outras áreas com pequenos núcleos.
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