Pastor Gessival Rui F. Barbosa

Líder da Assembleia de Deus em Ohta, no Japão, próxima ao local do devastador tsunami de março (2011), conta como à igreja reagiu à tragédia

Pastor Gessival Rui Freitas Barbosa, 44 anos, casado com a irmã Joelma Watanabe Barbosa, é pai de duas filhas e um genro, e mora há 19 anos no Japão. Durante esse tempo, testemunhou muitas situações, entre elas os horrores provocados pelo terremoto que se abateu no país em março deste ano. O “país dos samurais”, como é conhecido o Japão, célebre pelo desenvolvimento vertiginoso desde o término da Segunda Guerra Mundial e pelo zelo religioso e filosófico de sua população, ficou mergulhado no pânico e em meio aos escombros. Mas, se a desesperança passou a ser comum aos nativos, os membros da Assembleia de Deus no Estado de Guma, na cidade de Ohta, liderada pelo pastor Gessival há 16 anos, não esmoreceram diante da realidade e clamaram ao Senhor em busca de livramento e forças. Às orações foram respondidas e, hoje, a igreja experimenta notável crescimento, apesar das consequências da tragédia.

Pastor Gessival se lembra de como tomou conhecimento sobre a missão de Deus em sua vida. “Quando eu tinha a idade de nove anos, eu estava em um culto e duas missionárias disseram para mim sobre o chamado missionário, e que eu deveria guardar bem o que Deus estava me concedendo. Mais tarde, aos 19 anos, quando o Senhor batizou várias pessoas no Espírito Santo em um culto, uma criança de oito anos foi usada em profecia para mim, dizendo que eu me deslocaria para um país distante, de fala diferente. Aquela profecia foi o fator final que definiu o meu futuro como missionário”.

Nesta entrevista, concedida exclusivamente ao Mensageiro da Paz, pastor Gessival relata com detalhes como a igreja local se comportou em meio à dor e ao desespero, e como superou o medo instalado na sociedade. Também conta como transcorreu os festejos do Centenário da Assembleia de Deus brasileira entre as Assembleias de Deus brasileiras no Japão, sobre o crescimento da Assembleia de Deus em território japonês e sobre como Deus atendeu ao clamor da igreja quanto à nuvem radioativa que ameaçava as pessoas na região. 

Como transcorreu a comemoração do Centenário das Assembleias de Deus entre os crentes japoneses?

Foi uma festa abençoada, até porque festejamos os 98 e 99 anos da denominação também, nos anos anteriores. Dessa forma, já estávamos preparados para realizar um trabalho de ação de graças. Nós também consideramos no Japão os detalhes da história da nossa igreja no Brasil. No início dos trabalhos aqui, tivemos a visita do pastor José Wellington Bezerra da Costa. Dessa maneira, os crentes locais têm conhecimento de nossas origens e identidade, como também do trabalho de Missões que foi o fator preponderante que deu origem à nossa igreja. Foi uma atividade muito abençoada. Nessa ocasião, batizamos 14 pessoas nas águas, uma japonesa por nome Yuko foi batizada no Espírito Santo, e ela é considerada fruto desta missão. Também consagramos alguns obreiros para nos ajudar, entre presbíteros e evangelistas.

Como se encontra o Japão depois do terremoto?

Após a tragédia, passamos por algumas etapas. No calor do momento, a população ficou em pânico, e o que contribuiu para o clima de terror foi o risco de contaminação vindo da Usina Nuclear em Fukushima, mas depois que as autoridades evitaram esse perigo, o país ingressou no processo de recuperação, apesar do racionamento, a realocação das pessoas e a paralisação das fabricas por falta de energia elétrica e combustível. Hoje, eu posso dizer que a economia começa a se recuperar de forma lenta, e as pessoas estão recobrando o ânimo.

Qual foi a atitude da igreja em meio ao desastre?

Os crentes: permaneceram unidos, inclusive famílias procuraram abrigo nas dependências do templo para ficarem próximos de outras pessoas atingidas pelo tremor. Eu posso dizer que Deus nos socorreu. Quando o desespero tomou conta da sociedade e a usina nuclear foi abandonada pelos técnicos por causa da contaminação, na terça-feira, reuni 16 irmãos e clamamos ao Senhor. Naquele momento, pedimos que Ele “soprasse” dentro daquela usina e, assim, espalhasse para bem longe aquela fumaça contendo elementos radioativos, pois a presença do conteúdo tóxico já estava contaminando os reservatórios de água em Tóquio, por conseguinte, também a nossa cidade, pois estamos a 60 quilômetros da capital. Deus nos ouviu. No dia seguinte, foi divulgada a notícia de que um vento conduziu a fumaça para o mar. Glória a Deus!

Os prejuízos materiais e pessoais foram grandes para a igreja e seus membros?

Considero ser importante a preservação de nossas vidas e bens. Esse tremor foi sentido com mais intensidade em nossa região porque estamos a pouco mais de 300 quilômetros do ponto zero, mas o Senhor nos protegeu de uma forma muito especial. Mas, o maior livramento foi a nossa preservação da radiação. As autoridades disseram que a ameaça girava em torno dos níveis 4 e 5, porém, mais tarde, admitiram que chegou ao nível 7, que corresponde à tragédia ocorrida em 1986, na usina nuclear em Chernobyl, na Rússia. Isso significa que estávamos em meio ao perigo sem as devidas informações sobre a magnitude da tragédia, mas Deus nos guardou. Tomamos todas as medidas cabíveis. Testemunhei diversos casos de pessoas desesperançadas que abandonaram tudo e voltaram para o Brasil, além de igrejas que fecharam as suas portas durante o auge da crise na usina nuclear. Dessa forma, creio que o maior livramento foi a preservação da vida e do nosso ânimo, porque a igreja permaneceu confiante. Quando souberam que nossas orações foram atendidas, os irmãos se animaram. Também nos deslocamos ao local atingido com o carro cheio de suprimentos e atendemos até onde as autoridades nos permitiam chegar. Foi uma bênção. Vimos as mãos de Deus agirem. Enquanto trabalhávamos, dois brasileiros e dois japoneses se converteram a Cristo e iniciamos um trabalho evangelístico naquele lugar onde ocorreu a catástrofe. Eu dou glória a Deus por isso.

Como está o crescimento da igreja local, apesar das consequências do terremoto?

Para nós, os cristãos, quando chega a crise, acreditamos ser uma permissão divina com o objetivo de fazer com que nós utilizemos as armas espirituais confiadas a nós, conforme está registrado na Bíblia Sagrada. Em primeiro lugar, quero destacar a atuação do Espírito Santo em ajudar o crente, em sua trajetória, a superar os medos e temores, e nos orientar quando a situação está nebulosa. Mesmo quando as autoridades seculares não passam a devida segurança, sabemos que o Senhor está conosco. À igreja continua crescendo mesmo durante a crise, porque, neste contexto, muitas pessoas se voltam para Deus, depois de rever seus conceitos. Temos recebido pessoas convictas de que o caminho é Jesus. Outros fatores que permitem o crescimento é a fé depositada no Senhor e a manutenção de nossa identidade, até porque a nossa igreja nasceu sob a oração, em busca dos dons espirituais, e também na doutrina bíblica, e tudo isso preserva a nossa identidade como Igreja de Cristo na Terra.

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