Conheça os países onde a perseguição aos cristãos mais cresceu, de acordo com a Lista Mundial de Perseguição 2022 da Portas Abertas
No dia 19 de janeiro, a organização missionária Portas Abertas divulgou a Lista Mundial da Perseguição 2022, onde foi revelado que mais de 360 milhões de cristãos enfrentam pressão e violência ao redor do mundo por causa de sua fé, o que representa um aumento de cerca de 20 milhões em relação ao ano passado. Como explica a entidade, a Lista Mundial da Perseguição “é um relatório anual publicado pela Portas Abertas desde 1993 e que inclui um ranking dos 50 países onde os cristãos são mais perseguidos. Usado como principal ferramenta para monitorar a perseguição aos cristãos, o relatório é divulgado no início de cada ano com dados de especialistas em perseguição da Portas Abertas e de fontes externas”. Para definir o ranking de classificação dos países, o nível de hostilidade contra os cristãos em cada lugar é calculado com base no “conceito das esferas”, que indica a pressão enfrentada em cinco áreas, a saber: vida privada, família, comunidade, igreja e nação, bem como o número de incidentes violentos ocorridos.
Na edição deste ano, a listagem aponta, pela primeira vez na história, o Afeganistão como o país mais perigoso do mundo para um cristão viver. Em relação à Lista Mundial da Perseguição 2021, o país aumentou quatro pontos, atingindo a pontuação de 98, sendo 100 pontos o máximo. Por sua vez, a Coreia do Norte, que liderava a lista nos últimos 20 anos, também aumentou dois pontos em relação à edição anterior, mas ficou em 2º lugar na classificação.
Conforme destacado pela Portas Abertas, os países asiáticos são a maioria no ranking, com 29 países; depois vêm os africanos, com 18. A lista traz três países da América Latina. A perseguição aumentou em 23 países: 13 deles ficam na Ásia, nove na África e um na América Latina.
A pesquisa mostra ainda que a hostilidade aos cristãos reduziu em 18 nações, sendo 11 asiáticas, seis africanas e uma latino americana. Em sete países, dos quais cinco estão na Ásia e dois na África, os índices permaneceram os mesmos.
De acordo com o relatório, a nação que mais subiu posições na Lista de 2022 foi o Níger, que saltou da 54ª para a 33ª posição. Já a Indonésia saiu da 47ª posição para a 28ª posição, Cuba foi da 51ª para a 37ª, Catar foi do 29º lugar para o 18º e Butão saiu da 43ª colocação para a 34ª.
Também houve países que desceram posições na classificação. A Turquia desceu 17 posições, saindo do 25º lugar para o 42º.
Já o Egito foi do 16º lugar para o 20º, o Iraque foi do 11º para o 14º e a Síria caiu do 12º para o 15º.
A ofensiva do Talibã no Afeganistão
A ação militar dos guerrilheiros do Talibã ao conquistar o governo afegão ofereceu aos demais jihadistas espalhados pelo mundo afora o impulso que julgavam necessário na crença de que é possível o avanço do islamismo não apenas na Ásia, mas por todo o planeta. Especialistas na área política já constataram o fortalecimento do Talibã no vizinho Paquistão (8º na Lista Mundial da Perseguição 2022), diante dos festejos de grupos islâmicos e dos guerrilheiros ligados ao Jemah Islamiyah da Indonésia (28º), que bombardeou a capital Bali em 2002 e tem ligação com o Talibã.
No continente africano, os jihadistas costumam agir em países mergulhados no caos administrativo de governos corruptos. Os guerrilheiros enxergam esse panorama e contam os dias para testemunharem a retirada das tropas estrangeiras aquarteladas e que lhes oferecem resistência. O Al-Shabaab é um bom exemplo: os insurgentes têm lutado contra o governo somali e seus aliados das forças da União Africana ao longo da última década. A comunidade cristã regional não se desenvolve e se dispersa, o mesmo perfil de seus irmãos afegãos.
A África Subsaariana (parte do continente africano situada ao sul do Deserto do Saara) continua sendo palco de extrema violência aos cristãos locais. A perseguição se estende aos cristãos da República Democrática do Congo (40º), devastada pelos guerrilheiros da Aliança das Forças Democráticas, que é abertamente ligada ao Estado Islâmico. E a escalada da violência não pára: a República Centro-Africana (31º) e a Nigéria (7º) são consideradas duas das nações mais violentas para os cristãos. Enquanto era realizada a pesquisa da Lista Mundial da Perseguição (LMP), não restaram dúvidas de que a comunidade cristã ou outros grupos minoritários estão indefesos e sem contar com a segurança do governo federal nigeriano. Os sequestradores muçulmanos continuam a espalhar o terror nas universidades, escolas, igrejas e vilas; os líderes comunitários lidam com o medo todos os dias, pois ainda são alvos potenciais de sequestros, mortes e danos. Os extremistas da etnia fulani não ficam atrás no tocante a hostilidade àqueles que abandonaram Maomé para seguir a Cristo. Eles invadem aldeias e vilas a fim de espalhar a morte e a destruição de residências, dos rebanhos e de outros meios de subsistência.
Outros grupos, como o Boko Haram e o Estado Islâmico, também marcam presença no rastro de destruição e morte na Nigéria.
Os bolsões formados por jihadistas espalham-se no território de Moçambique (41º) e Camarões (44º) e em toda bacia do Lago Chade, que inclui a Nigéria, Chade e Sul do Níger; e no Sahel, que abrange Mali (24º), Burkina Faso (32º) e Oeste do Níger. Os especialistas disseram que cinco desses nove países subsaarianos não constavam na Lista Mundial da Perseguição 2014. O Chade encontra-se na posição 63, que é considerada parte da Lista de Países em Observação. O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) anunciou que cerca de 84 milhões de pessoas empreenderam fuga em 2021, seja em seu próprio território, ou — para 26 milhões de pessoas — pelo planeta. Centenas de milhares de cristãos são vítimas da hostilidade islâmica (região do Sahel) ou empreendem fuga de recrutamentos forçados (Eritreia – 6º), conflitos civis (Sudão – 13º), repressão do Estado (Irã – 9º) e perseguição movida pelos próprios familiares. Geralmente, as mulheres cristãs são as que mais sofrem com os abusos sofridos pelos radicais. As vítimas relatam os estupros como a principal maneira de intimidá-las. Os pesquisadores da Lista Mundial da Perseguição receberam testemunhos de abuso sexual, escravidão sexual, assédio, dentre outras humilhações perpetradas contra mulheres e crianças nos campos de refugiados. A pobreza e insegurança são os principais fatores que levam as mais vulneráveis a optar pela prostituição a fim de mitigar a fome.
No caso específico do Afeganistão (1º), quando o Talibã tomou o poder no país em 2021, os cristãos residentes lá manifestaram temor no aumento da perseguição. Compartilhando testemunhos por meio de contato com a SAT-7 Brasil, muitos deles se manifestaram. Uma adolescente cristã por nome fictício de Nisha (por questão de segurança) disse: “Eu sou uma afegã e vivo no Afeganistão no momento. As pessoas estão apavoradas, todos têm medo e medo do Talibã. Tenho apenas 16 anos e não aguento o que está acontecendo ao meu redor. Estou clamando a Deus agora; alguém, por favor, nos ajude. A situação da minha família é muito ruim”. Ameaçado de morte, um cristão anônimo convertido com a família a cerca de dois anos compartilhou: “No cristianismo você pode ver e sentir claramente paz, confiança e aceitação. Infelizmente, devido à falta de segurança, não podemos compartilhar o Evangelho livremente com o povo do Afeganistão. Como cristãos, corremos perigo real. Por um bom tempo, convidei meus parentes e pessoas próximas a mim para conhecer a Cristo, mas, infelizmente, nos últimos dois ou três dias, eu e minha família recebemos ameaças de morte. Nesta situação de emergência, não tenho outra maneira a não ser fugir do país. Por favor, seja a nossa voz, por favor, ajude-nos a ser ouvidos para que possamos fugir deste inferno o mais rápido possível”. Há um ano servindo a Cristo, Jahan (nome fictício) disse que a situação de Cabul estava terrível na ocasião e pediu ajuda: “Por favor, nos ajude! A vida da minha filha e a minha estão em perigo [...] Minha filha tem oito anos. Ela não tem mais ninguém, exceto eu [...] foi muito difícil encontrar um telefone para entrar em contato com vocês. Gostaria de fugir a um lugar aonde ir à Igreja fosse permitido e com liberdade, para que eu e minha filha pudéssemos servir ao Senhor”.
Uma das “novidades” da lista de 2022 é a presença do Níger, que figurava na posição de número 54 em 2021. Ocupando a posição 33, o país é “de maioria muçulmana e já foi conhecido por promover a harmonia entre as religiões”. Sobre as razões do país ter entrado no “Top 50 da Lista Mundial da Perseguição 2022”, cita a Portas Abertas: “A maioria da população considera o islamismo como uma herança étnica, logo, se você é nigerino também é muçulmano. Por isso, os cristãos ex-muçulmanos estão mais vulneráveis à perseguição e enfrentam intensa pressão da família e da comunidade para renunciar à fé em Jesus. As comunidades cristãs históricas têm permissão para praticar a fé em particular. Porém, em regiões sob controle islâmico, os seguidores de Jesus devem se reunir com cautela devido à violência de grupos militantes”.
Autoritarismo comunista
Não é apenas nos países onde o islamismo impera que os cristãos são extremamente perseguidos. Os regimes comunistas perpetram perseguição tanto quanto e às vezes até pior.
Governada pelo Partido Comunista desde 1959, Cuba busca controlar a igreja de acordo com a ideologia comunista. Em 2021, o país estava fora da Lista Mundial da Perseguição, pois figurava na 51ª posição, já em 2022, na Lista, sua posição é a 37ª. Segundo a Portas Abertas “O governo reage duramente contra vozes opositoras e manifestantes, então, quando líderes de igrejas ou ativistas cristãos criticam o regime, enfrentam prisão, fechamento de igrejas ou negócios e assédio do governo e de seus simpatizantes. O registro para novas igrejas com frequência é negado, já que as autoridades querem controlar e limitar a influência da igreja. O governo controla todas as mídias e restringe o acesso ao mundo exterior, então é muito difícil para os cristãos se comunicarem no país”.
Em 2021, o pastor Moisés La Prada, presidente da Assembleia de Deus em Cuba, publicou um vídeo em suas redes sociais pedindo ao povo para clamar pelo país. O líder dirigiu-se ao povo cristão e também ao povo cubano, segundo ele, “com muita tristeza e dor”, ao ver o Estado reprimindo a voz da população em seus protestos pacíficos pelo fim da ditadura comunista. “O desespero, a crise de medicamentos e de alimentos, a falta de expressão, de diálogo diáfano, transparente, tem levado o povo a levantar a voz, e ele necessita ser escutado”, disse. Citando as Escrituras em sua fala, acrescentou Moisés: “... sabemos que as Escrituras dizem ‘tende amor uns para com os outros, porque o amor cobrirá a multidão de peca dos’. Estamos pedindo para cessar a repressão. Estamos pedindo para cessar as hostilidades. Chamamos as autoridades e o povo à sanidade. A violência gera violência e os resultados são nefastos. E depois não poderemos olharmos para nós mesmos. Somos todos pais, mães, filhos, avós, tios, primos, somos parentes, de maneira que cada cubano que cai deve nos causar profunda dor. A Igreja deve clamar com dor, com quebrantamento. Oremos ao Trono da Graça para que nos responda. Como Habacuque em seu desespero, digamos: ‘Até quando, Senhor, clamarei eu e tu não escutarás? Gritar-te-ei: Violência! e não salvarás?’. Creio que o Senhor está escutando o clamor de Seus filhos. O Senhor está ouvindo o clamor e o gemido de Sua Igreja, que está com os joelhos dobrados pedindo a Deus uma intervenção divina, poderosa, sobre a nossa nação. Igreja! Igreja! Clama com dores por Cuba! Clama com dores por Cuba! E deixemos o resultado com o Senhor. Deus te abençoe. Deus te guarde”.
Ocupante da primeira posição da lista dos países que mais perseguem cristãos por 20 anos, a Coreia do Norte continua sendo um lugar perigoso para se professar a fé cristã. O fato de ter caído para a segunda posição, ficando atrás do Afeganistão, pode dar a ideia de que por lá as coisas ficaram fáceis para quem quer professar a fé em Jesus, mas não foi isto que aconteceu. Tanto é que seu nível de perseguição aumentou em dois pontos, passando de 94 para 96, em uma escala de 100. Os riscos imediatos aos cristãos no Estado comunista da Coreia do Norte são de prisão, tortura e morte. “Estima-se que 50 a 70 mil cristãos estão nas prisões e em campos de trabalho forçado. Familiares dos seguidores de Jesus costumam ter o mesmo destino dos capturados, porque são considerados um perigo para o país governado pela família Kim. Todas as igrejas são pequenas e secretas”.
Embora tenha permanecido na posição de número 17 na lista de 2022, aparentando estar estável a situação para os cristãos no país, a comunista China impõe sua ideologia com vigilância considerada “entre as mais opressivas e sofisticadas do mundo”. O Partido Comunista Chinês monitora rigorosamente a participação nas igrejas e muitas delas estão sendo fechadas, “sejam elas independentes ou parte do Movimento Patriótico das Três Autonomias (igreja protestante oficialmente sancionada pelo Estado na China)”. De acordo com a Portas Abertas, “permanece ilegal para menores de 18 anos frequentarem a igreja” na China. “Todos os locais de encontro tiveram que fechar durante a crise da COVID-19, mas algumas igrejas foram forçadas a permanecerem fechadas, mesmo quando as restrições começaram a afrouxar”.
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