Radicais usam revoltas no mundo árabe para tomar o poder e acelerar projeto de Califado para a chegada de seu messias — "Mahdi"
Entre os eventos que foram descritos por Jesus como fazendo parte dos sinais do afunilamento da História estão as “guerras e revoluções” profetizadas por Ele em seu Sermão Profético, como lemos em Lucas 21.9. No século 20, o mundo vivenciou várias revoluções, e o ano de 2011 já começou com uma onda de revoluções no mundo árabe, conduzidas em sua esmagadora maioria por fundamentalistas islâmicos. É o que se viu no Egito, no Iêmen, no Bahrein e até mesmo na Arábia Saudita, onde se ensaiou uma revolução. E nos países onde reina o fundamentalismo islâmico? Em pelo menos dois deles também houve revoltas — Irá e Síria —, mas em menor monta, tendo sido rapidamente abafadas.
No Irá, vimos algumas dezenas de pessoas nas ruas, todas não-radicais (os radicais é que estão no poder), mas que foram rapidamente esmagadas pelo governo xiita. Na Síria, uma das mais sangrentas ditaduras islâmicas do mundo, também um pequeno grupo saiu às ruas, mas o movimento não deu em nada. Enquanto isso, o norte da África e o Oriente Médio estão vivendo um momento de bulício, agitação, movimentos e revoltas. E o que pouca gente se dá conta é que o principal pano de fundo dessas revoltas no Oriente Médio é um projeto que une as correntes islâmicas: a ressurreição e expansão do Califado Universal.
O que é o projeto do Califado Universal?
O termo “califi” é usado pelo Islã para se referir ao líder supremo do islamismo no mundo. Califa vem do árabe “khalifa", que significa “representante” ou “sucessor” — no caso, sucessor do profeta Maomé. O termo foi usado pela primeira vez pelo sogro de Maomé, Abu Bakr, que sucedeu seu genro famoso como líder da “Ummah” no ano 632, ano da morte de Maomé. “Ummah” é a “comunidade do Islã”. Originalmente, o califa era escolhido sempre após uma eleição realizada entre os membros da “Majlis al Ummah”, um órgão islâmico que congregava as principais lideranças das províncias do Islã. Porém, em 661, o cargo passou a ser hereditário, depois de um golpe que deixou o referido órgão em segundo plano. Outro golpe aconteceu em 750, quando a capital do Califado foi transferida de Damasco para Bagdá. Aproximadamente 200 anos depois, o Califado se dividiu em dois e, mais à frente, em três, até deixar de existir. Entretanto, no final do 12º século, Saladino, o famoso sultão do Egito, restaurou o Califado por meio de alianças entre os Estados islâmicos, e reiniciou o processo de expansão do Islã no mundo, que havia vivido uma Era de Ouro nos anos de 650 a 1050.
Foi só com o fim do Império Otomano em 1924, que deu lugar à República da Turquia, que o Califado desapareceu. Porém, desde 1928, ano de fundação da Irmandade (ou Fraternidade) Muçulmana no Egito, organização que tem braços em todos os países islâmicos do mundo, o projeto do Califado Universal voltou a ser acalentado no islamismo, e muitos muçulmanos acreditam que, com o avanço do Islã na Europa e essas revoltas no mundo árabe, o Califado pode não apenas retornar, mas também ressurgir com muito mais poder que antes.
O projeto do Califado Universal é hoje defendido não apenas pela Irmandade Muçulmana, mas também pelas principais lideranças religiosas dos países islâmicos e até mesmo por alguns governos de países muçulmanos. Ele consiste na ascensão do fundamentalismo islâmico em todos os países muçulmanos, com aplicação irrestrita da Sharia (lei islâmica) nesses países, e na expansão desse califado a outros países.
E quem seria o califa?
O islamismo espera a chegada de “Mahdi”, o seu messias, que assumiria o Califado Universal e guiaria o islamismo a uma segunda Idade de Ouro. Nos últimos anos, vários líderes religiosos islâmicos têm orientado o mundo muçulmano a se preparar para o advento de Mahdi. Em agosto de 2009, por exemplo, o líder máximo do Irã, Ali Khamenei, foi um dos que conclamaram os muçulmanos em todo o mundo a “se prepararem para a chegada do Mahdi” brevemente. Ele disse na ocasião que “os países muçulmanos devem se unir para receberem Mahdi nos próximos anos”.
As primeiras tentativas do Califado Universal
O Islã já teve outras tentativas de implantar o Califado Universal. À primeira se deu de 650 a 1050, época denominada pelo islamismo como a Idade (ou Era) de Ouro do Islã.
Em 634, apenas dois anos após a morte de Maomé em Meca, os muçulmanos, sob o califa Abu Bakr, tomaram Damasco; e em 641, também o restante da Síria e, por tabela, Jerusalém. E foram além. Ainda no sétimo século, tomaram a Mesopotâmia, a Pérsia e o Egito. No século oitavo, já haviam igualmente caído, sob o exército do Islã, Iêmen, Omã, Líbia, Tunísia, Argélia, Marrocos, Mauritânia e Saara Ocidental, algumas dessas regiões até então pertencentes ao Império Bizantino.
Em 711, o exército islâmico invade a Europa, conquistando Espanha e Portugal, e só não invadem a França mais à frente porque os francos contra-atacam, detendo e fazendo retroceder a nuvem islâmica na Europa, o que faz com que a expansão islâmica se volte tão somente para o Oriente.
Em 751, os muçulmanos tomam da China o Turquestão, e não param. Nos 300 anos seguintes, além de subjugar totalmente o Irã, subjugam o Afeganistão, o norte da Índia, a Malásia, a Indonésia e a ilha de Mindanao, no sul das Filipinas. Assim, em apenas quatro séculos (de 650 a 1050), o Islã já dominava uma parte considerável do mundo, tanto em termos de extensão de terra como em termos de quantidade da população: são milhões de pessoas islamizadas.
Sobre essas conquistas, o célebre historiador católico Henri Pirenne (1862-1935) afirma: “A conquista árabe, que se desencadeou ao mesmo tempo sobre a Europa e a Ásia, foi sem precedentes. Pode-se comparar com a rapidez das conquistas de Átila, Gengis Khan ou Tamerlão. Mas estes últimos foram tão efêmeros quanto a conquista do Islã foi duradoura”. Nos anos seguintes à Idade do Ouro, o Islã sofreria algumas derrotas. Porém, não demoraria muito para surgir a segunda tentativa de implantar o Califado Universal.
O ano de 1453 é marcado pela segunda expansão islâmica, maior ainda que a precedente: o Império Otomano. Naquele ano cai Constantinopla, pondo fim ao Império Bizantino, Os Otomanos conquistaram a maior parte da Europa Oriental e quase todo o mundo árabe. Tiveram o seu apogeu com Suleiman, o Magnífico, cujas hostes alcançaram a Hungria e a Áustria. Como no primeiro período da expansão islâmica, os otomanos fundaram um império sobre o território europeu. O Império durou seis séculos e só acabou com a Primeira Guerra Mundial. Como consequência, em 1924, desaparece o Califado. Porém, o projeto do novo Califado Universal, segundo as principais lideranças islâmicas do mundo, está em andamento.
Califado Universal?
Em 2005, o jornalista jordaniano Fouad Hussein chamou a atenção do mundo ao entrevistar Abu Musab Al-Zargawi (1966-2006), então um dos líderes do grupo terrorista islâmico Al-Qaeda (responsável pelos atentados de 11 de setembro de 2001 nos EUA). Al-Zarqawi era o segundo no comando do grupo, abaixo apenas de Osama Bin Laden. Hussein o entrevistou para a confecção do seu livro “Al-Zargawi — AlQaedas Second Generation” (“Al-Zargawi — À segunda geração da Al-Qaeda”), publicado no mesmo ano. Nele, revela um plano em sete etapas para a dominação do mundo pelo Islã, restituindo o Califado Universal. O conteúdo da entrevista foi matéria em vários jornais do mundo em agosto de 2005.
Esse projeto revelado por AlZargawi para resgatar o Califado Universal foi elaborado pela Al-Qaeda, mas, logo que divulgado, foi endossado, na maior parte do seu conteúdo, pela Irmandade Muçulmana e demais movimentos políticos, religiosos ou terroristas do fundamentalismo islâmico mundial. Segundo Al-Zargawi, o plano consiste nas seguintes fases:
FASE 1 — Denominada “despertar”, era assim chamada porque seu objetivo era despertar a consciência islâmica através dos ataques de 11 de setembro de 2001 para provocar os Estados Unidos a declarar guerra ao Islã e mobilizar o radicalismo.
FASE 2 — “Abrir os olhos” — O objetivo era abrir os olhos do Islã para a “conspiração ocidental” contra a “Ummah” — a comunidade islâmica. Deveria durar até 2006.
FASE 3 — “Despertar e levantar” — Realizar série de ataques à Turquia e outros Estados árabes seculares, além de Israel 2006-2010.
FASE 4 — 2010-2013 — Provocar a queda dos regimes árabes odiados, especialmente a Arábia Saudita, aliada e fornecedora de petróleo aos EUA. Outros Estados laicos como Jordânia e Egito também seriam alvos. Também seria usado terrorismo cibernético contra os EUA e o Ocidente. Essa fase é a que estaria agora em execução.
FASE 5 — “Califado” - À declaração do ressurgimento do Califado, inicialmente na área original da primeira expansão, mas “já com o Ocidente de joelhos”. Essa fase deverá se dar, no cronograma divulgado por Al-Zargavwi, de 2013 a 2016.
FASE 6 - “Confronto total” — Entre “fiéis e infiéis”. Com data para iniciar em 2016.
FASE 7 — “Vitória definitiva” — Estimam que deverá acontecer em 2020.
Segundo o projeto do Califado Universal, o único conflito interno no mundo muçulmano que poderá impedir que o Califado ressurja é o conflito entre a Arábia Saudita sunita e o Irá xiita.
“Eventuais conflitos de interesses entre os governos nacionais e o objetivo maior do Califado Universal acabam sempre resolvidos em favor deste último, que embora só exista atualmente como ideal tem sua autoridade simbólica fundada em mandamentos corânicos que nenhum governo islâmico ousaria contrariar de frente. Nos vários países do complexo islâmico, a autoridade do governante depende substancialmente da aprovação da “Ummal' — a comunidade multitudinária dos intérpretes categorizados da religião tradicional. Embora haja ali uma grande variedade de situações internas, não é exagerado descrever como teocrática a estrutura do poder dominante. Divergências produzidas por choques de interesses nacionais (como por exemplo entre o Irã e a Arábia Saudita) não têm sido suficientes para abrir feridas insanáveis na unidade do projeto islâmico de longo prazo. À Fraternidade Islâmica, condutora maior do processo, é uma organização transnacional: ela governa alguns países, em outros está na oposição, mas sua influência é onipresente no mundo islâmico”, afirmou recentemente o filósofo e polemista brasileiro Olavo de Carvalho, em um debate realizado em março com o filósofo político Alexander Duguin, conhecido por ser o mentor político de Vladmir Putin, primeiro-ministro da Rússia.
Crescimento islâmico no mundo
Como se não bastasse tudo isso, o instituto de pesquisas norte-americano Pew Research Center divulgou, em 27 de janeiro, que o número de muçulmanos no mundo deve aumentar cerca de 35% nos próximos 20 anos, ultrapassando os atuais 1,6 bilhão para 2,2 bilhões até 2030. Os coordenadores da pesquisa afirmam que, no mesmo período, a população islâmica no mundo vai crescer cerca de duas vezes mais que as das outras religiões, atingindo uma taxa média de crescimento anual de 1,5%, em comparação com 0,7% para os não-muçulmanos. Outros dados da pesquisa indicam que, no continente americano, a projeção é de haver um aumento do número de seguidores de Maomé dos atuais 5,2 milhões para aproximadamente 11 milhões dentro de 20 anos. No Brasil, o aumento é moderado, de 204 mil para 227 mil, cerca de 0,1% da população. O país está situado no grupo de 105 países do mundo com menos de 1% de muçulmanos. Por outro lado, existem 32 países em que mais de 90% da população é islâmica. Às estimativas apontam que, em 2030, serão 33; entre os países está o Marrocos, que encabeça a lista com 99,9%, seguido de perto por Afeganistão e Tunísia, com 99,8%. Na Palestina, 97,5% de seus habitantes professam o islamismo.
O projeto The Pew-Templeton Global Religious Futures (“O Futuro das Religiões Globais”) analisa as transformações por que passam as religiões e o que isso pode representar para as sociedades por todo o planeta. Os métodos utilizados incluem técnicas de ciências sociais como pesquisas de opinião, análises demográficas e políticas.
Lembrando ainda que a Europa já sofre um processo paulatino de islamização, que já foi matéria de capa do MP. Segundo especialistas, se continuar no ritmo em que está, em 2040, a maioria da população europeia será de muçulmanos. Assim, a Europa terá deixado ser Europa para se tornar “Eurábia”. É verdade que alguns países, como a Alemanha, têm tentado resistir a isso, procurando resgatar os valores cristãos no país.
Na Alemanha, e agora também na Inglaterra, já se fala em abolir a tese do multiculturalismo, adotada nos países europeus nas últimas décadas, para resgatar os valores ocidentais no continente. David Cameron, primeiro-ministro inglês, e Angela Merkel, da Alemanha, têm adotado esse discurso nos últimos meses. Mesmo assim, o quadro não deixa de ser ainda complicado, pois há também quem defenda mais multiculturalismo e outros, mais radicais, o extremo oposto: manifestam-se em favor de um movimento anti-religioso, de censura à religião de forma geral na sociedade.
O que vemos hoje no Ocidente? De um lado, uma onda anti-Israel, tanto islâmica (principalmente) quanto secular; de outro, um movimento anti-Deus; e de mais outro, uma miscelânea relativista pós-moderna. Acompanhemos esse processo com atenção.
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