Ora, o texto de Gênesis não tem absolutamente nada a ver com a escravidão a qual foram submetidos os povos negros da África. Para começar, o texto bíblico afirma que a maldição de Noé recaiu única e exclusivamente sobre Canaã, filho de Cão, de quem os negros não descendem. Os povos negros da África e os etíopes são descendentes de outros dois filhos de Cão: Cuxe e Pure (Gênesis 10.6). De Mizraim, o outro de seus quatro filhos, descendem 0s egípcios; e de Canaã, que foi quem recebeu a maldição, descendem os cananeus que habitaram a região hoje conhecida como Palestina.
O cumprimento da maldição de Noé sobre Canaã aconteceu por volta de 1400 a.C., quando Israel, sob o comando de Josué, venceu os cananeus na luta pelo estabelecimento do povo hebreu naquela região (Josué 9.23; 1 Reis 9.21), e também na conquista da Fenícia e dos demais povos cananeus pelos persas. Aliás, os cananeus não só foram vencidos como já foram totalmente extintos.
Como os judeus são semitas, isto é, descendentes de Sem, daí segue-se o cumprimento da profecia de Gênesis 9.26, de que Canaã serviria Sem. E como os persas foram descendentes de Jafé por meio de seu filho Madai, daí segue-se o cumprimento também da profecia seguinte, de Gênesis 9.27, que afirma que Canaã também serviria Jafé.
E não adianta nem usar como argumento o fato de que de Jafé descendem igualmente os povos indo-europeus (os povos da Europa, América, Índia e Oceania), porque mesmo assim permanece um problema gravíssimo para quem tentar usar esse texto para explicar a escravidão: os negros da África não descendem de Canaã; quem descende de Canaã são os cananeus. Aliás, eles são assim chamados justamente porque descendem dele.
Portanto, só há uma forma de interpretar o texto de Gênesis 9.27 — ele se refere aos persas, descendentes de Madai, filho de Jafé, que subjugaram os cananeus. Não existe outra hipótese. Tentar dizer o contrário é desrespeitar o texto bíblico, é distorcê-lo gritantemente.
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