As marcas do leopardo: lições da imutabilidade

Judá era, àquele tempo, o único reino restante aos descendentes de Abraão na Terra Prometida. Israel caíra e, em breve, Jeoaquim, a rainha-mãe e, com eles, o remanescente do trono de Davi seriam punidos com o cativeiro. Tão longe foram em seus delitos e tão resistentes à necessidade de um arrependimento nacional que são advertidos sobre a impossibilidade de uma transformação à parte de um severo castigo. O tempo aqui referido foram os dias do proclamador Jeremias, e a constatação de que o Senhor faria punir a teimosia de seus filhos está descrita no capítulo treze do livro do profeta: “Quando, pois, dissestes no teu coração: Por que me sobrevieram estas coisas? Pela multidão das tuas maldades se descobriram as tuas fraldas, e os teus calcanhares sofrem violentamente. Pode o etíope mudar a sua pele ou o leopardo as suas manchas? Nesse caso também vós podereis fazer o bem, sendo ensinados a fazer o mal” (Jeremias 13.22 e 23 – grifo nosso). Estava claro –o ensino do mal fora demasiadamente longe no coração do povo, de tal maneira que o ensino do bem não lhes afetava mais – apenas a mão do Senhor, agindo de forma poderosa, humilhando os soberbos e fazendo-os sentir na carne o preço pago por um coração corrompido os levaria de volta ao caminho do arrependimento e da esperada conversão.

Pintas de leopardo são as marcas que o animal não pode alterar. Deus os fez assim. Assim foram criados. Como culpar o leopardo por aquilo que não decidiu possuir? Ter pintas faz parte da essência saudável do leopardo. Pela palavra sabemos que não faz parte do leopardo, por exemplo, a agressividade; esta foi-lhe agregada após a queda do homem quando, gradativa ou imediatamente, os animais deixaram seus hábitos herbívoros e, consequentemente, desenvolveram habilidades relativas ao ato de caçar, como velocidade, dissimulação e força de impulso agressivo, para obterem sucesso e alcançarem a presa. Isaías nos diz, referindo-se ao milênio de Cristo, que o leopardo e o cabrito de deitarão Juntos (11.6), prova de que os animais voltarão aos costumes do início, conforme sua natureza, dada na Criação, requer. O que faz o leopardo querer aquilo que não carrega em sua essência nada mais é do que o pecado, pois, quando o homem, coroa da Criação, muda seu próprio agir, todo o restante desequilibra-se, transtorna-se e degenera. Pela graça misericordiosa do Altíssimo, por mais longe que as criaturas tenham ido, ainda é possível a regeneração curadora, onde tudo o que difere da ordem inicial dada será removido, donde se vê que as pintas do leopardo permanecerão. Preparemo-nos para contemplar a bela pele manchada desses felinos nos dias do reino milenial, pois ela estará lá, exaltando a sabedoria do Criador.

A meditação leva a um impasse: se as manchas são da ordem da imutabilidade, como seria possível a redenção de Israel? Somente uma nova observação do texto nos responderá. Sucessivas vezes o Senhor detalhou a forma de conduta que exigia de seus filhos, ressaltando que a desobediência levaria a dores; vezes seguidas instou com Israel para que Lhe desse ouvidos. No entanto, a advertência soou como falácia e o aviso foi minimizado pelos – esses sim mentirosos – ensinos contrários. O povo aprendeu que pecar e viver no pecado não leva a qualquer resultado ruim. O falso ensino os embriagou e, embalados pelo cântico maligno que lhes dizia “mal algum lhes sucederá”, embrenharam-se na escuridão que a resistência ao verdadeiro ensino traz. Mudar isso seria impossível aos homens. O mal entranhara de tal maneira no coração dos do povo da aliança que se poderia comparar àquilo que faz parte do ser. Assim como o Etíope não poderia mudar sua pele, da mesma impossibilidade sofria Israel, não possuindo condição para alterar seu estado. O etíope, contudo, pode levantar a voz e dizer: “Deus me fez assim, maravilhosamente escuro; sou como o ébano, tenho um toque da noite em mim e proclamo o Criador no brilho que trago em minha tez”. Judá, a parte restante dos filhos de Israel como nação livre naqueles dias, somente podia  declarar: “Não fui feito assim, mas tornou-me assim o distanciamento do meu amado Pastor; desviei-me e manchei-me e não há glória ou brilho nas manchas que trago; ostento minha vergonha em minha pele e não posso mudar. Salva-me, Senhor, pois não está em mim a possibilidade da transformação”.

Dessa forma, compreendemos a comparação que fez Jeremias. Israel distanciara-se de tal maneira que assemelhava-se ao estado do ser criado diante das características que tem. O pecado entranhara-se de maneira profunda a ponto de parecer fazer parte do povo. Da mesma forma que não há no leopardo poder para alterar seu aspecto, não estava mais em Israel a condição de, por boas e acertadas decisões, alterar o curso de sua vida. Somente Deus detinha o poder para operar profundamente, restaurando para si um povo de adoradores, ainda que lhes fosse necessário passar pela destruição. Jeovah era e é a esperança de Israel para a remoção de tudo aquilo que se lhe apegou mas não faz parte do propósito divino.

Por, Sara Alice Cavalcante.

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